O agravamento da crise da dívida na zona do euro ameaça as notas de solvência de todos os países europeus, advertiu ontem, 27/11, a agência americana de avaliação financeira Moody's. Em um "comentário especial" sobre os países europeus, a agência indica que continua considerando que a zona do euro manterá sua unidade sem outra falha que a da Grécia, mas observa que mesmo esse "cenário 'positivo' traz consigo consequências muito negativas para as notas" dos Estados europeus.
A agência, que recentemente advertiu que a França poderia perder seu "A triplo", que lhe permite financiar-se com taxas vantajosas nos mercados, indica também claramente que nenhum país, mesmo aqueles considerados mais sólidos, como Holanda, Áustria, Finlândia, e mesmo a Alemanha, não está imune a um rebaixamento de sua nota.
"O agravamento ininterrupto da crise da dívida pública e dos bancos da zona do euro ameaça a qualidade do crédito de todos os países europeus", escreve a agência. "Ainda que a zona do euro em seu conjunto possua uma força econômica e financeira enorme, a fraqueza de suas instituições continua a impedir a solução da crise e a pesar sobre as notas. Na ausência de medidas políticas que estabilizem a situação dos mercados a curto prazo, ou a estabilização desses mercados por qualquer outra razão, o risco do crédito [associado aos países europeus] continuará a aumentar".
O BCE atrai o sinal de alarme
Um "evento negativo maior" na zona do euro poderia ter consequências "devastadoras" para a economia mundial, e mergulharia na recessão o conjunto dos países ricos, incluindo aí os Estados Unidos e o Japão, adverte a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos). Essa é a razão pela qual "aqueles que decidem devem se preparar para o pior", e o Banco Central Europeu (BCE) deve intervir mais para bloquear a crise da dívida, avalia a Organização em suas previsões semestrais.
Outros planos de resgate?
Enquanto países como a Itália ou a Hungria têm cada vez mais dificuldade em se financiar com taxas viáveis nos mercados, a Moody's escreve que "o elã político para colocar em prática uma solução eficaz contra a crise poderia não ser encontrado senão após uma série de choques, o que poderia levar mais países a se verem privados de acesso aos mercados de financiamento por um período prolongado". A agência faz aí referência a países como Irlanda, Grécia, Portugal, ou ainda a Hungria, que tiveram que se beneficiar de um ou mais planos de resgate financeiro da União Europeia (UE) ou do FMI.
Segundo a Moody's, outros países poderiam ter necessidade de apelar para esse tipo de solução, se a UE não conseguir encontrar rapidamente uma resposta adequada à crise, e esses países veriam então, muito provavelmente, suas notas rebaixadas para a de um investimento "especulativo". Tendo em vista os acontecimentos das últimas semanas, a Moody's indica dever considerar "a probabilidade de um cenário ainda mais negativo". Segundo ela, "a probabilidade de défauts múltiplos [...] de Estados da zona do euro não é desprezível", e não cessa de aumentar na falta de uma solução para a crise.
Se essa hipótese se concretizar, isso aumentaria a probabilidade de um ou mais países deixarem a zona do euro, acrescenta a agência, para a qual esse cenário de "fragmentação do euro" teria "repercussões negativas para todos os países da zona do euro e da UE". Para a Moody's, a situação evolui permanentemente, e novos "choques" (novos planos de resgate ou alta das taxas com as quais os Estados se financiam) são "suscetíveis de levar a mudanças de notas caso a caso" para certos países, enquanto os políticos definem medidas [contra a crise].
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