Qualquer engenheiro ligado à área de geração de energia elétrica certamente já ouviu pelo menos falar da gigantesca e polêmica usina hidroelétrica de Três Gargantas, na China, mais famosa pelos sérios problemas socioambientais que criou do que propriamente por sua potência instalada -- recentemente fiz uma postagem sobre isso.
Com seu clássico jeito autocrático de agir, o governo chinês até agora sempre ignorou solenemente os inúmeros protestos contra essa usina dentro e fora do país. Parece que agora, a pior seca enfrentada pela China em meio século conseguiu o que anos de críticas e de ativismo ambiental não lograram obter, reacendeu o debate sobre essa controvertida e fez o governo chinês admitir que cometeu erros quando planejou seu principal empreendimento.
A severa falta d'água nas províncias do sul ao longo do rio Azul (Yangtze) fez com que lagos secassem, interrompeu a atividade rural em muitas áreas, e deixou alguns moradores e suas criações desesperados por água potável. Com a piora da crise nas últimas semanas, o foco recaiu sobre a usina e sua barragem, liberando uma torrente de acusações reprimidas sobre o projeto, não apenas pela seca mas também por recentes terremotos, poluição e pela penúria enfrentados pelo mais de um milhão de pessoas realocadas à força para a construção da usina. Dai Qing, um ativista ambiental e velho opositor à usina, disse que "há anos insisistimos contra vários desses pontos, sem conseguir eco, mas agora os problemas chegaram a um ponto que o governo não tem mais como escondê-los".
Como resultado disso, nas duas últimas semanas o governo chinês admitiu excepcionalmente a existência de erros no projeto -- falou de deslizamentos, poluição, realocação e outros temas, mas sintomática e sistematicamente não falou da seca. Em todas suas manifestações relativas à usina, Pequim se recusa a admitir que haja seca provocada pelo projeto.
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