segunda-feira, 15 de abril de 2013

Mudança climática passa a ser matéria do curso de ciências nos EUA -- e no Brasil, o que fazemos e para onde vamos nessa área?

[A reportagem que traduzo abaixo me foi encaminhada pelo dileto amigo Amauri, a quem agradeço. O texto é de Judy Molland e foi publicado em 13/4 no site care2. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Uma boa e uma má notícia.

A boa notícia é que os estudantes americanos, pela primeira vez, terão ensino sobre mudanças climáticas, após a adoção na terça-feira passada [09/4] das novas diretrizes sobre educação científica. Essas diretrizes adotam também uma posição firme no sentido de que as crianças têm que aprender sobre evolução, a ideia orientadora central nas ciências biológicas há mais de um século -- mesmo que alguns da extrema-direita optem por negar a realidade.

A notícia ruim é que os estados não são obrigados a adotar essas diretrizes, ainda que 26 deles, incluindo Arizona, California, Iowa, Kansas e Nova Iorque, tenham se comprometido a levá-los em conta seriamente. [Lembrando que os EUA têm 50 estados e o Distrito Federal (Washington, DC).]

As Normas sobre Ciências para a Próxima Geração são as primeiras recomendações nacionais amplas sobre educação científica desde 1996. Foram desenvolvidas por um grupo de 26 governos estaduais, e vários grupos representando cientistas e professores. Essa equipe informou que as diretrizes visavam a combater a ignorância científica generalizada, padronizar o ensino entre os estados, e aumentar o número de graduados de ensino secundário (high school) que optam por especializações científicas e técnicas no ensino superior. [O ensino nos EUA é divido em ensino primário (do 1° ao 5° ano), ensino médio (do 6° ao 8° ano), o ensino secundário (high school, do 9° ao 12° ano) e o ensino superior (college ou university).]

Isso é crítico para o futuro econômico da América, já que os EUA continuam atrasados em comparação com outros países: numa pesquisa global sobre educação em 2009, por exemplo, Shanghai [China] colocou-se em primeiro lugar, enquanto os EUA ficaram em 26° entre 65 classificações de âmbito global em avaliações combinadas para matemática, ciência e leitura. [A autora refere-se à pesquisa de 2009 do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA, em inglês), de âmbito mundial, feito anualmente pela OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos. Nesse levantamento citado, os EUA ficaram em 31° lugar em matemática, em 23° lugar em ciências e em 17° em leitura. Shanghai tirou o primeiro lugar nas três matérias. O Brasil ficou em 63° em matemática -- atrás de Argentina (61ª), Venezuela (60ª), Costa Rica (55ª), México (53°), Chile (50°), Uruguai (47°), Azerbaijão (45°), Rússia (38ª), Portugal (32°) --, em 59° lugar em ciências (ganhando da Argentina e da Colômbia, mas perdendo para México (55°), Venezuela (52ª), Uruguai (50°), Costa Rica (48ª), Chile (44°), etc. Em leitura, fomos o 57°, atrás de Colômbia (56ª), Venezuela (52ª), México (50°), Uruguai (49°), Costa Rica (44ª) e Chile (43°). Alguém por acaso viu alguma preocupação dos governos petistas quanto a isso? Claro que não, basta dar uma olhada na lista dos ministros da Educação dos governos do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) e da supersimpática Dona Dilma: Cristovam Buarque (uma tremenda decepção - 01/01/2003 a 27/01/2004); Tarso Genro (27/01/2004 a 29/7/2005); Fernando Haddad (29/7/2005 a 24/01/2012 -- uma barbaridade de permanência e de incompetência); Aloizio Mercadante (24/01/2012 a 11/9/2012; Marta Suplicy (11/9/2012 até o presente).]

Uma razão para essa colocação americana é que em muitos estados o ensino intensivo de ciências não começa senão no secundário (high school). Uma pesquisa recente com 932 professores primários, feita na área da Baía de S. Francisco, concluiu que cerca de 80% desses professores dedicam menos de uma hora por semana às ciências, e outros 16% não lhes dedicam tempo algum.

