sábado, 26 de novembro de 2011

Um fertilizante está por trás de bombas que já feriram cerca de 3.200 soldados e fuzileiros dos EUA no Afeganistão

Para entender a gravidade do problema do Ten. Gen. Michael D. Barbero com a bomba de fertilizante de 40 dólares, é útil levar em conta alguns números mais expressivos.

Barbero chefia um comando militar americano, com um orçamento anual de cerca de US$ 2,8 bilhões, que foi criado para eliminar as baixas americanas provocadas por bombas rebeldes. Apenas nos últimos poucos meses, ele teve que gastar US$ 24 milhões por um novo radar manual que penetra o solo, US$ 33 milhões por mini-robôs de vigilância, e US$ 19 milhões por uma roupa interior resistente a bombas.

A arma preferida dos rebeldes no Afeganistão está no outro extremo do espectro de preços: um pote ou vaso de plástico cheio de adubo de nitrato de amônia. Até agora, neste ano, essas bombas baratas e difíceis de serem detetadas feriram cerca de 3.200 soldados e fuzileiros americanos, 22% a mais em relação a 2010 de acordo com o Pentágono.  

"Estamos retirando mais e mais desse tipo de material do campo de batalha", disse Barbero sobre as bombas de fertilizante. "Mas, ele continua aparecendo, e cada vez mais".

Quase todo o nitrato de amônia usado nas bombas dos talebãs vem de duas fábricas grandes de fertilizantes do Paquistão, do outro lado da fronteira. Barbero concluiu que a melhor maneira de reduzir a matança feita pelos talebãs era fazer com que ficasse mais difícil para os rebeldes obter o fertilizante, que é proibido no Afeganistão porque pode ser usado para fazer explosivos.

Em agosto o ten.-general chamou Fawad Mukhtar, presidente do grupo Fatima, proprietário das duas fábricas, para uma reunião no Paquistão. Mukhtar responbdeu que Barbero não precisava viajar, porque ele estava planejando visitar os EUA para deixar seu filho na escola e prometeu passar pelo escritório de Barbero em Arlington. Os dois se encontraram durante cerca de meia-hora. Barbero disse ao empresário paquistanês que o fertilizante de suas fábricas era o responsável pela maioria das mortes americanas no Afeganistão. Mukhtar contestou, dizendo que menos de 1% de seu produto caía nas mãos dos rebeldes e era transformado em bombas. A grande maioria de seu produto era usada na agricultura -- pessoas dependiam de seu produto para viver e comer.

"Ele não é um radical", disse Barbero a respeito de Mukhtar. "Acho que ele quer ser parte da solução".

A breve visita de Mukhtar foi o começo da imersão de um mês de Barbero na indústria global de fertilizantes. Ele e sua equipe estudaram como o nitrato de amônia é produzido, como pode ser processado para converter-se em uma bomba, e como poderia ser modificado para tornar-se menos perigoso ou mais detetável pelas tropas americanas e afegãs nos pontos de travessia da fronteira.

Uma semana depois do encontro com Mukhtar, Barbero voou para Denver para dirigir-se a uma conferência global de administradores de fábricas de nitrato de amônia. Seu discurso incluiu um pedido por ajuda e avisos de que uma regulamentação onerosa seria aplicada, se os executivos não encontrassem meios de fazer o nitrato de amônia menos útil como uma arma. Os administradores reagiram friamente. "Eles me disseram como era difícil fazer com que ele não fosse detonável", disse Barbero. "Eu disse: entendi. Mas vocês têm que começar a trabalhar nisso".

Na semana passada, outra conferência foi realizada pelo comando de Barbero  em Arlington, com a presença de cerca de 120 executivos, agrônomos, químicos e oficiais militares, incluindo um representante do grupo Fatima de Mukhtar de sua fábrica na província paquistanesa de Punjab.  Quase imediatamente, os executivos da indústria levantaram dúvidas sobre haver alguma coisa que pudessem fazer para ajudar os militares. As quantidades [de nitrato de amônia] que os talebãs estavam usando para fazer suas bombas -- cerca de 240.000 quilos de nitrato de amônia por ano -- parecia minúsculo frente à produção anual da indústria global como um todo.

Nessa reunião foi explicado como os talebãs transformam o fertilizante em bombas -- o primeiro passo é remover o carbonato de cálcio, que a indústria começou a adicionar nos anos 1970s ao fertilizante de nitrato de amônia, para torná-lo menos explosivo. Foram formados grupos de trabalho para a apresentação de solução(ões) para o problema, e a mais promissora foi a de acrescentar grânulos de ureia fertilizante revestidos aos sacos de nitrato de amônia. A combinação de ureia e nitrato de amônia tem uma forte afinidade com a água, e tornaria muito difícil para os rebeldes secá-lo para fazer um explosivo.

Um oficial militar britânico na conferência sugeriu que apenas as fábricas paquistanesas do fertilizante teriam que alterar seu método de fabricação, porque eram a única fonte do problema no Afeganistão. "É quase um monopólio", disse ele. "E, se essas duas fábricas ajustarem seus processos [de fabricação], ficaria muito difícil para os rebeldes comprar o produto na região".

O representante do grupo Fatima na reunião se irritou com a insinuação de que as duas fábricas do Paquistão eram a fonte do problema. "Há muito comércio [disso] na Índia. Há Irã e Indonesia", disse ele. E não estou nem falando dos ex-Estados russos. Os extremistas acharão meios para encontrar nitrato de amônia com cálcio, eles são muito espertos".

Após o término da conferência, ficou decidido que o comando de Barbero pagará por alguns estudos rápidos nos próximos meses, para determinar qual o melhor aditivo a ser acrescentado aos sacos de nitrato de amônia para que gerem menos bombas. O objetivo é por em prática nas fábricas do grupo Fátima qualquer solução potencialmente útil antes do período de confrontos do verão de 2012.

Nitrato de amônia, frequentemente utilizado em dispositivos explosivos improvisados (IEDs, em inglês), é a arma preferida dos rebeldes contra as tropas americanas no Afeganistão - (Foto: The Washington Post).


Nenhum comentário:

Postar um comentário