No início deste ano, comentamos que a produção da China em serviços estava prestes a ultrapassar sua produção industrial, provavelmente ainda este ano. Isso representaria um marco interessante para a economia chinesa, que é famosa pelo zumbido de suas linhas de montagem, pela fumaça de suas chaminés e pelo som metálico de seus canteiros de obras. O relatório de hoje [15/4] sobre o PIB chinês traz essa ultrapassagem para ainda mais perto. Nos últimos quatro trimestres (que vão do segundo trimestre de 2012 ao primeiro trimestre de 2013), serviços e indústria tiveram a mesma participação no PIB da China (sendo falsamente preciso, os serviços responderam por 44,99% e a indústria por 45,02% do PIB chinês -- ver gráfico). Na realidade, os serviços bateram a indústria em cada um dos três últimos trimestres. Isso não acontecia desde 1961, tanto quanto me lembre.
A caminho da ultrapassagem - PIB da China por setor (% do total nos quatro trimestres anteriores) - (Ilustração: The Economist).
Devo ressaltar que o setor de serviços da China [que, entre outras coisas, inclui transporte, comércio atacadista, comércio varejista, hotéis, suprimento de comida e serviços para eventos sociais (catering), finanças e negócios imobiliários] é inusitadamente pequeno. Em outras economias no mesmo estágio de desenvolvimento que a chinesa, o setor de serviços responde tipicamente por 55 a 60% do PIB. Os preços dos serviços têm subido mais rapidamente que os industriais, contribuindo para a mudança a seu favor. [Entre as 10 maiores economias do mundo, a chinesa é a que apresenta a menor participação do setor de serviços no PIB -- ela é de 79,7% nos EUA, 71,4% no Japão, 71,1% na Alemanha, 79,8% na França, 78,2% no Reino Unido, 67,2% no Brasil, 74,1% na Itália, 60,1% na Rússia e 65% na Índia (a média mundial é 63,6%).]
Devo ressaltar também que ambos os setores são altamente sazonais, com o de serviços atingindo tipicamente seu pico no primeiro trimestre e o da indústria, no segundo. Assim, a indústria [que inclui construção, mineração e serviços públicos (utilities)] pode recuperar-se em abril, maio e junho. Não obstante isso, o eclipse industrial está se aproximando um pouco mais. Os colarinhos na China estão ficando brancos [trocadilho entre o "white-collar" -- pessoal que trabalha em escritório -- e o "blue-collar", o operário das fábricas].
[À primeira vista, no gráfico acima parece muito baixa a participação da agricultura no PIB de um país que tem que alimentar mais de 1,3 bilhão de pessoas. No entanto, na acima citada lista das 10 maiores economias mundiais o quinhão da agricultura chinesa no PIB do país (10,1%) só perde para a agricultura indiana (17% do PIB indiano). Para uma média mundial de 5,9%, nas demais oito economias temos: 1,2% nos EUA, 1,2% no Japão, 0,8% na Alemanha, 1,9% na França, 0,7% no Reino Unido, 5,4% no Brasil, 2% na Itália e 3,9% na Rússia.
Quanto à relação indústria/PIB naquelas mesmas 10 maiores economias, temos (para uma média mundial de 30,5%): EUA com 19,1%, China com os 45,02% do artigo acima (ou 45,3% da Wikipedia), o Japão com 27,5%, a Alemanha com 28,1%, a França com 18,3%, o Reino Unido com 21,1%, o Brasil com 27,4%, a Itália com 23,9%, a Rússia com 36% e a Índia com 18%.]
Nenhum comentário:
Postar um comentário