quinta-feira, 11 de abril de 2013

Eike Batista, o milagreiro em causa própria

É muito chato, mas a gente tem que tirar o chapéu p'ra esse Eike Batista, ele encontrou o jeito perfeito de sobreviver neste país tupiniquim com o lema "como vencer na vida penhorando o dinheiro do contribuinte".  Em matéria de pirotecnia, o cara é um gênio. Criou a imagem do Midas do business nacional, tudo o que tocava e fazia reluzia em ouro. Nosso firmamento empresarial ficou coalhado de empresas com a misteriosa e atrativa letra "X", todas com megaprojetos e/ou megaprojeções.

Sabendo da irresistível atração da terna Dona Dilma pelos mais fortes (vide sucessivos subsídios ao setor automobilístico, com zero de contrapartida), jogou seu charme de megaempresário p'ra cima do Planalto e, bingo!, acertou na mosca: o BNDES virou seu sócio em nada menos que cinco empresas. A partir daí ele relaxou e aproveitou, o problema de sua saúde financeira virou problema sério para a supersimpática Dona Dilma, mais para ela que para ele.

Começou pelo Hotel Glória, um ícone do Rio, comprado em 2008 por Eike através de sua empresa REX, que iniciou então a reforma e modernização do prédio. Passados 5 anos, as obras estão apenas com um pouco mais de um terço das obras concluído (35%), um ritmo absurdamente lento para um empreendimento privado de um empresário que vende a imagem de dinâmico. A REX é também concessionária da Marina da Glória, outro ícone da cidade. A ganância de Eike quis transformar a Marina em um apêndice do Hotel Glória, com a construção ali de um centro de convenções e outros penduricalhos que aumentariam tremendamente a atratividade do hotel. A coisa vazou, a população esperneou, e o Iphan em dezembro de 2011 negou aprovação ao projeto. Eike fez umas maquiagens no produto, mas em audiência pública no início desde ano o projeto foi novamente contestado. Daqui a pouco, Eike perde a paciência, chama seus padrinhos de alto coturno nas altas esferas governamentais no RJ e alhures (leia-se Brasília), e o Rio vai acabar engolindo esse monstrengo goela abaixo. Tomara que eu esteja 100% errado mas, sei não.

O famigerado Porto-Açu, no norte do Estado do Rio, talvez o mais controvertido e mal-cheiroso megaprojeto de Eike, é tocado pela LLX, sua empresa de logística e infraestrutura. Porto-Açu é um megasaco de encrencas, de erros de projeto, planejamento e gestão. Seus problemas cobrem todo o arco possível de lambanças: trabalhistas, ambientais, erros de estudos de viabilidade, erros de projetos e os escambau. A água, que deveria estar fora, entrou no megaporto. A principal empresa a se instalar no porto seria uma siderúrgica do grupo chinês Wuham Iron and Steel Co. (Wisco). No ano passado, porém, a Wisco desistiu do negócio por falta de infraestrutura no local. O estaleiro previsto da Hyundai Heavy Industries começou a periclitar, e Eike mostrou seu poder de mobilização no Planalto transformando o ministro Fernando Pimentel em seu mascate para, num jogo imundo, tentar transferir para Porto-Açu o estaleiro Jurong Aracruz, da SembCorp Marine, sediada em Cingapura, em construção no Espírito Santo. Em meados de março passado a revista Época denunciou a maracutaia, o governador do Espírito Santo encrespou e a coisa parece que melou.

Recentemente, a revista Veja denunciou que os alicerces das instalações do porto começaram a ruir, por falta de estudo do solo. Apesar do desmentido da LLX, as ações da empresa começaram a derreter em 08/4. No entanto, esse e vários outros problemas da construção de Porto-Açu vêm sendo denunciados desde o ano passado pelo blogue PortoX.  Novamente, Eike exerceu seu controle sobre o Planalto e, rapidinho, a cândida Dona Dilma em menos de 24h acionou a Petrobras para socorrer a LLX. Resultado: só com o simples aceno dessa ajuda da "nossa" (do PT) petroleira, as ações da LLX subiram no dia 09/4 mais de 10%, a maior alta da Bovespa.

A petroleira OGX, considerada a jóia da coroa do império Eike (da qual o BNDES é sócio) começou como um foguete, bombando adoidada. Depois, ficou superevidente que as reservas e a produção da empresa estavam a anos-luz para menos do projetado, as agências Standard & Poor's e Moody's rebaixaram a classificação da empresa e suas ações começaram a derreter. O problema já preocupava em junho de 2012, quando suas ações caíram 25% por causa da baixa produção de um de seus poços. O papel, que em outubro de 2010 chegou a valer R$ 23,00, no dia 05/4 passado chegou ao mínimo de R$ 1,64.  No Planalto e no BNDES consta que as luzes amarelas começaram a piscar até nos banheiros. Consta também que, desde o final de 2011, as perdas do BNDES com as empresas de Eike de que é sócio já chegam a R$ 400 milhões (dinheiro do contribuinte, é bom lembrar).

Mas, se ilude quem pensa que o poder de "convencimento" de Eike Batista com as autoridades se limita só às suas empresas, ele cobre também -- é claro -- sua família. Ficou famoso o caso de seu filho Thor, que em março do ano passado, atropelou e matou um ciclista na rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias. Por causa disso, ele foi indiciado por homicídio culposo (sem intenção de matar) em maio do ano passado e a perícia concluiu que ele estava a 135 km/h num local em que a velocidade máxima era de 110 km/h. O advogado de Thor revelou-se um especialista em trânsito, automobilismo e dinâmica dos sólidos e chamou de "ficção científica" o laudo da perícia. Aí, começou a operar a engrenagem implacável do pai do acusado, Eike Batista. Agora, um "novo" laudo pericial concluiu que "o carro dirigido por Thor estava possivelmente entre 100 e 115 quilômetros por hora no momento do atropelamento" -- com isso, desaparece por milagre a agravante do excesso de velocidade.

Consta que a Mercedes Benz, projetista do bólide prata "dirigido" por Thor, cogita seriamente de contratar o rapaz e o novo perito de seu caso para, respectivamente, piloto de testes e assessor técnico, para testes  de pista e avaliação da efetiva capacidade de desaceleração de seus carros.

Eike Batista, certamente, nos promete novas emoções.

2 comentários:

  1. Somando tudo, ouso perguntar com seriedade:
    O esporte já não tem um número regulamentar de janotas safados? Quantos faltam?
    Enquanto as respostas não vêm, sugiro que assistam o ótimo "Justiça Para Todos", com o imperdível Al Pacino.

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  2. Vasco,

    Cosnta que a Technip construiu no porto do Açu uma fábrica de tubos para extração de petroleo. Mas se faltam utilidades como energia, agua, transporte, telecomunicações... Quanto ao acordo com a Petrobras, o porto escoaria o petroleo extaido do pré-sal. Quer dizer,estamos na mesma.
    Agenor

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