quinta-feira, 27 de setembro de 2012

"Guerra" aos juros ameaça consumo

[Mais uma vez, vale o ditado: se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come ...]

Acendeu a luz amarela na "novela" dos juros dos cartões de crédito. A "guerra" do governo, iniciada para forçar os bancos a baixar as taxas e estimular o consumo, pode ter o efeito inverso. Para reduzir as taxas no crédito rotativo, alguns bancos planejam acabar com os parcelamentos "sem juros" ou cobrar uma taxa extra dos lojistas.

O Valor apurou que o governo não vai permitir que os bancos cobrem essa taxa adicional, nem vai aceitar o fim abrupto da prática do parcelamento. Teme-se que essas restrições afetem negativamente o consumo das famílias exatamente no momento em que a economia começa a dar sinais de recuperação. Os técnicos entendem que pode haver desestímulo às compras, principalmente de bens duráveis, passagens aéreas e pacotes turísticos. O estoque de crédito parcelado atinge R$ 90 bilhões, cerca de 70% de todo o financiamento nos cartões.

A batalha contra a venda parcelada "sem juros" provocou uma divisão entre os dois maiores bancos privados do Brasil. O Itaú Unibanco é o principal defensor da proposta de cobrar a taxa extra. O Bradesco é contra. Os bancos públicos tendem a uma posição mais próxima da do Bradesco. Isso porque o estoque de operações parceladas sem juros nessas instituições é significativamente inferior ao dos bancos privados. Os bancos alegam que o parcelamento é uma das principais razões da cobrança de juros elevados no crédito rotativo, forma de crédito usada pelos usuários de cartões que não conseguem pagar o total da fatura no vencimento ou que ficam inadimplentes. Nas últimas semanas, o governo forçou, por meio dos bancos estatais -- Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil --, a queda dos juros do crédito rotativo.

As taxas caíram de forma acentuada, embora continuem bastante elevadas. No caso do Bradesco, por exemplo, o juro máximo do crédito rotativo caiu de 14% para 6,9% ao mês. No Itaú, a taxa máxima recuou para 9,9% e no HSBC para 15,95% ao mês, a maior dos grandes bancos. No BB, a mesma taxa desceu a 5,7% ao mês e, na Caixa, para 5,65%. [Essas reduções provam o quanto de "gordura" havia -- e, certamente, ainda há -- nas taxas escorchantes cobradas nos cartões dos bancos. Esse burburinho quanto a acabar parcelamento, cobrar taxa extra, etc, é esperneio de quem está acostumado a comer um belo filé mignon inteiro e não quer perder nenhum pedaço.]

As próprias empresas varejistas já são afetadas pelo corte dos juros nos cartões. As ações de grandes varejistas de capital aberto tiveram forte queda ontem na bolsa de São Paulo (veja gráfico). Analistas do mercado alertaram os investidores para o risco de queda nos lucros das varejistas que oferecem serviços financeiros, porque terão de igualar suas taxas às oferecidas agora pelos bancos para não perder espaço.

Variações das ações ON das empresas varejistas no pregão de ontem da Bovespa (clique na imagem para ampliá-la) - (Fonte: Valor Econômico).

Algumas lojas, como a Renner, cobravam historicamente juros menores que os dos cartões de bancos. Com a recente redução dos juros no Bradesco e no Itaú, esses bancos passaram a oferecer taxas menores. Para voltarem a ser competitivas, as lojas terão de reduzir seus resultados, o que explica a queda na cotação de suas ações na bolsa.

[Caçador inexperiente se mete em encrenca. O governo quer domar o mercado sem ser do ramo, achando que pode tomar conta do quintal dos outros como toma do seu. Mirou na onça e corre o risco de ter acertado o próprio pé. Apesar dos sinais mais do que evidentes de que a solução econômica de estímulo ao consumo já beira a exaustão, com os níveis de endividamento e de inadimplência das famílias atingindo patamares perigosos, Dª Dilma insiste em sua teimosia e agora se vê diante da possibilidade indigesta (para ela) de ver seu tiro contra os juros virar um bumerangue e nocautear seu adorado projeto.]






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