É mais ou menos isso. Há bastante evidência de que animais se engajam em um comportamento autodestruidor. Além das baleias que encalham em praias, cachorros e patos foram observados afogando-se espontaneamente, vacas se atiraram de penhascos, e toupeiras sem pelos agem como certos insetos e deixam a colônia para morrer quando infectadas com uma doença contagiosa. Não está claro, no entanto, se quaisquer desses comportamentos são comparáveis com o suicídio humano, porque este envolve um conjunto de habilidades e capacidades cognitivas de ordem mais elevada. [Suicídio] Exige uma percepção da própria existência, uma capacidade para especular sobre o futuro, e o conhecimento de que um ato resultará em morte. Há indicações de que certos animais têm algumas dessas capacidades. Golfinhos, muitos primatas, pegas [um tipo de ave], e elefantes podem reconhecer-se em um espelho, o que sugere autopercepção. Alguns animais sabem como fingir durante atividades recreativas, o que indica uma capacidade e uma habilidade para imaginar mundos alternativos à realidade. Ainda assim, ninguém realmente sabe que animais, caso existam, podem combinar essas capacidades para executar um ato semelhante ao suicídio humano.
Cientistas da era vitoriana eram particularmente interessados nessa questão, segundo o historiador Edmund Ramsden, em um artigo de 2010. Sociedades humanas eram ansiosas para provar que animais vivenciavam emoções semelhantes às humanas, e animais suicidas seriam uma prova disso. Uma série de histórias desse tipo começou a aparecer em periódicos em 1845. Uma delas envolvia um cachorro da raça Newfoundland, deprimido, que repetidamente saltava para dentro d'água, mantinha suas patas imóveis, e "mantinha sua cabeça determinadamente dentro d'água durante alguns minutos". Outros cães se afogavam ou deixavam-se morrer de fome após perderem seus donos. Um cervo pulou em um precipício para não ser capturado por cães de caça. Um pato afogou-se espontaneamente depois de perder o(a) parceir(a). Escorpiões eram supostos suicidar-se quando rodeados por fogo. Pesquisadores se envolveram em um debate ferrenho, e afinal inconclusivo, para definir se esses comportamentos deveriam/devem ser considerados suicídio. -- Exceto quanto aos escorpiões, que evidentemente não estavam tentando suicidar-se: eles são imunes ao próprio veneno.
Mesmo quando cientistas podem explicar a base neurobiológica do comportamento autodestrutivo de animais, ainda não é sempre claro se é "justo" ou correto chamar esse ato de suicídio. O parasita Toxoplasma gondii afeta o cérebro de roedores, e faz com que eles se sintam atraídos pelo seu inimigo mortal, o gato. Seria fácil descartar esse tipo de suicídio de rato como irrelevante para o nosso próprio comportamento, se não fosse por algumas indicações de que infecção pode também desempenhar um papel em suicídios humanos. Em um estudo de 2009 de pacientes com desordens de ânimo recorrentes, pesquisadores da Universidade de Maryland verificaram que aqueles com altos níveis de anticorpos de Toxoplasma gondii eram mais suscetíveis ou tinham mais probabilidade de haver tentado suicídio. Esse estudo é, no entanto, preliminar, e não há sinal de uma conexão causal.
Não importa a motivação, a autodestruição parece ser algo que existe mesmo nas formas de vida mais simples. Algas marinhas unicelulares se envolvem em morte programada de células quando expostas a situações estressantes que eram plenamente capazes de superar. Pesquisadores descobriram recentemente que o "suicídio" de algumas células geravam crescimento nas sobreviventes. Como as toupeiras sem pelo ou as abelhas que abandonam a colônia para evitar uma epidemia, algas morrem pelo bem da sua comunidade.
Baleias encalhadas na praia de Opoutere, na Nova Zelandia - (Foto: Sandra Teddy/Getty Images).
Nenhum comentário:
Postar um comentário