[A reportagem traduzida abaixo foi publicada ontem no jornal inglês The Independent. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Milhões de passageiros diários de trens não precisarão mais de passagens ou bilhetes de papel para viajar, de acordo com propostas em preparação para permitir o uso de celulares e cartões de crédito para pagar e ter acesso a qualquer forma de transporte público. Conforme projetos que serão publicados ainda este ano pelo Departamento para Transportes (DfT, em inglês), as empresas ferroviárias deverão introduzir novas formas de "viagens sem tíquete" em suas malhas.
Isso permitirá àqueles passageiros e aos viajantes de longas distâncias pagar uma passagem online, e depois usar seus cartões de créditos para abrir os acessos às plataformas. Em prazo mais distante, esses usuários poderão usar também seus celulares de modo semelhante, eliminando a necessidade de tíquetes sazonais e cartões Oyster [cartões eletrônicos recarregáveis].
Inicialmente, o sistema começará por toda Londres no final deste ano, mas o governo espera que essa tecnologia esteja rapidamente disponível para toda a malha ferroviária nacional, começando pelo sudeste. O sistema faz uso de sistemas de pagamento sem contato já embutidos em milhões de cartões de crédito e débito -- e a serem incluídos em breve em smartphones. Isso permite aos usuários comprar um bilhete online ou em seus celulares, e depois usar o mesmo cartão para identificar-se eletronicamente em catracas ou outros pontos de acesso.
Em Londres, o novo esquema substituirá ao final o sistema de cartões Oyster, que foi extremamente bem sucedido. Em vez de ter um cartão separado, o usuário simplesmente usará seu cartão bancário normal para abrir acessos no metrô. Viajantes não precisarão mais comprar tíquetes sazonais semanais ou mensais, pois o sistema calculará automaticamente quando sua viagem excedeu o custo desses tíquetes -- e interromperá seu carregamento. Mas, enquanto o departamento de Transporte para Londres (TfL, em inglês) tem estado na fronteira do uso de tecnologia para tornar as viagens mais fáceis, o governo tem estado frustrado com a morosidade do ritmo de mudanças na malha ferroviária nacional. Ele solicitou às autoridades da área que preparem propostas detalhadas sobre como o novo sistema pode ser estendido e possivelmente incluído na rodadas vindouras de concessão de franquias ferroviárias.
Uma fonte do governo disse: "Se você pode pagar seu voo com seu celular e depois usar o mesmo dispositivo como seu cartão de embarque, não há razão nenhuma para você precisar de um tíquete de papel para embarcar em um trem. É uma insanidade que, embora você possa comprar um tíquete online, você depois tenha que dirigir-se a uma máquina de bilhetes e digitar uma senha (que pode ser longa) só para obter seu tíquete. Já possuímos capacidade técnica para fazer isso com os sistemas de barreiras e de computadores que temos -- é apenas uma questão de assegurar-se de que as operadoras ferroviárias se esforçarão para fazer com que isso aconteça".
O ministro dos Transportes, Patrick McLoughlin, disse: "O caminho desde a compra do tíquete online até você tomar assento no trem é hoje excessivamente complicado. Ao aproveitar tecnologias mais modernas para tornar mais fácil o processo de tiquetagem, estaremos melhorando enormemente o dia a dia do passageiro".
O DfT está analisando também se é possível introduzir o sistema de preço das empresas aéreas do tipo "barganha" [budget airlines] para administrar de maneira mais eficiente a demanda na malha ferroviária nacional. No metrô, o TfL está trabalhando em um sistema que permitiria ao passageiro esperando numa subestação ver exatamente quão lotado está o próximo trem e se vale a pena esperar pelo seguinte.
[Tudo isso aí em cima soa como ficção científica para nós brasileiros, que vivemos num país que tem uma estatal ridiculamente ineficiente chamada Valec cuidando de suas ferrovias -- ela chega ao requinte de planejar ferrovias sem programar a compra de trilhos. Só por falhas de fiscalização ela deu ao país um prejuízo de quase R$ 700 milhões em 2011. Antes de pensar na compra da passagem temos que primeiro providenciar trem p'ra isso -- e isso vale também para metrôs (pelo menos para o do Rio). Aliás, nos transportes em geral os governos petistas foram e têm sido um redondo fracasso.
Depois de uma década de governo petista o país não fabrica sequer 1 milímetro de trilho, importamos tudo -- em 2008 gastamos US$ 170 milhões com isso, mais de sete vezes o registrado em 1997. Em 1996 a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) desativou seu laminador para a produção de trilhos, por falta de demanda. Em maio de 2010 o NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula), em um de seus inúmeros surtos de mentiras e irresponsabilidades demagógicas "determinou" a retomada na produção de trilhos -- cadê essa retomada?! Até março daquele ano, a ministra-chefe da Casa Civil e mãe-gestora do PAC (responsável também pela área de infraestrutura ferroviária) era a nossa supersimpática e carinhosa Dona Dilma. Não dá p'ra fazer trilho no Brasil porque não há demanda para isso, e o NPA sabia e sabe muito bem disso. E não há demanda por trilhos porque optamos estupidamente por transportar nossa produção por rodovias e não por trem (ou cabotagem e rios) -- em 2008, o Ministério dos Transportes já estimava em 58% o volume de nossa produção movimentado por rodovias.]
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