[Mais uma vez, vale o ditado: se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come ...]
Acendeu a luz amarela na "novela" dos juros dos cartões de crédito. A
"guerra" do governo, iniciada para forçar os bancos a baixar as taxas e
estimular o consumo, pode ter o efeito inverso. Para reduzir as taxas no
crédito rotativo, alguns bancos planejam acabar com os parcelamentos
"sem juros" ou cobrar uma taxa extra dos lojistas.
O Valor apurou que o governo não vai permitir que os
bancos cobrem essa taxa adicional, nem vai aceitar o fim abrupto da
prática do parcelamento. Teme-se que essas restrições afetem
negativamente o consumo das famílias exatamente no momento em que a
economia começa a dar sinais de recuperação. Os técnicos entendem que
pode haver desestímulo às compras, principalmente de bens duráveis,
passagens aéreas e pacotes turísticos. O estoque de crédito parcelado
atinge R$ 90 bilhões, cerca de 70% de todo o financiamento nos cartões.
A batalha contra a venda parcelada "sem juros" provocou uma divisão
entre os dois maiores bancos privados do Brasil. O Itaú Unibanco é o
principal defensor da proposta de cobrar a taxa extra. O Bradesco é
contra. Os bancos públicos tendem a uma posição mais próxima da do
Bradesco. Isso porque o estoque de operações parceladas sem juros nessas
instituições é significativamente inferior ao dos bancos privados. Os bancos alegam que o parcelamento é uma das principais razões da cobrança de juros elevados no crédito rotativo, forma de crédito usada
pelos usuários de cartões que não conseguem pagar o total da fatura no
vencimento ou que ficam inadimplentes. Nas últimas semanas, o governo
forçou, por meio dos bancos estatais -- Caixa Econômica Federal e Banco
do Brasil --, a queda dos juros do crédito rotativo.
As taxas caíram de forma acentuada, embora continuem bastante elevadas.
No caso do Bradesco, por exemplo, o juro máximo do crédito rotativo caiu
de 14% para 6,9% ao mês. No Itaú, a taxa máxima recuou para 9,9% e no
HSBC para 15,95% ao mês, a maior dos grandes bancos. No BB, a mesma taxa
desceu a 5,7% ao mês e, na Caixa, para 5,65%. [Essas reduções provam o quanto de "gordura" havia -- e, certamente, ainda há -- nas taxas escorchantes cobradas nos cartões dos bancos. Esse burburinho quanto a acabar parcelamento, cobrar taxa extra, etc, é esperneio de quem está acostumado a comer um belo filé mignon inteiro e não quer perder nenhum pedaço.]
As próprias empresas varejistas já são afetadas pelo corte dos juros nos
cartões. As ações de grandes varejistas de capital aberto tiveram forte
queda ontem na bolsa de São Paulo (veja gráfico). Analistas do mercado
alertaram os investidores para o risco de queda nos lucros das
varejistas que oferecem serviços financeiros, porque terão de igualar
suas taxas às oferecidas agora pelos bancos para não perder espaço.
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