Um novo conjunto de relatórios divulgados nos EUA mostra que a política federal de testes de produtos químicos negligencia a saúde dos seios.
O último quarto de século ensinou à ciência algumas novidades sobre os seios. Por um lado, eles parecem estar surgindo mais cedo nas meninas, com possíveis consequência sobre o câncer de seio mais tarde. Por outro lado, o modo como crescem e se desenvolvem varia de mulher para mulher e, se as cobaias de laboratório servem como qualquer indício, a exposição normal a produtos químicos comerciais pode alterar esse processo. E esse seio humano é mais vulnerável do que se pensava. Dados de sobreviventes das bombas atômicas no Japão mostram que foram as adolescentes próximas às explosões, e não as mulheres adultas, que tiveram mais propensão de desenvolver câncer de mama anos mais tarde. Desde então, têm havido dados similares sobre garotas submetidas a raios-X e terapia de radiação médicos, assim como pesquisas mostrando que o pesticida DDT -- agora proibido, mas muito difundido nos anos 1950 e 1960 -- são associados com um risco maior de câncer de seio nas mulheres quando elas se expõem ao serem garotas.
Diante disso, é surpreendente que as agências federais (americanas) responsáveis pela saúde pública não levam em conta, rotineiramente, a exposição na infância quando testam se produtos químicos comerciais causam tumores mamários. Na realidade, em muitos testes com cobaias em laboratórios elas sequer se preocupam definitivamente em examinar a glândula mamária. O câncer de mama pode ser o responsável n° 1 pela morte de mulheres de meia-idade nos EUA mas, conforme um novo conjunto de relatórios deixa claro, os seios são um grande "ponto cego" na política federal de segurança em relação a produtos químicos. "Eles simplesmente jogam no lixo as glândulas mamárias", diz Ruthann Rudel, diretora de pesquisas no Instituto Silent Spring (sem fins lucrativos) e principal autora de um dos relatórios, que faz uma revisão sobre o que há de mais recente na ciência sobre desenvolvimento da glândula mamária e a exposição a produtos tóxicos.
Os relatórios, publicados na semana passada na revista Environmental Health Perspectives nasceram de um seminário de 2009 sobre avaliação de risco de glândula mamária, que envolveu cientistas de agências federais e internacionais, assim como de grupos independentes. Câncer de mama é exatamente uma das áreas negligenciadas pelas agências federais, como mostram os relatórios, juntamente com assuntos envolvendo lactação e a época de desenvolvimento dos seios na puberdade. "Poucos produtos químicos que chegam ao mercado são avaliados quanto a esses efeitos", diz a Dra. Ruthann e seus coautores.
Rejeitar esses testes é, no entanto, um grande erro. A glândula mamária -- a complexa estrutura de produção de leite do seio -- é particular e especialmente sensível a produtos químicos tóxicos, diz Suzanne Fenton, uma endocrinologista de reprodução vinculada ao Programa Nacional de Toxicologia dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e uma coautora da revisão científica. Tanto em roedores como nos humanos, ela começa a se desenvolver no feto, passa por um colossal surto de crescimento na puberdade, e não se desenvolve completamente a não ser até o final da gravidez. Durante esses períodos, suas células são particularmente vulneráveis a carcinógenos e outras substâncias que acarretam alteração de órgãos. Embora ratos e camundongos de laboratórios não sejam substitutos ou duplicatas perfeitos dos seres humanos, suas glândulas mamárias passam por padrões semelhantes de desenvolvimento sob influências hormonais semelhantes, diz a Dra. Fenton.
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