Há um velho e sábio ditado que diz que "afobado, come cru ou mal passado" -- alguém precisa dar um dicionário de ditos populares para Dª Dilma. No final de agosto passado, ela anunciou com pompas e circunstâncias e com aquele seu jeitinho suave de ser que o governo editaria MP (Medida Provisória) que provocaria uma redução de cerca de 10% nas contas de energia elétrica residenciais e de cerca de 20% nas contas da indústria.
Pois bem, a MP 579 foi publicada em 11/9, e pouco mais de um mês depois disso uma agência reguladora e uma empresa do próprio governo vêm a público para dizer que a redução não será bem como foi anunciado. O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson
Hubner, pediu desculpas aos executivos do setor elétrico pelo "atropelo"
na criação das regras de renovação das concessões. "O governo teve de
dar uma resposta muito rapidamente. Peço desculpas por esse certo
atropelo, mas as coisas serão ajustadas ao longo do tempo", afirmou o
executivo durante evento na capital paulista. [Olha aí o ditado acertando em cheio o governo.]
Hubner explicou que a drástica redução da competitividade do País diante
do resto do mundo motivou a antecipação da medida. "A questão do custo
da energia era um assunto recorrente. Cada dia surgia um dado diferente
mostrando que a tarifa brasileira era a mais alta do mundo. Embora os
parâmetros no mundo fossem diferentes, tínhamos a certeza de que
realmente a nossa era cara". [Gosto muito do Nelson, que conheço pessoalmente e tem parente em Niterói, onde moro, mas essa afirmação dele é simplesmente ridícula, p'ra dizer o mínimo. Como é que um executivo do governo, da agência reguladora do setor elétrico, vem dizer publicamente que informações "do exterior" mostram que a tarifa brasileira é a mais alta do mundo, se até o apedeuta do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata - Lula), sabe disso?!]
Continua Hubner: "Mas foi com base na reclamação de uma empresa eletrointensiva - cujo nome não divulgou - que a urgência de reduzir os custos de energia no
Brasil ganhou força. Essa empresa, diz ele, chegou na Aneel e disse que
Canadá e Estados Unidos haviam apresentado propostas melhores para ela
construir suas unidades. "Aí começamos a discutir o assunto". [Se alguém tinha ainda alguma dúvida de que também a política tarifária do setor elétrico é feita por espasmo e/ou eructação, e é ditada essencialmente pela ganância irresponsável do governo, o CEO da Aneel acabou de dirimí-la de vez. Nelson Hubner confirmou também que o governo do partido dos trabalhadores só é sensível a pedidos ou pressões de grandes empresas -- aliás, isso está mais do que óbvio na relação incestuosa do governo de Dª Dilma com a indústria automobilística. Quem for Zé Mané, desista.]
Não foi só a Aneel que deixou mal o governo. O Globo de hoje (pág. 23) diz textualmente (só disponível para leitores e assinantes do jornal): "a promessa de redução média de 20% do preço da energia elétrica, feita pela presidente Dilma Rousseff em cadeia nacional de rádio e TV no pronunciamento de 7 de setembro, antes do primeiro turno das eleições [ou seja, um anúncio eleitoreiro], pode não sair do papel. Segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética - EPE [também estatal], Maurício Tolmasquim, se muitas geradoras de energia não aderirem à proposta de renovação antecipada das concessões que vencem entre 2015 e 2017, "as contas que foram feitas não valerão e não será possível diminuir os preços de energia no patamar prometido (de 16,2% para as tarifas residenciais e de 20,2%, em média, para as tarifas em geral". [Trocando em miúdos: apesar de economista e ex-ministra de Minas e Energia do NPA, nossa ex-guerrilheira: - i) prometeu algo que estava fora de seu alcance, às vésperas do primeiro turno das eleições, fazendo portanto propaganda enganosa e eleitoreira, ou - ii) falou do que desconhece, esquecendo-se de que existe algo chamado "agentes do mercado" e de que ainda não chegamos ao presidencialismo absolutista, ou -- iii) as duas coisas juntas. -- Qualquer dessas hipóteses sepulta definitivamente sua fama de gestora competente, se é que existe ainda algo a sepultar depois de seu fracasso com o PAC. ]
PS - De moto próprio, ou forçados por alguém de cima, Hubner e Tolmasquim viraram bois de piranha -- se foi de iniciativa própria, alguém no Palácio do Planalto irá comer-lhes o fígado.
Vasco,
ResponderExcluirPelo que foi noticiado hoje na imprensa parece que vamos ficar na saudade.