[O texto abaixo é da autoria de Elton Alisson e foi publicado hoje no site da Agência FAPESP.] 
A indústria de computação se depara atualmente com o desafio de melhorar
 a performance dos transistores de silício utilizados nos 
microprocessadores de computadores comercializados em todo o mundo. Uma tecnologia desenvolvida por um pesquisador brasileiro, juntamente 
com cientistas da Suíça, pode dar origem a uma nova geração de 
transistores de silício que possibilitaria aumentar o desempenho e 
diminuir o consumo de energia dos processadores.
Os cientistas desenvolveram um método que possibilita produzir nanofios 
de silício com maior velocidade de elétrons do que a atingida até agora 
por outros grupos que trabalham com o material – que poderá ser a base 
dos novos chips de computadores e de outros componentes eletrônicos. Resultado de um trabalho de pós-doutorado realizado por Renato Amaral 
Minamisawa no Instituto Paul Scherrer do Instituto Federal Suíço de 
Tecnologia de Zurique (ETH Zürich) – com o qual a FAPESP assinou um acordo de cooperação no fim de junho –, os resultados do estudo foram publicados na Nature Communications.
Por meio da tecnologia, Minamisawa e colaboradores conseguiram produzir 
nanofios em um substrato de silício com tensão mecânica até três vezes 
maior do que as obtidas por outros grupos de pesquisa de locais como o 
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e as universidades de 
Princeton e de Stanford, nos Estados Unidos, e pelas próprias indústrias
 de microprocessadores. Filamentos minúsculos, os nanofios de silício são apontados como um dos 
materiais semicondutores mais promissores para tornar mais eficientes os
 microprocessadores baseados na tecnologia de silício.
O motivo é que, ao esticar ou comprimir ambas as extremidades de um fio 
de silício, cria-se uma tensão mecânica (estresse) que pode melhorar 
significativamente as propriedades eletrônicas do material e aumentar 
significativamente a mobilidade dos elétrons – o que faz com que os 
transistores e, consequentemente, os microprocessadores sejam mais 
rápidos e consumam menos energia. 
Desde 2003 todos os microprocessadores usam silício estressado no canal 
de transistores. Porém, existem limitações para aumentar a tensão 
mecânica do material e para implementar nanofios de silício estressados 
em componentes eletrônicos.  Ao utilizar uma combinação de técnicas, Minamisawa e colegas 
desenvolveram nanofios de silício com estresse de até 7,5 Giga Pascal 
(GP), contra no máximo 2 GP alcançados por outros grupos.  “Batemos o recorde de estresse em nanofios de silício, em comparação com
 outras tecnologias que foram desenvolvidas para esta finalidade em 
universidades, instituições de pesquisa e indústrias nos Estados Unidos,
 Europa e no Japão”, disse Minamisawa à Agência FAPESP.
Como material de partida para produzir os nanofios com maior tensão 
mecânica, os pesquisadores utilizaram um substrato produzido 
industrialmente com uma camada de silício levemente estressada sobre uma
 camada de óxido de silício, chamado “silício estressado em um 
isolante”. Por meio de técnicas de litografia e de corrosão, eles criaram nanofios 
de silício suspensos por contatos largos, dando origem a nanofios com 30
 nanômetros de largura e 15 nanômetros de espessura.
Nesta nanoestrutura, a tensão mecânica se concentra na menor área de 
secção (constrição), ou seja, no nanofio. Desse modo, o nanofio estica 
enquanto os contatos relaxam da tensão inicial do substrato, 
multiplicando a tensão aplicada nele.  Com isso, é possível produzir milhares de nanofios com um estado 
permanente de tensão mecânica bem definida e em diversas escalas. “Por 
meio da técnica de litografia, desenvolvemos um método que multiplica o 
estresse de uma camada de silício já pré-estressada e que é compatível 
com os métodos de fabricação e materiais utilizados na indústria 
eletrônica hoje”, explicou Minamisawa. Para medir a distribuição de tensão no material em detalhe, os 
pesquisadores realizaram ensaios de espectrometria Raman e simulações 
computacionais no Laboratório de Nanometalurgia da ETH.
Os nanofios também serão estudados na fonte de luz síncrotron da Suíça 
com o objetivo de determinar quanto as propriedades eletrônicas do 
material mudaram.
Aplicação industrial
De acordo com Minamisawa, a tecnologia está em processo de patenteamento
 na Europa e pode permitir a fabricação de uma grande variedade de 
semicondutores com propriedades únicas para aplicações nas áreas de 
nanoeletrônica, fotônica e fotovoltaica. Mas, para isso, os pesquisadores vão estudar agora em um consórcio 
formado com algumas empresas na Europa como incorporar os nanofios de 
silício que desenvolveram em uma estrutura de transistor.  “É claro que para essa tecnologia chegar à indústria existe uma série de
 barreiras, porque será preciso mudar toda a tecnologia usada hoje, que é
 extremamente sofisticada. Mas mesmo que não resulte em aplicações em 
microeletrônica, nossa pesquisa pode ajudar a demonstrar os limites de 
performance do silício como um material para microeletrônica”, afirmou 
Minamisawa.
A técnica foi utilizada inicialmente pelos pesquisadores do Instituto 
Paul Scherrer no desenvolvimento de um laser de germânio, que pode ser 
incorporado nos chips de silício e abre a perspectiva de os microprocessadores trocarem dados usando luz em vez de corrente elétrica.  Ao se juntar ao Laboratório de Micro e Nanotecnologia da instituição de 
pesquisa suíça em 2011, Minamisawa colaborou com a ideia de transferir a
 aplicação da tecnologia para o material que pesquisou durante seu 
doutorado, realizado na Alemanha.  “Quando comecei a trabalhar com nanofios de silício estressados, não 
imaginava que eles ser tornariam viáveis comercialmente. Mas, no ano 
passado, a Intel anunciou que os novos microchips que fabricará serão 
baseados em nanofios de silício estressados”, contou.
De acordo com Minamisawa, as vantagens de se utilizar nanonofios de silício é que eles possibilitam controlar melhor o switch – componente elétrico que pode quebrar um circuito elétrico, 
interrompendo a corrente ou desviando-a de um condutor para outro – dos 
componentes eletrônicos. “A associação da a arquitetura de nanofio com o silício estressado 
permitiria desenvolver transistores mais rápidos e que consomem menos 
energia”, disse.
 
 
 
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