sábado, 1 de setembro de 2012

Microsoft contra Apple, parte 2

Mesmo com todo o barulho gerado pela decisão da justiça americana e a pesada indenização imposta à Samsung, a disputa da Apple com a coreana não conseguiu desbancar a Microsoft como a maior rival histórica da Apple.

Há cerca de 30 anos, a computação se dividiu em dois mundos aparentemente irreconciliáveis: a turma dos PCs, da Microsoft, e a dos Macs, da Apple. Desde então, as duas empresas foram pródigas em batalhas judiciais — e seus criadores, Bill Gates e Steve Jobs, em criticar um ao outro.  Um novo capítulo dessa história começa em outubro, quando a Microsoft passará a vender o Windows 8, uma nova versão de seu popular sistema operacional. Além de reforçar sua posição hegemônica no mercado de PCs, a novidade marcará um rompimento no seu modelo de negócios.

Junto com o Windows 8, que também rodará em tablets, será lançado o Surface, a aposta da Microsoft para brigar com o iPad, da Apple. A empresa que é quase um sinônimo de fabricante de software vai se arriscar como produtora de hardware. Sempre que mostra as novas armas em apresentações, Steve Ballmer, presidente da Microsoft, não economiza na retórica. “O Windows 8 é a coisa mais importante que fizemos nos últimos 17 anos”, disse num evento na Coreia do Sul em julho. Na mesma ocasião, Ballmer comparou a importância do Windows 8 para o mercado de tablets à do Windows 95 na popularização dos PCs na década de 90.

Semanas depois, a empresa deu mais um sinal de que pretende mudar sua imagem ao fazer as primeiras alterações em seu logotipo em 23 anos. “O novo logo representa uma nova era, o recomeço”, disse Jeff Hansen, diretor de marketing da Microsoft, no blog da empresa.  O que fez a empresa de Gates se mexer — tardiamente, dizem seus críticos — foram as previsões para o mercado da computação pessoal. Por enquanto, a situação da Microsoft é confortável. Cerca de 90% dos sistemas operacionais embarcados em desktops e notebooks são versões Windows.

A ameaça é a velocidade com que avançam os tablets, já responsáveis por 14% do mercado de computadores. “Pelos nossos cálculos, em três anos, eles devem responder por 36% do total das vendas”, diz a japonesa Mikako Kitagawa, analista da consultoria americana Gartner, especializada em tecnologia. Na sede da Microsoft, na cidade americana de Redmond, os sinais dos novos tempos começam a ser sentidos. No último trimestre de seu ano fiscal, encerrado no dia 30 de julho, a Microsoft amargou um prejuízo de 492 milhões de dólares. Foi o primeiro resultado negativo desde que abriu o capital em 1986. Uma das responsáveis pela queda foi justamente a divisão Windows. Entre maio e julho, as vendas do sistema operacional tiveram queda de 12,5% em relação ao mesmo período do ano passado.

O terceiro elemento

Como se enfrentar a Apple, que criou o mercado de tablets em 2010, não fosse uma batalha ingrata, a Microsoft ainda tem de se preocupar com o Google, a gigante da internet. Em 2008, o Google lançou o sistema operacional Android, hoje presente em 30% dos tablets, a maior parte deles produzida pela Samsung. Sua última cartada veio em julho, quando passou a vender seu próprio tablet, o Nexus 7. O aparelho, comercializado nos Estados Unidos por 199 dólares, menos da metade do preço do iPad, esgotou-se rapidamente nas lojas e deverá ter vendidos 9 milhões de unidades até o fim de 2012. Caso isso se concretize, será o segundo mais popular no segmento.

Embora considerada necessária, a guinada da Microsoft tem causado mal-estar. Os fabricantes de PCs não esconderam a insatisfação de ver o aliado histórico como um novo competidor. “Não é algo que vocês sabem fazer. Por isso, pensem duas vezes”, disse o taiwanês JT Wang, presidente da Acer, terceira maior fabricante de computadores do mundo, numa entrevista recente para o jornal inglês Financial Times. “Vocês vão criar um enorme impacto negativo em nosso ecossistema".

No momento em que a Microsoft, um transatlântico no mundo da computação, decide mudar de rumo, toda a cadeia voltada para a fabricação de PCs começa a temer pelo futuro de seu mercado. Na visão de vários analistas, a empresa só correu o risco de desagradar a seus fornecedores por saber que hoje não existe nenhum concorrente de peso para o Windows. Apesar do mau humor dos parceiros, a Microsoft ganha vantagens competitivas ao produzir seu próprio aparelho. Ao ter sob controle o hardware e o software — no melhor estilo Apple —, pode garantir a qualidade e o valor final do produto. “A Microsoft espera criar um novo padrão de excelência com o Surface”, afirma a analista americana Sarah Rotman, da empresa de pesquisas Forrester Research.

Cenas dos próximos capítulos

Recentemente, houve rumores de que o Surface chegaria ao mercado americano por 199 dólares. Caso isso seja confirmado, o aparelho terá um preço altamente competitivo, somente possível se a empresa optar pela estratégia que já adota no mercado de games. O console Xbox 360 é vendido por um valor abaixo do preço de custo, mas, no fim, o negócio acaba dando lucro por causa da venda de jogos.

No caso do Surface, a receita viria da comercialização de aplicativos e conteúdo digital, como filmes e músicas. Por enquanto, tudo isso não passa de especulações, que serão esclarecidas quando o aparelho for finalmente lançado no mercado, marcando o início oficial do novo round entre Microsoft e Apple.  Nos primeiros 20 anos da briga, a Microsoft investiu na venda de software e, com isso, transformou-se na empresa de tecnologia mais poderosa do mundo. Mais recentemente, a Apple se destacou na criação de aparelhos e bateu todos os recordes ao se tornar a companhia com o maior valor de mercado da história.

A aposentadoria de Gates em 2008 e a morte de Jobs em 2011 não acabaram com a rivalidade. Tim Cook, atual presidente da Apple, e Ballmer, da Microsoft, não têm a aura de gênio de seus antecessores, mas está nas mãos deles o desenlace da luta pelo mercado de tablets.

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