terça-feira, 16 de outubro de 2012

Família Klein quer rediscutir venda da Casas Bahia

A família Klein, fundadora da rede Casas Bahia, enviou na última sexta-feira uma carta ao comando do Grupo Pão de Açúcar ameaçando a rede com processo arbitral por conta de "erros e inconsistências relevantes capazes de alterar a equação que definiu a relação de troca entre as ações da Nova Casas Bahia pelas [ações] de Globex". Casas Bahia e Grupo Pão de Açúcar são sócios na Via Varejo (ex-Globex) desde julho de 2010, quando as varejistas assinaram acordo de associação. A informação foi antecipada pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. Na carta, os Klein solicitam ao GPA uma reunião para discutir a questão, em três datas possíveis - hoje, amanhã ou na sexta-feira. Até ontem à noite, o GPA não havia respondido a carta dos sócios.

A família acredita que o valor patrimonial do Ponto Frio foi "inflado" quando a fusão entre as redes foi fechada, dois anos atrás, e essa análise foi a base no cálculo da soma paga aos Klein, disse ontem Ricardo Tepedino, advogado da família, do escritório Tepedino, Migliore e Berezowski Advogados. Por isso, o valor pago em ações pela parte da família teria que ser maior do que o efetivamente desembolsado na época, afirmou ele. O Pão de Açúcar entende que essa reação dos sócios, com o envio da carta, é um "despropósito", apurou o Valor com fonte ligada à rede. Procurado, oficialmente o GPA não se manifestou.

O Valor apurou que existe uma cláusula no aditivo do acordo de fusão das varejistas que determina que eventuais contingências devidas por Via Varejo a partir de 30 de junho de 2010 garantem uma indenização a ser paga pelo GPA. Inclusive, o grupo informa que tinha, na época, um valor em contas a receber que poderia levar a uma indenização.  No Pão de Açúcar, calcula-se que esse valor pedido pelos Klein não passaria de R$ 40 milhões, apurou o Valor. "É muito mais que isso. Pelos nossos cálculos, pelo valor real dos ativos na época poderíamos até virar controladores [de Via Varejo]", disse Tepedino. Quem deve representar o GPA no caso é a Veirano Advogados.

Em abril de 2010, quatro meses após se tornarem sócios, as famílias Klein e Abilio Diniz, acionista do GPA, renegociaram valores e algumas condições do contrato de associação das redes. Os Klein já acreditavam que a rede Casas Bahia havia sido subavaliada.  Neste ano, surgiram informações de que Michael Klein teria interesse em comprar a participação do GPA na Via Varejo - a família Klein tem 47% do negócio e o GPA, 53%. Klein chegou a comentar o assunto com assessores de Abilio Diniz, mas não avançou com a proposta até hoje.

A origem desse desentendimento está numa análise preliminar da KPMG a respeito dos números de Casas Bahia e Ponto Frio. A avaliação foi pedida por Enéas Pestana, presidente do GPA, à empresa de auditoria, e o assunto foi discutido em duas reuniões de conselho, em abril e maio. Pestana pediu, inicialmente uma análise dos balanços de Casas Bahia. Os Klein, por sua vez, incomodados com o pedido, teriam decidido solicitar também uma análise dos números de Ponto Frio, conta Tepedino. Esse material preliminar da KPMG foi alvo de discussão em reunião do conselho de Via Varejo na quarta-feira da semana passada, mas não se avançou muito no debate.

A família Klein pede na carta que as negociações comecem "amigáveis e de boa-fé" para que nos próximos 30 dias se busque uma solução que evite a instauração de um "litígio arbitral", informa na carta. "Queremos resolver isso de forma tranquila. Mas nós sabemos que existe um problema e acreditamos que isso não tem sido tratado da maneira como deveria pelo grupo, por isso pedimos a reunião", afirma Tepedino.  Controlador da varejista, o sócio francês Casino apoia integralmente a posição de Enéas Pestana, presidente do grupo, em relação à questão, apurou o Valor. O comando da rede francesa recebeu a informação de ameaça de "litígio arbitral" por parte dos Klein com "perplexidade e surpresa", segundo fontes.

Michael Klein, da família fundadora da Casas Bahia, reclama da troca de ações - (Foto: Valor Econômico).









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