quinta-feira, 18 de abril de 2013

Com o o governo estimulando o consumo, aumenta o número de famílias endividadas -- quem vai pagar a conta?

Acho que antes de Cabral aparecer por estas paragens, já existia o ditado "quem nunca comeu melado, quando come se lambuza" -- ele agora está mostrando sua força entre nós. Num país em que o conceito de poupar não vai muito além de se ter uma caderneta de poupança, e em que o governo é um tremendo perdulário e gasta a rodo -- e gasta muito mal o nosso dinheiro, dando em troco à população uma porcaria até, e principalmente, em matéria de serviços básicos, o estímulo desenfreado ao consumo feito pelo governo não podia resultar em outra coisa: as pessoas estão gastando o que não podem.

No gráfico abaixo, vê-se que a Taxa de Poupança Bruta do país sofreu uma forte queda no terceiro trimestre de 2008 para o mesmo período de 2009 (de 20,7 para 17,1% do PIB), e a partir de então vem num forte viés de baixa.


Taxa de Investimento e Taxa de Poupança Bruta, em % do PIB, ambas em queda (clique na imagem para ampliá-la) - (Fonte: IBGE).

Taxa de poupança bruta brasileira, em porcentagem do PIB, de 1967 a 2012 (clique na imagem para ampliá-la) - (Fonte: Indicadores do Banco Mundial. Trading Economics).

O segundo gráfico acima confirma essa tendência acentuada de queda da nossa poupança bruta a partir de 1989, mas sinaliza também que esse viés vem se manifestando desde a década de 1960. Para comparação, e nos deixar com inveja, vejam abaixo a taxa de poupança bruta da China (nossa companheira no Brics) no mesmo período (1967 a 2012) -- vendo esse gráfico fica mais fácil entender porque a China tem crescido muitíssimo mais que o Brasil:

Taxa de poupança bruta da China, de 1967 a 2012 (clique na imagem para ampliá-la) - (Fonte: Indicadores do Banco Mundial. Trading Economics).

O governo brasileiro parece ser incapaz de reconhecer que uma expansão econômica totalmente baseada no consumo, sem investimentos, é uma medida que pode funcionar apenas no curto prazo.  Para crescer no longe prazo, é necessário haver acumulação de capital, e a acumulação de capital requer investimentos, que, em sua vez, necessita de poupança. Crescimento econômico requer acumulação de capital, que por sua vez requer investimentos, sendo que investimentos requerem poupança.  Mesmo a inovação e o aumento da qualidade do capital humano precisam de poupança. A baixa taxa de poupança do Brasil não é um fenômeno recente, mas sim uma característica típica da economia brasileira.  Ao passo que países emergentes que estão decolando em termos de desenvolvimento econômico apresentam taxas de poupança e de investimentos na faixa de 30 % e 40 % do PIB, como a China, a taxa de poupança brasileira esta abaixo de 20 %.

Voltemos ao drama de inadimplência crescente das famílias brasileiras. Como mostra a Folha de S. Paulo hoje, a parcela de famílias brasileiras endividadas aumentou em abril. O mesmo aconteceu com a inadimplência, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em ambos os casos, as famílias com renda de até dez salários mínimos mensais lideram a alta. 

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada nesta quinta-feira pela CNC, mostrou que o percentual de famílias que declaravam ter algum tipo de dívida passou de 61,2% em março para 62,9% neste mês. No mesmo período do ano passado, 56,8% estavam endividadas. 

Para quem ganha até dez salários mínimos, o percentual de famílias com contas a pagar alcançou 63,8% em abril, ante 61,9% em março e 57,9% em abril de 2012. Para aquelas com renda acima de dez salários mínimos, o percentual passou de 57,1%, em março, para 58,5% em abril. Em abril de 2012, a parcela era de 48,7%. Também cresceu a parcela de quem afirma não ter condições de pagar as dívidas, de 6,3% para 6,7%. Em abril de 2012, 6,9% das famílias estavam nessa condição. Entre as que têm renda até dez salários mínimos, a parcela aumento de 7% em março para 7,7% em abril de 2013.

