O neurocientista Miguel Nicolelis, ele próprio um futurologista de mão cheia, só não tem paciência com um tipo de ideia futurista: a de que os computadores acabarão desenvolvendo uma mente que replicaria a do homem. "O cérebro humano não é computável, não dá para simulá-lo com um algoritmo [lista de expressões matemáticas]", diz Nicolelis.
Ele se arrisca a prever que nenhum avanço teórico ou tecnológico vai mudar isso. "É quase como a velocidade da luz na física", compara: um limite que, por definição, não pode ser ultrapassado. Em "Muito Além do Nosso Eu", livro de divulgação científica do pesquisador que está chegando agora ao Brasil, Nicolelis explica o porquê: o cérebro, diz ele, tem um ponto de vista, diferentemente das máquinas de silício. Para o brasileiro, o órgão cria ativamente o mundo que percebemos, em vez de recebê-lo passivamente pelos sentidos. Estaria mais para simulador de realidade virtual do que para câmera digital.
O paulistano de 50 anos, líder do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, participa na próxima quarta-feira do projeto Fronteiras do Pensamento, em São Paulo. Na obra, ele volta a detalhar seu antigo sonho: fazer um paraplégico voltar a andar usando apenas a força do pensamento. O desejo pode virar realidade graças às chamadas interfaces cérebro-máquina, uma tecnologia que ele ajudou a desenvolver. Nesse tipo de sistema, é possível "ler" a atividade elétrica de dezenas ou centenas de neurônios e traduzir esses sinais em instruções para mexer um membro robótico, ou mesmo, em tese, um exoesqueleto robotizado inteiro.
Formas embrionárias do conceito já funcionaram em ratos, macacos e humanos. Nicolelis, contudo, acha que é possível ir além. Nada impede que pessoas normais estendam o alcance de seus sentidos se conectando à distância com máquinas.
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