A família Klein, fundadora da rede Casas Bahia, enviou na última
sexta-feira uma carta ao comando do Grupo Pão de Açúcar ameaçando a rede com processo arbitral por conta de "erros e inconsistências relevantes
capazes de alterar a equação que definiu a relação de troca entre as
ações da Nova Casas Bahia pelas [ações]
de Globex". Casas Bahia e Grupo Pão de Açúcar são sócios na Via Varejo
(ex-Globex) desde julho de 2010, quando as varejistas assinaram acordo
de associação. A informação foi antecipada pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
Na carta, os Klein solicitam ao GPA uma reunião para discutir a
questão, em três datas possíveis - hoje, amanhã ou na sexta-feira. Até
ontem à noite, o GPA não havia respondido a carta dos sócios.
A família acredita que o valor patrimonial do Ponto Frio foi "inflado"
quando a fusão entre as redes foi fechada, dois anos atrás, e essa
análise foi a base no cálculo da soma paga aos Klein, disse ontem
Ricardo Tepedino, advogado da família, do escritório Tepedino, Migliore e
Berezowski Advogados. Por isso, o valor pago em ações pela parte da
família teria que ser maior do que o efetivamente desembolsado na época,
afirmou ele. O Pão de Açúcar entende que essa reação dos sócios, com o
envio da carta, é um "despropósito", apurou o Valor com fonte ligada à rede. Procurado, oficialmente o GPA não se manifestou.
O Valor apurou que existe uma cláusula no aditivo do
acordo de fusão das varejistas que determina que eventuais contingências
devidas por Via Varejo a partir de 30 de junho de 2010 garantem uma
indenização a ser paga pelo GPA. Inclusive, o grupo informa que tinha,
na época, um valor em contas a receber que poderia levar a uma
indenização. No Pão de Açúcar, calcula-se que esse valor pedido pelos Klein não passaria de R$ 40 milhões, apurou o Valor.
"É muito mais que isso. Pelos nossos cálculos, pelo valor real dos
ativos na época poderíamos até virar controladores [de Via Varejo]",
disse Tepedino. Quem deve representar o GPA no caso é a Veirano
Advogados.
Em abril de 2010, quatro meses após se tornarem sócios, as famílias
Klein e Abilio Diniz, acionista do GPA, renegociaram valores e algumas
condições do contrato de associação das redes. Os Klein já acreditavam
que a rede Casas Bahia havia sido subavaliada. Neste ano, surgiram informações de que Michael Klein teria interesse em
comprar a participação do GPA na Via Varejo - a família Klein tem 47% do
negócio e o GPA, 53%. Klein chegou a comentar o assunto com assessores
de Abilio Diniz, mas não avançou com a proposta até hoje.
A origem desse desentendimento está numa análise preliminar da KPMG a
respeito dos números de Casas Bahia e Ponto Frio. A avaliação foi pedida
por Enéas Pestana, presidente do GPA, à empresa de auditoria, e o
assunto foi discutido em duas reuniões de conselho, em abril e maio.
Pestana pediu, inicialmente uma análise dos balanços de Casas Bahia. Os
Klein, por sua vez, incomodados com o pedido, teriam decidido solicitar
também uma análise dos números de Ponto Frio, conta Tepedino. Esse
material preliminar da KPMG foi alvo de discussão em reunião do conselho
de Via Varejo na quarta-feira da semana passada, mas não se avançou
muito no debate.
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