Em muitos aspectos, essas normas sobre ciências lembram um conjunto separado conhecido como Núcleo Comum (Common Core), que está mudando o ensino de Língua Inglesa e de Matemática: a ideia é impor e aprimorar normas, com foco em pensamento crítico e pesquisa básica. Até agora, 45 estados e Washington, DC já adotaram as normas do Núcleo Comum. Analogamente, as normas sobre [ensino de] ciências enfatizam também o aprendizado prático e o pensamento crítico, em vez da memorização de fatos.

Do [jornal inglês] The Guardian: "Mudança climática não é um tema político, nem um debate. É ciência. É pesquisa científica intensa e fortemente apoiada, e a nossa esperança é que os professores não vejam isso como um tema político ou um debate político", disse Mario Molina, vice-diretor da Aliança para Educação Climática. [Ver postagens anteriores sobre o background científico do estudo de mudanças climáticas.]

Molina disse que as normas novas ajudarão a orientar os professores no ensino sobre mudanças climáticas. Entretanto, um ponto crítico foi que organizações relacionadas com ciências oferecem apoio e recursos a professores que podem não ser tão familiarizados com mudanças climáticas como são com outras áreas da ciência.

Como era de se prever, houve de imediato quem se opusesse a essas novas normas. Do The New York Times [ver aqui]: "Por exemplo, enquanto as normas estavam sendo rascunhadas, um grupo denominado Cidadãos para Educação Pública Objetiva, que inclui funcionários graduados da Flórida e de Kansas, distribuíram uma carta de nove páginas atacando essas normas. A carta alertava que estas ignoravam evidências contra a evolução, promoviam um "humanismo secular" [que, diabos, é isto?!] e ameaçavam "sequestrar dos pais o direito de orientar a educação religiosa de seus filhos".

Haverá resistência, previsivelmente de estados como Oklahoma e Texas mas, pelo menos, deu-se um passo adiante. O que você acha?






3 comentários:

  1. Amigo VASCO:
    Sem dúvidas, é uma iniciativa louvável.
    Mas de resultados duvidosos.
    Explico: cada vez mais se conhece o que acontece no mundo (e fora dele), daí as dúvidas sobre Evolucionismo e Criacionismo, muito comum nas escolas americanas; depende da orientação religiosa dos professores e da própria escola.
    Temas como o aquecimento global são colocados com a "bola da vez" sem que se tenha uma real compreensão dos efeitos causados
    pela atividade industrial (no mundo todo) nos parâmetros meteorológicos atuais.
    Tenho a convicção de que efeitos climáticos não podem ser estudados em décadas; possivelmente, nem em poucos séculos.
    Já passamos por várias épocas glaciais, já sobrevivemos (não nós, que ainda não existíamos) ao desaparecimento de espécies, como os dinossauros, aparentemente caudado por uma colisão com um meteoro ou cometa que esfriou a Terra.
    O nosso "pálido ponto azul" , nos dizeres de CARL SAGAN, parece ter um estoque de vida acima de qualquer catástrofe.
    Afinal, constituímos um 'sistema fechado'.
    Nada contra om ensino. Isso só vai levar a um maior percentual de estudiosos das ciências.
    Pena que não é aqui, por nossas terras.
    Abraços - LEVY

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    1. De acordo! Esses estudos quanto às mudanças climática são estatísticos, onde não existem nem o certo nem o errado, que correspondem às probabilidades 0 e 100%. A hipótese nula pode ser: “As mudanças climáticas estão ocorrendo”. A resposta “sim” tem um risco de estar errada, e a resposta “não” tem outro risco de estar errada. O que importa na realidade é a questão menos subjetiva: “Vale ou não vale a pena proteger o planeta que habitamos?”. Alguns querem torná-lo bem marrom escuro, dado que querem explorá-lo, outros já preferem vê-lo mais verde, pois o acham bonito. Eu me enquadro nesses últimos e ainda acredito piamente que as mudanças climáticas chegaram, por variadas razões pessoais e profissionais.

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  2. Pois é, Vasco!
    Estudar não faz parte do futuro no Brasil. Ele virá, muito mais, do jeitinho brasileiro de se virar. Falar direito o português é uma bobagem, embora permita uma boa conversa ou até mesmo uma promoção no trabalho, quem sabe? Falar inglês resume-se ao “Hands up!”. E o emocionante “detesto matemática” escuta-se amiúde. Contudo, seriam míseros conhecimentos de matemática que evitariam que a pessoa se endividasse no cartão de crédito. Essas crendices não fazem parte do nosso cotidiano.

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