sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O que a democracia está armando para a principal cidade do país?!

Todo período eleitoral no Brasil é ocasião para lições e aberrações de toda natureza, e é sempre o momento em que a democracia se nos afigura uma brincadeira de mau gosto ou uma tremenda gozadora. Acho que uma das inúmeras "definições" que ajuda a vislumbrar -- entender, dificilmente -- a volubilidade da democracia é a de Marquis de Flers Robert e Arman de Caillavet : "democracia é o nome que damos ao povo sempre que precisamos dele".

Poucos lugares no país têm se mostrado mais excêntricos em períodos eleitorais do que a cidade de S. Paulo, nossa maior e principal cidade, capital da nossa locomotiva. Em outubro de 1959, a cidade elegeu como "vereador" com 100 mil votos um rinoceronte do jardim zoológico da cidade, chamado Cacareco.

Para as eleições deste ano a cidade pode eleger um outro tipo de Cacareco, só que sob a forma de um ser humano. Disputam ferozmente as eleições, em ordem alfabética, Celso Russomano (PRB), Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB).

Para situarmos melhor o que está em jogo quando se fala em prefeito dessa cidade chamada São Paulo, aí vão alguns dados: i) é a sexta cidade mais populosa do planeta, do continente americano e de todo o hemisfério sul; - ii) em 2009 o PIB do município foi de R$ 389 bilhões, o equivalente a 12,38% do PIB brasileiro; - iii) se fosse um país, nessa época S. Paulo seria a 40ª economia do mundo; - iv) é o maior centro financeiro, corporativo e mercantil da América do Sul; - v) a consultora econômica internacional PricewaterhouseCoopers estima que em 2025 a cidade será a 6ª mais rica do mundo; - vi) seu brasão diz "Non ducor, duco" -- "Não sou conduzido, conduzo".

Isso posto, voltemos às eleições municipais de S. Paulo. Quem são seus principais candidatos?

Celso Russomano (55 anos) é um repórter que se projetou enormemente na cidade e no estado de S. Paulo através do programa "Aqui Agora", em que mediava reclamações de consumidores que se sentiam lesados em sua compras e contratos. Por conta disso, elegeu-se deputado federal em 1994 como o mais votado dessas eleições. Foi acusado em 1998 por exercício ilegal de advocacia, e por falsidade ideológica no Supremo Tribunal Federal em 2000. Foi citado em diálogo de membros da quadrilha de Carlinhos Cachoeira. Em 2010 foi candidato a governador do Estado de S. Paulo, recebendo mais de 1,3 milhão de votos e ficando no terceiro lugar.  Experiência executiva: zero.

Fernando Haddad (49 anos) é professor de Ciência Política na Universidade de S. Paulo, onde se formou em Direito, fez mestrado em Economia e doutorado em Filosofia. Foi ministro de Educação de julho de 2005 a janeiro de 2012 dos governos de Lula (o Nosso Pinóquio Acrobata - NPA) e de Dilma. Em 2001, assume a função como chefe de gabinete da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico do município de São Paulo, no início da gestão da prefeita Marta Suplicy, integrando-se à equipe encarregada de equacionar o desequilíbrio fiscal provocado pelas dívidas herdadas da gestão anterior. Em 2003, Fernando Haddad é convidado por Guido Mantega para integrar sua equipe do Ministério do Planejamento, em Brasília . Na função de assessor especial, formata a Lei de Parcerias Público-Privadas, as PPPs, destinada a estimular empresários a investir em áreas consideradas estratégicas pelo governo federal.

José Serra (70 anos) é economista, com mestrado em economia pela Universidade do Chile e doutorado pela Universidade de Cornell (EUA). Fez engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de S. Paulo. Foi governador do Estado de S. Paulo de janeiro de 2007 a abril de 2010, quando renunciou ao cargo para ser pela segunda vez candidato à Presidência da República, sendo derrotado por Dilma Rousseff (na primeira vez, em 2002, foi derrotado por Lula (o Nosso Pinóquio Acrobata - NPA). Foi prefeito de S. Paulo em 2005-2006, secretário de Planejamento de S. Paulo (1983/86), ministro do Planejamento e Orçamento (1995/96) e ministro da Saúde (1998/2002), ambos estes cargos no governo FHC.

Na última pesquisa Datafolha, em 03 de setembro, Russomano ocupava folgado a liderança com 35% das intenções de voto, abrindo 14 pontos de frente em relação ao seus principais adversários -- Serra (21%) está praticamente em empate técnico com Haddad (16%). Quanto ao índice de rejeição, Serra é o líder disparado com 42%, contra 12% a 15% de Russomano e 18% de Haddad.

Vemos pois que a pujante cidade de S. Paulo está dando uma de camicase e se jogando nos braços de um político absolutamente inexperiente, um Cacareco versão 2012. Serra é, inegavelmente, o de melhor currículo, mas é uma mala sem alça -- além de extremamente antipático como pessoa, ficou marcado como um fominha de cargos (com dois fracassos retumbantes em sua aspiração a presidir o país) e um político que trapaceia seus eleitores, não cumprindo integralmente mandatos para os quais foi eleito. E Fernando Haddad, mais um poste político inventado pelo NPA, foi simplesmente medíocre como ministro da Educação -- é unicamente fruto da gana pessoal e do egoísmo do NPA, querendo provar a si mesmo e ao país que consegue eleger quem quiser na principal cidade do país, com o sabor adicional de massacrar Serra.

Diante desse quadro lamentável, só nos resta desejar melhor sorte aos paulistanos e lembrar-lhes que Bernard Shaw (1856-1950) já dizia que "a democracia é o processo que garante que não sejamos governados melhor do que merecemos".  No jargão popular, "cada povo tem o governo que merece" -- aí estão Sérgio Cabral, Jorge Roberto Silveira (Niterói), Cid Gomes (Ceará), Agnelo Queiroz (DF), Roseana Sarney (Maranhão), Tarso Genro (Rio Grande do Sul) e -- por que não? -- Dilma Rousseff, que confirmam a sabedoria daquele gênio irlandês.

Um comentário:

  1. Já que o prefeito de Niterói, aquele tipo silvestre do juízo final e que se chama Jorge Roberto Silveira, foi citado, ouso incluir na lista o Faraó Dudu Maluco, RJ, amigo de Sérgio Cabral e de Cavendish. Para atestar a sabedoria do gênio irlandês, a eleição desse lombroziano personagem deve ocorrer.

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