[O relatório que o FMI apresentou na sua reunião em andamento em Tóquio contém informações e comentários importantes sobre o Brasil, alguns preocupantes, que misteriosa e sintomaticamente o governo está sonegando ao país, com o apoio inexplicável e lamentável da mídia. É o que nos conta um editorial de ontem do jornal O Estado de S. Paulo, reproduzido abaixo. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
No relatório apresentado na reunião do FMI em Tóquio, relativo à
Estabilidade Financeira Global, os autores estão dando uma atenção
particular ao Brasil. De um lado, mostram os inconvenientes de uma
expansão excessiva do crédito, por outro, assinalam que, embora hoje
numa situação confortável, nosso país poderá ter de enfrentar uma
situação delicada se se interromper, de repente, o fluxo de créditos no
mercado internacional.
Há tempos estamos apontando, aqui, que a política seguida pelo governo
do PT de ampliação rápida dos empréstimos bancários com o objetivo de
favorecer o consumo apresenta diversos inconvenientes. Não se trata de
denunciar a política que visa a reduzir as taxas de juros, pois, de
fato, em comparação com a Selic, as instituições financeiras mantiveram
juros elevadíssimos que impediam o desenvolvimento da produção e ao
mesmo tempo não conseguiam conter a demanda doméstica.
O problema é que a expansão muito rápida do crédito favorece as pressões
inflacionárias. O volume e a oferta de crédito tem de ser proporcional
aos rendimentos da população, caso contrário abre as portas, no prazo
médio, para sérios problemas. O exemplo extremo foi certamente o do boom
imobiliário nos EUA, mas temos de reconhecer que já está ocorrendo no
Brasil com a alta contínua do preço dos imóveis. Um excesso de liquidez
favorece o endividamento das famílias e das empresas, que desemboca com
prazo variável em violenta queda da demanda doméstica e em falência das
empresas. As autoridades monetárias têm diversos instrumentos para a
contenção do crédito, sendo o recolhimento do compulsório o mais
eficiente. O grave erro dos governos petistas foi o uso do crédito como
instrumento privilegiado para elevação da demanda, enquanto as taxas de
juros altas não permitiram que a produção industrial acompanhasse a
curva da demanda.
O relatório do FMI dá uma informação da qual pouco se fala: o
endividamento do Brasil coloca o País num ranking nada confortável
quanto ao risco de insolvabilidade, muito perto dos países da zona do
euro que hoje estão enfrentando dificuldades de grande amplitude para
reduzir sua dívida externa [eis aí uma informação extremamente preocupante prativamente não divulgada no país].
O documento do FMI reconhece que com suas reservas internacionais o
Brasil está apto a enfrentar uma situação de prazo curto. A preocupação
dos autores do relatório diz respeito a uma situação em que o País não
tenha mais possibilidade de encontrar recursos externos, a não ser a um
custo muito elevado. Trata-se de uma advertência para se levar em conta.
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