A primeira etapa do investimento seria de R$ 4 bilhões, dos R$ 12 bilhões anunciados pelo empresário taiwanês, destinados a uma fábrica de telas para televisores. [Pelo que foi anunciado antes, pelo governo e pelo empresário, se trataria de uma fábrica de iPads e não de telas para televisores].
O empresário brasileiro Eike Batista se comprometeu a entrar com R$ 500 milhões na sociedade. Já o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) pode bancar até 30% do negócio -- R$ 1,2 bilhão. O presidente executivo da taiwanesa Foxconn, Terry Gou, quer entrar apenas com a sua tecnologia no capital da empresa. O governo contratou uma consultoria para avaliar o valor da tecnologia, e ainda espera convencer o empresário a entrar também com capital.
Para concluir o investimento, BNDES, Eike e Gou buscam mais sócios. Um do setor de infraestrutura, para construir a unidade, e outro para absorver a tecnologia. No primeiro caso, o governo está conversando com empreiteiras, como Andrade Gutierrez. No segundo, com empresas nacionais como Positivo, Semp e Itautec.
No Palácio do Planalto, a avaliação é de que há 70% de chances de o negócio se concretizar. No mercado, ainda há dúvidas por causa das exgências que a Foxconn deve fazer para se instalar no país, como incentivos fiscais e facilidades de construção ainda não negociados. Em uma etapa posterior, a empresa taiwanesa pode instalar uma segunda unidade no país, também de R$ 4 bilhões, para fabricação de telas sensíveis de tablets, smartphones e computadores.
A Foxconn, que já tem uma fábrica de montagem em Jundiaí (SP), teria planos para uma outra unidade de produção de baterias, placas de energia solar, e outros itens complementares ao negócio. Este último investimento também ficaria na casa dos R$ 4 bilhões, totalizando os R$ 12 bilhões que Terry Gou chegou a anunciar que aplicaria no Brasil.
A expectativa do governo é que até o início do próximo ano seja fechada a engenharia societária do primeiro investimento da Foxconn, considerado mais factível no curto prazo. Os demais são vistos como possibilidades. Para o Palácio do Planal, o acordo de confidencialidade com o BNDES e Eike Batista foi uma demonstração de que Terry Gou está comprometido com a operação. O acordo proíbe os potenciais futuros sócios de revelar detalhes das negociações.
A empresa de Taiwan tem como principais concorrentes as sul-coreanas Samsung e LG, fabricantes de telas sensíveis, aparelhos de TV, tablets e smartphones. A Foxconn não tem marca própria de produtos finais. Produz as sofisticadas telas sensíveis, principalmente na China, e monta aparelhos, como faz em Jundiaí -- onde vai produzir iPhones. Segundo um assessor presidencial, Gou tem dito que não pretende depender tanto da China para seus negócios. Daí sua decisão de negociar a instalação de uma fábrica no Brasil. Ele busca também oportunidades em outros países.
Nas conversas com a presidente Dilma, ele acertou inicialmente um processo de transferência de sua tecnologia -- o que não admite fazer com a China. Ele concentra toda a área de engenharia e desenvolvimento de tecnologia em Taiwan, considerada pelos chineses uma província rebelde. Gou prometeu ao Palácio do Planal treinar 900 engenheiros brasileiros em Taiwan, para trabalhar no que pode ser a futura fábrica de telas para televisores no Brasil. O treinamento será feito em três etapas, cada uma com 300 engenheiros, preparados durante seis meses. Pelo cronograma, a seleção dos candidatos será feita até o fim do ano. Segundo especialistas, cada fábrica de telas da Foxconn demanda 3.000 engenheiros.
Pela tecnologia atual, uma fábrica de telas de televisores não tem capacidade de fazer o mesmo tipo de produto para tablets e smartphones. [Então, o governo fez propaganda enganosa quando anunciou com estardalhaço o investimento de R$ 12 bilhões da Foxconn para fabricar iPads no Brasil]. A tecnologia usada pela Foxconn foi desenvolvida pela sua sócia Chimey Inolux, que atualmente desenvolve uma tela dobrável.
As negociações são acompanhadas de perto pela presidente Dilma Rousseff, que observa o negócio como uma forma de o país atrair e absorver um tipo de tecnologia de ponta concentrado na Ásia. Um assessor presidencial afirma que Dilma e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, têm o assunto como prioritário.
Superada a fase de montagem da engenharia societária e financeira, a etapa seguinte será a escolha do local da fábrica. Seis Estados disputam o investimento: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Bahia, Pernambuco e Paraná. Um técnico envolvido nas negociações diz que a escolha do local é complexa. A fábrica de telas sensíveis é ultramoderna. Tem de ser construída em solo não sujeito a oscilações, e receber a garantia de fornecimento seguro de energia e água pura. Gou já disse que deseja uma fábrica em um local próximo de uma área metropolitana e de um aeroporto, para facilitar a distribuição dos produtos e o recebimento de matéria prima.
Presidente Dilma Rousseff conversa com Terry Gou, no complexo Diyaoutai, em Pequim - (Foto: Roberto Stuckert/PR).
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