[Nem sempre concordo com o senador Cristovam Buarque, principalmente depois que foi ministro da Educação no primeiro governo de Lula, o Nosso Pinóquio Acrobata, mas o artigo dele no Globo de hoje me pareceu mais uma boa descrição do perfil governista de nossa ex-guerrilheira e ex-quase Dama de Ferro, Dª Dilma Rousseff.]
Dilma erra
Cristovam Buarque - O Globo (22/9/2012)
Com 27 pacotes ou minipacotes econômicos, a presidenta Dilma tem agido
como equilibrista na crise econômica do presente, não como estadista
para fazer o Brasil estar em sintonia com a economia global do futuro.
Os pacotes são corretas ações pontuais, com a redução de custos de
produção, aumento da venda por redução de impostos, e associação com o
capital privado para superar a obsolescência da infraestrutura, mas
pouco ou nada tem sido feito para transformar o Brasil em uma nação
inovadora.
Ser equilibrista no curto prazo é reduzir o Custo Brasil por meio de isenções fiscais ou desonerações na folha de pagamento.
Ser estadista é construir uma economia com alta competitividade, graças à inovação científica e tecnológica.
Equilibrista é aumentar a taxa de crescimento do PIB, estadista é mudar o
PIB. Os pacotes editados desde 2011 podem recuperar parte do espaço
perdido no “made in Brasil”, mas não darão o salto para o “created in
Brazil”.
Vender mais carros no meio da crise mundial é um ato de equilibrista, de
estadista seria criar centros de pesquisa e de produção voltados para o
transporte de massas. Seria fazer a revolução na Educação Básica, aliada a uma grande
Refundação do Sistema Universitário Brasileiro, em colaboração com o
setor privado e por meio da criação de um Sistema Nacional do
Conhecimento e da Inovação, que permita ao Brasil passar a concorrer em
condições de igualdade com os países líderes em Ciência e Tecnologia.
Ser equilibrista é conseguir recursos para aumentar o número de famílias
com Bolsa Família; ser estadista é criar as bases para que todas as
famílias tenham condições de obter suas próprias rendas, sem necessidade
de bolsas, graças a um modelo econômico intrinsecamente distributivo e a
uma educação de qualidade para todos.
Há meses arrastamos um debate sobre o Código Florestal tentando atender
agronegócio e conservacionistas, sem um gesto estadista de mudança de
rumo em direção a um novo modelo econômico com desenvolvimento
sustentável.
Explorar o Pré-Sal é trabalho de um gestor equilibrista, de estadista seria preparar o Brasil para a economia pós-petróleo.
Ser equilibrista é construir viadutos para mais carros, ser estadista é
reorganizar as cidades, a fim de torná-las pacíficas, humanizadas.
Com seus pacotes, a presidenta Dilma tem acertado como equilibrista,
olhando onde colocar os pés em uma corda bamba suspensa. A qualquer
momento, se um vento do Norte balançar a corda, o equilíbrio se desfaz,
como se desfez em tantos países nos últimos anos.
Mas ela erra como estadista por não estar acenando e liderando o país
para uma inflexão histórica no longo prazo: transformar o Brasil em uma
sociedade moderna e com competitividade científica e tecnológica, com um
modelo de crescimento estruturalmente distributivo e em equilíbrio com o
meio ambiente.
O Brasil elegeu a Dilma esperando uma estadista para o futuro, mas ela
está errando ao optar por ser apenas a equilibrista do presente.
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