[Há coisas que acontecem com e no Brasil que, à primeira vista, parecem piada de mau gosto, mas depois a gente sente e percebe que infelizmente é a mais pura realidade. Um dos inúmeros mistérios deste país é que, apesar de termos 8.000 km de costa, o peixe por aqui custa um absurdo e por isso ocupa um lugar mínimo e modestíssimo na dieta do brasileiro. A pesca nunca foi objeto de qualquer atitude séria e responsável de governo nenhum, muito nessa década de governos petistas. Desde o início dos governos de Lula (o Nosso Pinóquio Acrobata - NPA) até agora, passados 10 anos, tivemos cinco ministros da Pesca e Aquicultura : um formado em Estudos Sociais e Filosofia Social (José Fritsch - 2003/2006), um veterinário (Altemir Gregolin - 2006/2010), uma licenciada em física (Ideli Salvatti - de janeiro a junho de 2011), um que cursou apenas até o ensino médio (Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira - 10/6/2011 a 02/3/2012) e um engenheiro civil que se destaca por ser ministro da Igreja Universal do Reino de Deus (Marcelo Crivella - a partir de 02/3/2012). Este último entende muito de outro tipo de pesca: fisgar fiéis e sua contribuições.
A mais recente e deprimente novidade é que estamos importando peixe, particularmente da China, para nosso consumo, conforme nos informa hoje o jornal Valor Econômico. É o fim da picada!! O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Ao contrário do que acontece na maior parte do mundo, o pescado nunca
desfrutou de grande prestígio entre os brasileiros. Mas a situação
começou a mudar nos últimos anos, com um expressivo salto do consumo per
capita no país. Mas, ainda que o Brasil seja dono de um dos maiores
potenciais de produção de pescados em cativeiro - já que a pesca
extrativa não é o forte do país -, foram as importações de peixes a
preços mais acessíveis, sobretudo da China, que ajudaram a turbinar e
abastecer a demanda nacional.
As importações de pescados contribuíram com 323 mil toneladas entre 2005
e 2010, ou 50% do crescimento da demanda brasileira no período. Com
isso, a participação das compras externas no consumo nacional passou de
25,9% para 34,2%, conforme o Ministério da Pesca.
Em declínio a partir da década 90, o consumo de pescados esbarrava em
três obstáculos principais: preços elevados, falta de hábito e produção
nacional acanhada
[na realidade, são dois os motivos, porque a falta de hábito é pura e simples consequência das outras duas razões]. Por causa disso, a presença do peixe no mesa do
brasileiro ficava restrito, principalmente, à região Norte, às festas de
fim de ano e à Quaresma. Até então, mesmo os pescados voltados às
classes mais abastadas, como o camarão produzido no Nordeste,
encontravam mais mercados no exterior.
Impulsionado pelo crescimento da renda da população brasileira, o
cenário começou a mudar em 2005. O consumo nacional per capita anual
passou de 6,66 quilos, naquele ano, para 9,75 quilos em 2010, último
dado disponibilizado pelo Ministério da Pesca. O movimento, afirmam
especialistas, prosseguiu no último ano. Mas o avanço do consumo não aconteceria sem as importações da China e
também do Vietnã. "Porque o consumidor não comia peixe? Porque ele não
tinha hábito e sempre foi muito caro. E se você não tem hábito, não vai
começar pelo peixe mais caro", afirma Ivan Lasaro, presidente Andip,
entidade que representa os importadores de pescados.
[O grande risco é alguém resolver importar matrizes desses peixes para criá-los por aqui. Sem seus predadores naturais, essas espécies podem causar danos enormes ao nosso ambiente.]
Foi nesse contexto que entraram os peixes asiáticos. "Eles ofereceram
peixe com disponibilidade e preço baixo. Conclusão: o consumo explodiu",
diz Lasaro. Irrelevante para o Brasil até 2007, a China, maior produtor
mundial de pescados, aproveitou o melhor ambiente econômico do país e
inundou o mercado brasileiro com a chamada merluza-do-alasca, pescada no
mar de Bering, extremo norte do Pacífico.
Pescados no Brasil (clique na imagem para ampliá-la) - (Fonte: Valor Econômico).
