Como apresentador dos programas de TV “Jim’ll Fix It” e “Top of the Pops,” Jimmy Savile era uma das figuras mais conhecidas da BBC em uma carreira de quatro décadas, dos anos 1960 a meados dos anos 1990. Agora, um ano após sua morte, no entanto, ele é investigado por ter abusado sexualmente de cerca de 12 meninas menores de idade, algumas vezes até dentro da BBC.
O escândalo está engolindo a empresa, que falhou ao investigar os rumores dessa história ou em levar a sério as acusações sobre o comportamento do apresentador na época em que ele ainda estava vivo e fazia sucesso. A TV cancelou a exibição de um segmento do programa “Newsnight” sobre as denúncias, em dezembro, e ao mesmo tempo programou três homenagens a Savile, que morreu ano passado aos 84 anos. A BBC alegou que o segmento do programa “Newsnight” foi cancelado por “razões editoriais”, já que as denúncias não estavam bem embasadas, e não por causa da reputação da empresa. Na última sexta-feira, no entanto, o diretor geral da BBC, George Entwistle, anunciou que um painel independente vai investigar se os executivos da BBC pressionaram de maneira imprópria o “Newsnight".
Na época do cancelamento o diretor geral da TV era Mark Thompson, hoje presidente e executivo-chefe do The New York Times Company. Em uma carta enviada aos membros do Parlamento na sexta-feira, um porta-voz da BBC disse que nem Thompson nem Entwistle estavam envolvidos na decisão do “Newsnight”. "Eu não fui notificado ou informado sobre a investigação do “Newsnight” nem estava envolvido de forma alguma na decisão de não expor a investigação", disse Thompson, no sábado. "Eu não tenho nenhuma razão para duvidar da declaração pública do editor do programa, Peter Rippon, que a decisão de não prosseguir a investigação foi inteiramente sua, apenas por razões jornalísticas. Durante meu tempo como diretor-geral da BBC, eu nunca ouvi qualquer alegação sobre Jimmy Savile", afirmou.
As acusações de abuso sexual foram feitas há anos, mas ganharam visibilidade este mês, quando a emissora ITV exibiu um documentário no qual cinco mulheres contavam terem sido molestadas ou estupradas por Savile quando eram adolescentes. No programa “Top of the Pops” Savile apresentava os singles no topo das paradas do dia, e em “Jim’ll Fix It” ele garantia que britânicos, a maioria crianças, realizassem seus desejos, como conhecer o boxeador Muhammad Ali. Antes que o programa da ITV fosse exibido, a BBC preventivamente divulgou um comunicado dizendo que tinha analisado o assunto e não tinha encontrado evidências para apoiar as acusações. Mas a situação mudou nos últimos dias.
Emitindo um “pedido de desculpas profundo e sincero” para possíveis vítimas, Entwistle também disse que uma segunda investigação independente poderia olhar para a “cultura e práticas” da corporação durante o mandato de Savile e, depois, examinar se as políticas atuais sobre o assédio sexual e proteção da criança foram adequados. O documentário da ITV levou a Scotland Yard a abrir sua própria investigação criminal. Na sexta-feira, a agência disse ter recebido 12 denúncias formais de abuso sexual — não apenas na BBC, mas também em instituições de caridade, escolas e hospitais onde Savile oferecera ajuda voluntária.
[Em sua edição de hoje, o jornal britânico The Independent informa que as denúncias sobre abusos sexuais infantis praticados por Savile surgem agora diariamente, em cada vez maior quantidade, provocando dois inquéritos que envolvem dois hospitais, um deles considerado a unidade psiquiátrica mais segura do país, e 14 unidades da polícia através do Reino Unido. Na noite passada, a Polícia Metropolitana divulgou a informação impressionante de que seus inquéritos abrangem agora 47 anos da vida de Savile, e de que há pelo menos 60 vítimas. O mesmo The Independent, no dia 12 deste mês, publicou uma reportagem com o título "Por que ninguém impediu Savile?".]
O inconfundível Jimmy Savile -- estrela da TV britânica -- no pátio do Palácio de Buckingham, em 2002. Um ano depois de sua morte, acusações de abuso sexual de meninas menores de idade mancham sua reputação - (Foto: Adrian Dennis/AFP).
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