O Brasil está atrás de China, Rússia e Índia no combate ao desmatamento e na recuperação da área florestal perdida. Esta é a conclusão de um
estudo organizado pelo instituto brasileiro Imazon e o Proforest, ligado
à Universidade de Oxford, que estudo comparou a situação em 11 países e
mostra que nos quesitos preservação e reflorestamento o Brasil está
perdendo a corrida com outros países dos Brics.
O estudo, divulgado no momento em que o Senado debate os termos do novo
Código Florestal quanto ao tratamento de áreas verdes do país, compara a
forma com que o Brasil e outros países lidam com o tema e analisa o que
está sendo feito de suas florestas.
Se colocados lado a lado, os dados mostram que, enquanto China, Índia e
Rússia têm criado leis para proteger suas florestas e agem para
recuperar o que já foi devastado, o Brasil segue na contra-mão,
desmatando mais do que é reflorestado.
O levantamento, denominado "Um Resumo do Status das Florestas em Países
Selecionados", verificou um padrão semelhante nos países analisados.
Primeiro, passam por intenso processo de desmatamento, normalmente
quando estão se desenvolvendo, para abrir espaço para a agricultura e
explorar matérias-primas.
Em seguida, essa devastação é interrompida por fatores que vão da
escassez dos produtos florestais à preocupação ambiental. Começa então
uma curva ascendente, com políticas de proteção ambiental e
reflorestamento.
Fundo do poço
Para Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior do Imazon e coordenador do
levantamento no país, o Brasil está longe de acompanhar os outros Brics.
"Estamos atualmente no fundo do poço e um desses bem profundos, porque
quando ainda é pobre, o país dilapida suas florestas, mas à medida que
se torna emergente, começa a mostrar uma curva ascendente", disse
Veríssimo à BBC Brasil.
"Mas o que vemos aqui não é nada disso. O Brasil já é emergente e
continua caindo, já que perde mais florestas do que planta", afirma o
pesquisador, lembrando que se originalmente o país tinha 90% de seu
território coberto por florestas, hoje essa proporção é de 56%.
O exemplo mais contundente talvez seja a China, que com um amplo
programa oficial superou a fase de devastação intensa e já conseguiu
recuperar suas florestas, apesar de ainda serem limitadas. Segundo dados
da FAO, a cobertura florestal do país em 1950 não chegava nem a 10% do
território, enquanto hoje ocupa 22%. "O principal interesse chinês é impulsionar sua economia e criar uma
reserva estratégica para o país, protegendo, por exemplo, áreas como as
que têm recursos hídricos", afirma Veríssimo. A legislação da China
impede que florestas sejam suprimidas em prol de mineração ou projetos
de infraestutura e só abre exceções mediante a autorização governamental
e pagamento de taxa de restauração ambiental.
Curva ascendente
Já a Rússia, país com maior cobertura florestal do mundo, ampliou essa
área em 15% em 60 anos e hoje tem quase metade de seu território coberto
por florestas. O crescimento deve-se a uma melhoria na legislação,
também resultado da menor dependência da área rural. Segundo o estudo, a Índia também já começou avançar rumo ao
reflorestamento, embora em um nível bem mais tímido, de 21% para 22%.
Mas o pesquisador lembra que os entraves indianos são muitos mais duros
do que os brasileiros, já que eles vivem em território muito menor que o
nosso com uma população cerca de seis vezes maior.
O estudo do Imazon e da Proforest, que incluiu também países europeus e
da América do Norte, deixa claro que para fazer progresso nessa
trajetória de recuperação ambiental são precisos incentivos do governo.
Setores ruralistas rejeitam as conclusões do estudo pois acreditam que a
falta de incentivo governamental no Brasil invalida as comparações.
Eles alegam que o estudo põe lado a lado países que não são comparáveis,
justamente por receberem benefícios em prol da conservação ambiental.
"Esse estudo é uma interpretação parcial dos dados, porque mostra que
países que, após devastarem quase toda a área verde que tinham, vêm
replantando com recursos obtidos na forma de incentivos financeiros e
indenizações para áreas que deixam de produzir alimentos", disse à BBC
Brasil, Assuero Veronez, vice-presidente da CNA (Confederação Nacional
da Agricultura e Pecuária). "E não podemos comparar isso com a nossa
legislção, que apenas restringe o uso sem qualquer tipo de indenização
ou compensação ao proprietário".
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