A tensão no acampamento Guarani Kaiowá instalado em uma fazenda no Mato Grosso do Sul levou a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República a oferecer proteção policial ininterrupta para o grupo de indígenas que ocupa o local. Os Kaiowás dizem que na sexta-feira seu acampamento foi atacado por um grupo de sete homens que teriam matado o cacique Nisio Gomes e levado seu corpo. Mas ainda pairam dúvidas sobre o que ocorreu exatamente porque a Polícia Federal decidiu tratar o caso como de “desaparecimento ou sequestro”, pois a perícia não encontrou no local provas conclusivas de que uma morte tenha ocorrido.
“Nós viemos aqui hoje para dizer aos índios e às índias que esse tipo de coisa não voltará a acontecer”, disse o secretário-executivo da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Ramaís de Castro, que veio de Brasília para uma visita à área atacada. “A partir de hoje (quarta-feira) já teremos uma equipe da Força Nacional de Segurança que vai ficar exatamente aqui onde estamos, na entrada da fazenda que eles estão ocupando, para impedir que qualquer violência seja perpetrada contra os indígenas,” disse.
A fazenda de soja é uma área regularmente arrendada a um produtor local mas os indígenas argumentam que trata-se de terra tradicional dos Guarani Kaiowá, que teriam sido expulsos violentamente dali nos anos 70. “Meu pai foi expulso daqui com a família dele quando tinha sete anos de idade. Mas para nós a terra onde nós nascemos, o Tekoha, é muito importante e por isso meu pai voltou para cá”, disse o filho do cacique Nisio Gomes, Genilton Gomes, de 29 anos, que na ausência do pai assumiu a liderança política do grupo e também as responsabilidades espirituais dele como “rezador” da comunidade.
O indígena diz que não tem mais nenhuma esperança de ver o pai vivo, porque os sobrinhos que estavam com o cacique no momento do ataque teriam dito que ele foi baleado três vezes no peito com uma espingarda calibre 12 antes de seu corpo ser recolhido e jogado numa pick-up. “Quando encontrarmos o corpo do meu pai vamos enterrá-lo aqui mesmo, onde já está enterrado meu bisavô”, afirma Genilton. “E nós também vamos ficar aqui. Essa terra é nossa".
Mas apesar da certeza dos indígenas – que dizem que seus rezadores já fizeram até contatos com o cacique no plano espiritual – a Polícia Federal diz que não encontrou na área indícios de que de fato tenha ocorrido um assassinato. “A quantidade de sangue que a perícia encontrou no local não condiz com o sangramento que teria ocorrido caso ele houvesse sido baleado no peito como foi dito”, disse o superintendente da PF no Mato Grosso do Sul, Edgar Paulo Marcon, que veio à região acompanhar o inquérito. “Além disso não encontramos nenhum cartucho de arma letal no local do ataque mas apenas cartuchos de balas de borracha".
Mas o delegado Marcon diz que, na visão da polícia, as incertezas sobre como os fatos se desenrolaram não diminui a gravidade do caso. “Claramente houve um ataque contra os indígenas e nós vamos perseguir e punir os responsáveis por isso". O secretário-executivo Ramaís de Castro diz que o Governo Federal tem visão semelhante. “Claro que apenas a efetiva demarcação das terras indígenas vai poder resolver essa questão mas a mensagem que o governo federal quer passar é de que não será tolerada violência em hipótese alguma nesses casos de conflito fundiário".
Genilton Gomes (ao centro), filho do cacique desaparecido Nísio Gomes - (Foto: BBC Brasil).
Reserva Kaiowá ganhou policiamento 24h - (Foto: BBC Brasil).
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