É interessante ler o relato desses dois franceses. Eles falam da paisagem cheia de pequenos vales, de bananais, de um rio que é costeado pelo trem lentamente. Falam de Tiradentes, o herói da nossa Inconfidência, que deu o nome à cidade que se esconde no verde, à margem do Caminho Velho, a velha estrada do ouro. Grande rota mística do Brasil, essa estrada cederá caminho mais tarde à via do progresso. A partir da segunda metade do século 19 o trem se torna um símbolo planetário de modernidade. Em 1874 é inaugurada a Estrada de Ferro Leopoldina, a décima-terceira via férrea construída no Brasil.
Em 30 de setembro de 1880 chega enfim a vez da ferrovia de Minas Gerais, que liga as cidades de Antonio Carlos, próxima de Barbacena, e Barroso. Na época, o traçado de uma ferrovia envolvia prestígio, e os habitantes de S. João del Rei ficaram furiosos porque haviam sido esquecidos pelo "trem das minas" e se lançaram em uma campanha para serem por ele atendidos. Seus esforços foram compensados, um ano depois da inauguração da ferrovia a sede da companhia se instala em S. João del Rei -- todos os escritórios das outras ferrovias estavam sediados no Rio de Janeiro. Como resultado, a Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) é considerada a primeira companhia autenticamente mineira.
A ferrovia de S. João del Rei possui características particulares. A bitola é tão estreita -- 73 cm -- que é chamada carinhosamente de bitolinha pelos brasileiros. Quilômetro por quilômetro a EFOM acabou por formar uma malha de 602 km através de todo o Estado, até formar o embrião daquilo que se tornaria a Ferrovia Centro-Atlântica, a malha ferroviária de todo o Brasil Central. Mas, em 1996 os trens foram privatizados e vários deles desapareceram, exceto o Maria Fumaça, que jamais deixou de circular, mesmo levando quase uma hora para percorrer os 12 km que separam S. João del Rei de Tiradentes.
O trem Maria Fumaça na estação de Tiradentes (Foto: Patrick Bard).
Uma fiscal do trem Maria Fumaça (Foto: Patrick Bard).
Um maquinista do trem Maria Fumaça (Foto: Patrick Bard).
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