O movimento foi tão intenso que, no ano passado, a China desbancou o
Chile e seu tradicional salmão do primeiro lugar nas exportações de
pescados para o Brasil, em volume. Entre 2007 e 2011, os embarques
chineses para o país passaram de 3 mil para 79,7 mil toneladas, segundo a
Secretaria de Comércio Exterior (Secex). No ano passado, o Chile vendeu
47 mil toneladas de pescados para o Brasil. A China ainda perde para o
Chile em receitas, mas a distância vêm diminuindo. Em 2011, o Brasil
gastou US$ 231 milhões com as importações da China e US$ 282,3 milhões
com as do país sul-americano.
Outro país que se beneficiou do avanço do mercado brasileiro foi o
Vietnã. Concentrado nas exportações de pangasius, o país asiático viu
seus embarques para o Brasil saltarem de inexpressivas 225 toneladas em
2007 para 29,5 mil em 2011.
Por ser produzido em cativeiro no delta no rio Mekong, um dos mais
poluídos do mundo, o pangasius, também conhecido como "peixe-gato" ("cat
fish") é sistematicamente questionado por questões sanitárias. "Se
controlar a sanidade, eu não vejo com maus olhos. Ele pelo menos
viabiliza o consumo de quem não pode comprar um peixe mais caro", diz
Tito Livio Capobianco, presidente Associação Brasileira da Indústria de
Processamento de Tilápia (AB Tilápia). [Esse Capobianco é, no mínimo, um gozador -- controle sanitário, e de peixe, no Brasil?!...]
Os exportadores de pescados não foram os únicos a comemorar o salto do
consumo no país. Na esteira dos peixes asiáticos mais baratos, a
produção nacional de pescados em cativeiro, a chamada aquicultura,
avançou 86,3% de 2005 a 2010, para 479 mil toneladas. Com isso, passou a
representar 37,8% da produção brasileira, em detrimento de pesca
extrativa, segundo dados do Ministério da Pesca. Em 2005, a fatia dos
pescados de cativeiro foi de 25,5%.
A produção aquícola brasileira está concentrada em quatro peixes:
tilápia, carpa, camarão e tambaqui. Juntos, esses quatro pescados
representaram 373,6 mil toneladas, ou 78% da produção da aquicultura
nacional em 2010. "Com 13% de toda água doce do mundo e grãos para a produção de ração, o
Brasil tem uma vocação natural para a aquacultura", acredita Pedro
Furlan, presidente da Nativ Pescados. Furlan é bisneto de Attílio
Fontana, fundador da Sadia. Com sede em Sorriso (MT), a Nativ abate
cerca de 6 mil toneladas de pescados por ano, entre tilápias e peixes
amazônicos. No ano passado, a companhia faturou R$ 30 milhões.
Essa vocação é expressa em números pela FAO, o braço da ONU para
agricultura e alimentação (FAO). Segundo a instituição, o Brasil tem
condições de produzir, de maneira sustentável, 20 milhões de toneladas
de pescados por ano.
A tilápia, batizada de "Saint Peter" como estratégia de marketing, é a
grande aposta para que o Brasil ocupe um lugar de destaque na
aquicultura mundial - hoje, o país é o 17º na lista dos maiores
produtores. Empresas como a cearense Nutrimar, forte na produção
camarão, planejam entrar no mercado de tilápias.
Mas atingir esse potencial demandará investimentos, como na produção em
escala. "Nossa produção hoje não é competitiva para exportar", lembra
Furlan. No Grupo Pão de Açúcar o salmão chileno é até mais barato que a
tilápia produzida no Brasil, conta Manoel Antonio Filho, gerente
comercial de peixaria da rede.
A competitividade do setor entrou no radar do BNDES, que tem planos de
consolidar o segmento, à exemplo do que fez na área de frigoríficos de
carne bovina. Enquanto isso não acontece, o Brasil mantém barreiras
comerciais nas importações de camarão e tilápia para manter a
competitividade.
Se a aquicultura anima por seu potencial, o mesmo não acontece com a
pesca extrativa. Apesar da extensa costa marítima, o Brasil não possui
peixes em quantidade e já atingiu o limite de captura de peixes
selvagens, por conta da pesca predatória.
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