Que tal se uma mãe pudesse predispor seu filho a gostar de brócolis ou couve-de-bruxelas -- ou pelo menos a não fazer careta e cuspí-los -- pelo que ela come na gravidez?
Alguns profissionais da área de saúde são de opinião que, se as mães incluirem uma ampla variedade de alimentos em suas dietas durante a gravidez, elas podem condicionar as preferências alimentares de seus filhos. Essas escolhas [maternas], dizem pesquisadores, têm o potencial de reduzir os riscos de diabetes e obesidade. Esse conceito é chamado de aprendizado de sabor pré-natal.
Os sabores e odores do que as mães comem aparecem no líquido amniótico, que é engolido pelo feto, e no leite materno. Há evidência de que os primórdios de paladar do feto estão maduros no útero por volta das 13 a 15 semanas, com as células receptoras do paladar surgindo em 16 semanas, dizem os pesquisadores. "Com o aprendizado do paladar, você pode treinar o paladar do bebê através da exposição repetitiva", disse Kim Trout, diretora do programa de profissionais de enfermagem de obstetrícia e de saúde da mulher da Universidade de Georgetown.
Trout foi recentemente coautora de um artigo que reexamina as confirmações ou evidências do aprendizado de sabor pré-natal, e suas implicações no controle do diabetes e da obesidade infantis, que estão entre os mais prementes problemas de saúde dos EUA. Ela está incorporando esse conceito no curso, de dois anos, de mestrado em obstetrícia de Georgetown. Trout disse também que, a começar em janeiro, o curso de saúde reprodutiva para alunos do primeiro ano incluirá esse conceito na seção dedicada a cuidados e nutrição pré-natais.
Como obstetra, ela também aconselha pacientes que querem saber o que podem fazer para maximizar a saúde de seus bebês. "Digo-lhes que há boa evidência de que seus bebês podem desenvolver preferências de paladar com base no que elas estão comendo, e digo isso também aos seus parceiros se eles forem os responsáveis por cozinhar o que elas comem", disse Trout, que viaja diariamente entre Washington e Philadelphia, onde ela atende pacientes em uma clínica particular de ginecologia e obstetrícia que faz parte da escola de medicina da Universidade da Pennsylvania.
Algumas grávidas dizem que o conceito faz sentido, e para aquelas que gostam de comer uma variedade de alimentos, tanto melhor.
"Não sou uma comedora exigente, gosto de tudo", disse Elizabeth Hooks, de 29 anos, de Philadelphia, que é uma das pacientes de Trout. Hooks, grávida de 19 semanas, disse que não quer que sua criança seja "um membro da nação fast-food". E acrescentou: "Se posso começar isso agora, maravilha!". Ela trabalha no escritório da empresa varejista Anthropologie. Seu almoço num dia de trabalho recente incluiu uma ampla variedade da lanchonete de saladas da companhia: salada de galinha e uva-do-monte, aspargo, salada de tomate e muçarela, e kiwi fresco.
O conceito de aprendizado de sabor pré-natal não é amplamente conhecido pela população em geral, e entre os profissionais de saúde que cuidam de mulheres grávidas. Mas, mesmo aqueles que não estão familiarizados com a pesquisa dizem que não veem negativamente a possibilidade de que a ciência possa contribuir para uma alimentação saudável.
Sumi Sexton, uma médica de família no condado de Arlington e professora assistente na escola médica da Universidade de Georgetown, disse que os profissionais [da saúde] encorajam as grávidas a comer alimentos saudáveis, de modo a modelar esse esse tipo de comportamento para suas crianças. "Se a ciência der respaldo a isso, e a criança estiver criando um paladar aquirido através do líquido amniótico e do leite materno, ótimo!", disse ela. "De qualquer modo, está apenas reforçando o que venho dizendo a vocês para fazer".
Logicamente, isso não quer dizer que essa abordagem fará de algum modo com que as crianças peçam uma nova porção de brócolis em preferência a um bolo de chocolate. A preferência das crianças por doces muito provavelmente evoluiu porque os alimentos de sabor doce são mais energéticos, de acordo com pesquisas, e sua preferência por alimentos salgados está relacionada à sua necessidade em [ingerir] minerais. Sua rejeição a sabores mais amargos muito provavelmente evoluiu porque a maioria dos compostos venenosos é amarga.
Expor o feto no útero ao sabor um tanto mais amargo dos vegetais, por exemplo, tornam esses vegetais mais palatáveis quando oferecidos como alimentos sólidos, dizem os pesquisadores. Obviamente, há outros fatores que determinam o que as pessoas gostam de comer. E é bem possível que uma criança jamais aprenda a gostar de brócolis, não importa quanto brócolis a mamãe tenha comido durante a gravidez, diz Trout.
Ela disse que os pesquisadores descobriram também que o aprendizado do sabor prepara os bebês para os sabores de sua cultura. Se, entretanto, essa cultura inclui fast-food e grandes porções de doces, as crianças terão um risco maior de desenvolver diabetes e obesidade.
Trout diz ter comprovação disso em sua própria vida. Quando estava grávida de sua filha, ela aderiu a um programa nutricional rígido, que colou em sua geladeira. Sua filha tem uma boa dieta, e é uma grande cozinheira. Seu filho prefere fast-food, como asas de galinha por exemplo, o tipo de alimento que Trout comia quando trabalhava como interna.
Legal, sogrão. Espero estar contribuindo bastante para que Marcelote seja uma criança saudável e com bons hábitos.
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