Há ainda outro indicador que preocupa. Segundo a pesquisa, 20,8% dos endividados têm mais da metade da renda comprometida com dívidas. Esse número está acima da média (19,2%), mas próximo do registrado em abril de 2012 (21%). Segundo a economista Marianne Hanson (professora assistente da Universidade de Queensland, Austrália), citada por Miriam Leitão em seu blogue hoje, o número de endividados vem aumentando desde o segundo semestre do ano passado, devido aos estímulos ao crédito e à compra de bens duráveis, como veículos. Vejam o gráfico abaixo (clique na imagem para ampliá-la), da Confederação Nacional do Comércio:


Como comenta ainda Miriam Leitão, a boa notícia, se é que podemos chamar assim, é que caiu um pouco, mas ainda continua alto, o percentual de famílias que disseram estar muito endividadas: 12,1% do total afirmaram estar nessa situação; em abril do ano passado, eram 14,1%.

O final dessa história não é difícil de adivinhar -- a capacidade de endividamento dessas famílias vai estourar e, acrescentando a isso a alta da inflação, o consumo vai cair ou, no melhor das hipóteses, estagnar. Ou seja, o mercado interno vai reduzir sua capacidade de absorver nossa produção industrial, particularmente quanto a bens duráveis. Para piorar o quadro macroeconômico, a indústria brasileira de transformação já informou que seu investimento em 2013 será 9,5% menor que em 2012.

Nossa pauta de exportação depende fortemente das commodities (clique na imagem para ampliá-la):


Os principais mercados de destino das exportações brasileiras, em 2012, foram China (US$ 41,2 bilhões), Estados Unidos (US$ 26,8 bilhões), Argentina (US$ 18 bilhões), Países Baixos (US$ 15 bilhões) e Japão (US$ 8 bilhões). Sobre os produtos brasileiros exportados, alcançaram recordes de vendas no ano: farelo de soja (US$ 6,595 bilhões), milho (US$ 5,359 bilhões), óleos combustíveis (US$ 5,038 bilhões), algodão em bruto (US$ 2,104 bilhões), bombas e compressores (US$ 1,778 bilhões) e ônibus (US$ 295 milhões).

O resultado da balança comercial do agronegócio, em 2012, também foi influenciado pela demanda da China, principal destino dos produtos agropecuários brasileiros. O país asiático absorveu 18,8% das exportações do setor no ano passado, quando os embarques para todos os mercados renderam US$ 95,8 bilhões, crescimento de 1% na comparação com 2011. O problema é que a economia chinesa mostra sinais de desaceleração -- a recuperação econômica da China desacelerou inesperadamente nos três primeiros meses de 2013, com a fraqueza na produção industrial e em gastos em investimentos, forçando analistas a dar início a reduções nas expectativas para a expansão no ano apesar da insistência oficial de que o cenário é favorável.

Temos nuvens nada simpáticas no horizonte da economia brasileira, fruto da política errada da nossa doce Dona Dilma. Somando a isso a disposição da nossa terna ex-guerrilheira de reeleger-se a qualquer preço em 2014, é bom tirar o cavalo da chuva e botar as barbas de molho.






Um comentário:

  1. Mais um problema aritmético de um povo que, aparentemente, escolheu com categoria um governo que bem o representa: ambos gastam a rodo. Digo isso porque a questão fica remetida a antigo dilema; entre quem peca (vou consumir) e quem tenta (consumam, meu povo!), qual é o pior?
    A grande diferença é que o inadimplente (povo) cedo ou tarde pagará suas contas, e por bem ou por mal. Já o governo perdulário e incompetente na sua aritmética financeira, dentre outras, logo e bem logo, virá fazer caixa com uma população inadimplente. Aí a vaca vai expelir muco, enquanto contempla a queda do pibão. Em tempo: falta ainda criar um quadragésimo ministério, sugestivo número cabalístico, do folclore árabe.

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