segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A perigosa disputa entre China e Índia em torno do Mar do Sul da China

Foi considerado um novo nível de assertividade a atitude do normalmente tímido primeiro-ministro indiano Manmohan Singh em ter supostamente fitado nos olhos sua contraparte chinesa em uma reunião em Bali na semana passada, e defender o direito "comercial" de seu país de explorar óleo e gas no Mar do Sul da China.  Mas, foi também um sinal dos crescentes atritos entre Índia e China, e do que os especialistas vêem como um jogo perigoso entre as duas nações mais populosas do mundo.

Ameaçada pelos laços rapidamente crescentes entre a China e seus vizinhos do sul da Ásia, a Índia está cada vez mais tentando penetrar na esfera de influência da China, e as irritações mútuas estão começando a surgir. Ocorrendo logo após um acordo entre Índia e Vietnã para a exploração em conjunto de dois blocos no oceano logo ao largo das fortemente contestadas Ilhas Sptratly, a postura de Singh em Bali provocou uma gélida e imediata resposta do ministro do Exterior chinês.

"Não esperamos ver forças externas envolvidas na disputa no Mar do Sul da China, e não queremos ver companhias estrangeiras engajadas em atividades que irão minar a soberania, os direitos e os interesses da China", disse a jornalistas em Beijing o porta-voz do Ministério do Exterior.

O jornal do Partido Comunista chinês foi ainda mais contundente em um editorial no mês passado, acusando Índia e Vietnã de "tentativas imprudentes de confrontamento com a China" [o adjetivo "reckless", que teria sido usado no editorial para qualificar as tentativas, pode também ser traduzido como "irresponsável"], e alertando que a sociedade indiana estava despreparada para um "conflito violento" com a China sobre o assunto.

Uma 15ª rodada de conversações entre proeminentes diplomatas de ambos os lados, marcada originalmente para hoje, foi cancelada em cima da hora, com a mídia indiana responsabilizando por isso uma crescente "dissonância" depois do encontro em Bali. Mais especificamente, reportagens disseram que a China havia solicitado que o governo indiano evitasse que o Dalai Lama falasse em uma conferência budista internacional, a realizar-se esta semana na capital da Índia, uma condição que as autoridades de Nova Delhi se recusaram a aceitar.

Em um nível, a discordância reflete as sensibilidades da China em relação ao Mar do Sul da China, e sua resistência a uma interferência externa em sua disputa com praticamente cada país da região sobre o oceano potencialmente rico de recursos. Mas, representa também uma deterioração nas relações entre China e Índia nos últimos seis anos, e uma nova disputa estratégica na qual cada país tem estado cada vez mais ativo em um local antes considerado o "quintal" do vizinho.

Enquanto seus líderes insistem publicamente que há espaço para ambos países crescerem, especialistas e autoridades dizem que os pesos-pesados da Ásia estão se irritando mais e mais. "As marcas da presença de cada um estão se expandindo, mas a chinesa é muito mais rápida", disse C. Raja Mohan, do Center for Policy Research em Nova Delhi. "Vai haver superposição, vai haver atrito. O desafio é como administrar isso".

Até agora, os dois vizinhos não parecem estar administrando os atritos particularmente bem, e o sentimento nacionalista parece estar crescendo em ambos os países.

O primeiro-ministro indiano Manmohan Singh (à esquerda) e o presidente chinês Hu Jintao se saúdam antes de uma reunião do G-20 este mês - (Foto: Eric Feferberg/AFP/Getty Images).

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