Um dos principais especialistas mundiais em gelo prognosticou para dentro de quatro anos o colapso final do gelo do oceano Ártico em meses de verão. No que chamou de "desastre global" agora ocorrendo nas latitudes do norte, com a área do mar que congela e derrete a cada ano reduzindo-se à extensão mais baixa já registrada, o Prof. Peter Wadhams, da Universidade de Cambridge, apela para que "urgentemente" sejam pensadas ideias novas para reduzir as temperaturas globais.
Em um email para o The Guardian, ele diz: "Mudança climática não é mais algo que possamos almejar abordar no período de uma década, mas que exige medidas urgentes não apenas para reduzir as emissões de CO₂ mas também nos demanda examinar urgentemente outras maneiras de reduzir o ritmo do aquecimento global, como por exemplo as ideias de geoengenharia que têm sido propostas. Tais ideias incluem refletir os raios solares de volta para o espaço, tornar as nuvens mais brancas e semear o oceano com minerais para que ele absorva mais CO₂ [isso parece até coisa do Prof. Pardal (o da Disney, não o da UFF) ...].
Wadhams passou muitos anos coletando dados sobre espessura de gelo fornecidos por submarinos que navegavam submersos no oceano Ártico. Ele previu a iminente quebra do gelo oceânico nos meses de verão de 2007, quando a anterior extensão mais baixa de 4,17 milhões de km² foi verificada. Neste ano de 2012, essa área encolheu inesperadamente um adicional de 500.000 km², atingindo menos de 3,5 milhões de km². "Venho há muitos anos prevendo o colapso do gelo do mar em meses de verão. A causa principal disso é simplesmente o aquecimento global: como o clima aqueceu, tem havido menos formação de gelo no inverno e mais derretimento de gelo no verão".
"No início isso não foi notado; os limites do gelo de verão encolhiam lentamente, a uma velocidade que sugeria que o gelo poderia durar outros 50 anos ou algo assim. Mas, o derretimento de verão acabou por ultrapassar a formação de gelo do inverno de tal modo, que toda a lâmina de gelo derrete ou se parte durante os meses de verão. Previ que esse colapso ocorreria em 2015/2016, quando então o verão ártico (de agosto a setembro) ficaria sem gelo. O colapso final nessa direção está acontecendo agora e, provavelmente, terminará em torno daquelas datas".
Wadhams diz que as implicações disso são "terríveis". "Do lado positivo, estão o aumento das possibilidades de transporte no Ártico e o maior acesso aos recursos offshore de petróleo e gás da região [com seus inerentes impactos ambientais, que o professor surpreendentemente não menciona e que, no caso do petróleo, podem ser catastróficos -- vide BP e Golfo do México]. O principal efeito negativo é uma aceleração do aquecimento global".
"Quando o gelo se retira no verão, o oceano se aquece (para 7°C em 2011) e isso aquece também o fundo/leito do mar. As plataformas continentais do Ártico são compostas de permafrost [solo ou subsolo permanentemente congelado] offshore, sedimento congelado remanescente da última idade do gelo. Com o aquecimento da água [e do leito do mar] o permafrost derrete e libera enormes quantidades de metano armazenado sob ele -- o metano é um gás de efeito estufa muito poderoso e assim esse processo dará um grande impulso ao aquecimento global", diz o professor [risco idêntico existe na Antártica].
16 de setembro de 2012 -- A quantidade de gelo oceânico de verão no Ártico hoje e, em linha amarela, sua extensão média de 1979 a 2000 para o mesmo dia exposto - (Foto: AP).
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