[O texto abaixo é da autoria de Fernando Cunha e foi publicado ontem no site da Agência FAPESP, da Fundação de Amparo à Pesquisa de S. Paulo.]
Qual seria a resposta à estimulação cerebral profunda (DBS, na sigla em
inglês) em regiões específicas do cérebro de pacientes com sintomas de
depressão? Essa estimulação modificaria a resposta em animais
experimentais induzidos a estresse? Quais seriam as alterações
relacionadas aos hormônios produzidos na região do hipotálamo e na
hipófise?
Essas são perguntas que os pesquisadores Luciene Covolan, da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em São Paulo, e Clement
Hamani, professor de neurocirurgia da Universidade de Toronto, no
Canadá, pretendem responder durante um projeto de pesquisa desenvolvido em cooperação por meio do acordo firmado em 2011 entre a FAPESP e a universidade canadense. O projeto foi apresentado durante o primeiro simpósio da FAPESP Week
2012, realizado em Toronto, Canadá, em 17 de outubro. Há cerca de um
ano, Covolan e Hamani adotaram um modelo para estudo da depressão que
envolve a aplicação da DBS em região denominada córtex pré-frontal de
ratos submetidos a estresse crônico contínuo, com sintomas de depressão.
A conclusão dos primeiros experimentos, publicada em 2012 na revista Biological Psychiatry,
mostrou resultados significativos na redução da anedonia (perda da
sensação de prazer) – indicadora do estado de depressão – e apresentou
um novo desafio: estabelecer o mecanismo envolvido na redução dos
sintomas da depressão pela aplicação da DBS.
Estimulados pelos revisores do artigo e pelo editor do periódico, os
pesquisadores decidiram realizar novos testes, que levaram à
identificação do cortisol como a principal substância envolvida no
mecanismo celular pelo qual a corrente elétrica aplicada em determinadas
regiões do cérebro dos animais experimentais tem o efeito de reduzir os
sintomas da depressão. A ideia é estabelecer o funcionamento desse
mecanismo. No novo projeto, os cientistas farão a análise da resposta ao tratamento
que utiliza a DBS em região do cérebro denominada eixo
hipotálamo-hipofisário, responsável pela liberação de hormônios. “Vamos estudar o sistema que envolve a situação de estresse, estado em
que há maior produção de cortisol no cérebro. Dessa forma será possível
entender como os hormônios se comportam e como ocorrem as alterações no
estado de depressão”, explicou Hamani.
O projeto será desenvolvido por equipes em São Paulo e em Toronto.
Pesquisadores da Unifesp irão realizar na Universidade de Toronto os
experimentos de estresse desenvolvidos em São Paulo e a equipe canadense
conduzirá os experimentos de aplicação da DBS no laboratório da Escola
Paulista de Medicina.
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