[O texto abaixo é da autoria de NeyCarvalho e foi publicado no dia 14 no jornal O Globo. O texto está disponível apenas para os assinantes e para os leitores da versão impressa do jornal, mas foi reproduzido na íntegra no Blog do Murilo. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Privatização petista
Ney Carvalho (*) - O Globo, 14/4/2013
Não existem diferenças
conceituais entre as privatizações dos anos 1990 e a venda de ativos que
está promovendo a Petrobras, documentada em longa reportagem da
"Época" [ver postagem sobre isto]. Ambos os episódios derivam da necessidade de fazer caixa. O
anterior, de demanda do próprio Estado, sufocado por longa série de
iniciativas desastrosas, e o atual, da maior das estatais brasileiras,
que precisa levar avante seu ambicioso plano de investimentos.
Quando conduziram as
primeiras concessões em seus governos, os próceres petistas cuidaram de
fazer crer que eram tratativas distintas. As privatizações teriam
alienado patrimônio público, e as concessões não eram admitidas como
tal, pois, após o prazo contratual, os ativos retornariam ao controle
estatal. Simples sofisma, incapaz de ocultar a dura realidade da maior
eficiência da gestão privada.
Entretanto, pelo que se
verifica da matéria na revista, a Petrobras está vendendo parcela
substancial de seu patrimônio. A operação é conhecida como "Feirão", e
inclui refinarias, poços de petróleo, equipamentos, participações em
empresas, redes de distribuição etc. Curiosamente sua condução está a
cargo de uma gerência que se intitula de "Novos Negócios", quando mais
apropriado seria alcunhá-la de "Velhos Negócios" - ou seja, aqueles que
não são mais necessários aos fins da companhia.
Trata-se, de fato, de
privatização, porque estamos falando da maior empresa pública brasileira
e de bens valiosos que estão contabilizados em seus ativos. O que
impressiona neste caso, e o distingue fundamentalmente das
privatizações, é a falta de transparência com que o assunto é conduzido.
As dezenas de operações
dos anos 1990 foram executadas no âmbito do PND (Programa Nacional de
Desestatizações). Cabe recordar que havia audiência prévia do TCU
(Tribunal de Contas da União), gestão do processo pelo BNDES, avaliações
por consultores independentes e ampla divulgação de condições através
da publicação de extensos editais elucidativos. Mas, sobretudo, a venda
em hasta pública, aberta a quem estivesse em condições de competir,
mediante leilões cristalinos na Bolsa de Valores. E, mesmo assim, as
privatizações foram alvo dos mais veementes e incivilizados protestos
oriundos do petismo e seus aliados.
A reportagem documenta a
venda de metade da participação na Pesa - Petrobras Argentina - a um
determinado empresário portenho, que seria velho parceiro dos governos
Kirchner. Algumas perguntas estão sem resposta. Quais foram as condições
do negócio? Houve algum tipo de competição? Como foi estabelecido o
preço? Existiriam outros interessados? E as demais alienações? Como
serão conduzidas?
A Petrobras vem
apresentando uma sólida e consistente perda de valor em Bolsa, resultado
da descrença em sua gestão. A caixa-preta do "Feirão" só contribui para
o agravamento desta tendência. Era melhor que a companhia adotasse os
mesmos critérios de transparência com que foram implementadas as
privatizações da década de 90. [Resumo da ópera: o petróleo é "nosso", e a Petrobras é do PT ou de quem ele decidir que seja.]
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(*) Ney Carvalho é historiador
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