segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Mercados recebem Rajoy com aumentos nos prêmios de risco e quedas nas bolsas

Com o que ocorrendo na Europa e a situação difícil que têm em casa, os investidores não deram nem um minuto de trégua ao futuro governo de Mariano Rajoy, na Espanha. Os mercados financeiros reagiram hoje à acachapante vitória do PP - Partido Popular nas eleições espanholas com mais aumentos no prêmio de risco e fortes quedas na Bolsa espanhola. No fechamento, o diferencial entre a rentabilidade exigida dos bônus espanhois frente aos alemães aumentou em 22 pontos básicos em relação à sexta-feira, até aos 463, com os títulos que vencem em 2021 cotados acima dos 6,5%. Com esse repique, a dívida espanhola foi a que pior evoluiu na jornada de hoje, em comparação com a Itália e  com o resto dos países do euro sob pressão, apesar da chegada dos conservadores ao poder.

Assim, o sobrepreço exigido pelos investidores para os bônus de 10 anos da Itália, a referência que se usa como pista para analisar a evolução do conjunto da dívida soberana de um país, subiu apenas 6 pontos básicos até aos 474. Com esta disparidade de comportamento, a distância entre Espanha e Itália em termos de prêmio de risco, um indicador que é considerado como o melhor termômetro da confiança dos investidores nas finanças de um país, se reduziu consideravelmente a apenas 10 pontos, a menor diferença entre os dois prêmios desde que a rentabilidade da dívida italiana superou a da espanhola em agosto.

Quanto à França, que viu como seu prêmio de risco subia fortemente durante a semana passada, até ultrapassar pela primeira vez na era euro os 200 pontos básicos, ela também sofreu hoje nos mercados. A origem do castigo continua sendo o risco de que o país perca sua invejável nota "A triplo" -- uma espécie de matrícula de honra para a solvência. O medo à tesoura foi reativado por um comunicado da agência de avaliação de riscos Moody's, que há cinco semanas pôs sob avaliação a qualificação da França.

No texto [do comunicado], a agência adverte que "o persistente aumento dos custos de financiamento por um longo período de tempo aumentará o desafio ao governo francês, em meio a uma deterioração de suas previsões econômicas, com implicações negativas" para sua qualidade creditícia. O resultado foi que seu prêmio de risco chegou a subir 22 pontos básicos, ainda que no final tenha moderado a subida em 5 pontos, até os 155. O prêmio de risco da Bélgica, por seu lado, aumentou em 8 pontos básicos e fechou em 290.

Nos mercados bursáteis, o índice espanhol Ibrex35 foi aumentando as tímidas quedas da abertura à medida que avançava o pregão em uma sessão de fortes perdas em todas as praças de referência do Velho Continente. No fechamento, a Bolsa de Madri cedeu em 3,48%, enquanto Frankfurt e Paris caíam  3,18% e 3,30%, respectivamente. O sinal vermelho europeu foi, no entanto, Milão, que fechou com uma perda de 4,74% por conta dos maus augúrios sobre o setor financeiro italiano. Enquanto isso, Londres perdeu 2,46%. Segundo destaca a agência Reuters, os indicadores que agrupam as principais empresas europeias estão em seu nível mais baixo em seis semanas. No câmbio, o euro, que esteve cedendo posições frente ao dólar, no final conseguiu fechar nos mesmos níveis da sexta-feira, e se fixava na taxa de 1,35 dólares.

O novo castigo nos mercados de renda variável tem estado motivado  pelo repique dos prêmios de risco, que se converteram no fator determinante para que os investidores decidam por comprar ou vender na atual fase de crise do euro. Junto à desconfiança originada da [área da] renda fixa, dificultaram também a sessão os problemas entre republicano e democratas para chegar a um acordo sobre o corte no déficit dos EUA.

Depois do tumultuado pregão de sexta-feira, quando o governo já no poder obrigou as agências de informação econômica a retificar seus dados sobre o diferencial frente à dívida alemã, o que evita um incremento de uns 30 pontos no prêmio de risco, os investidores continuaram vendendo hoje os bônus e ativos espanhóis. A última grande empresa a anunciar que se havia desfeito de seus títulos do Tesouro [espanhol] foi, na noite passada, a japonesa Kokusai, que também passou ao mercado seus bônus belgas.

É máxima a expectativa entre os investidores e os operadores dos mercados em relação à Espanha, já que a tarefa frente a Rajoy é descomunal. Com 5 milhões de desempregados, uma economia ameaçada pela recessão, e uns objetivos de déficit para 2011 dificilmente alcançáveis, os especialistas e analistas alertam que não há tempo a perder para por mãos à obra. Para isso, entretanto, a legislação espanhola estabelece uns prazos e trâmites que devem ser cumpridos, algo que contrasta com as velozes transações realizadas nas duas últimas semanas em dois dos países incluídos juntos com a Espanha no último vagão do trem da crise: a resgatada Grécia e a golpeada Itália.

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