quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Cresce no Chile oposição a concessões à Bolívia

Um forte crescimento de rejeição a que se façam concessões em resposta à demanda marítima da Bolívia aparece refletido na edição 2011 da Pesquisa Nacional Bicentenário, efetuada pela Universidade Católica (UC) [do Chile] e pela empresa Adimark.  [Em consequência de sua derrota para o Chile na chamada Guerra do Pacífico (que envolveu também o Peru) no século 19 (1879-1883), a Bolívia perdeu para os chilenos a província de Antofagasta, ficando sem saída soberana para o mar].

Se há cinco anos, 33% preferiam "não dar nada" à Bolívia e 47% defendiam que se oferecessem benefícios àquele país para que ocupasse os portos locais, em 2011 a tendência se inverteu: 48% defendem a tese de "não ceder nada" à Bolívia e 40% preferem dar-lhe benefícios econômicos. No mesmo período, passou de 13% para 9% o percentual de apoio à concessão de uma faixa litorânea aos bolivianos.

Essa é uma tendência que se vê reforçada pelo fato de que 73% consideram que, ainda que a Corte de Haia tenha decidido contra o Chile no litígio por limites marítimos com o Peru, o país não deve ceder território "por motivo algum".

"Essa intransigência geopolítica dos chilenos deve ser vista com preocupação, porque dá pouca margem aos governos para atuar com prudência e moderação", analisa o diretor do Instituto de Sociologia da UC, Eduardo Valenzuela.

Por sua parte, o diretor do Centro de Estudos Internacionais da UC, Juan Emilio Cheyre, interpreta os dados como uma manifestação "da certeza dos chilenos de que todo o território que temos pertence legitimamente ao nosso país e, por conseguinte, devemos continuar exercendo plena soberania sobre ele, e a maioria não está disposta a ceder aquilo que sente como bem próprio". 

Além dos temas políticos, a pesquisa analisou as percepções dos chilenos com relação aos imigrantes. As respostas mostram que 60% opinam que o país deve tomar medidas fortes para expulsar aqueles que chegam ilegalmente. Mas, se eles se estabelecem legitimamente, a posição é de que tenham acesso aos benefícios sociais. "Isto mostra que o Chile é um país que está disposto a tratar o imigrante como ser humano, inclusive concedendo-lhe benefícios que em outros países se espera prestar apenas aos cidadãos nacionais", disse Cheyre.

Enquanto isso, Valenzuela enfatiza que "nos países em que o fluxo imigratório é maior, e os serviços sociais são mais caros e onerosos, existe muita reticência quanto a equiparar os direitos sociais de uns e outros [cidadãos e imigrantes]. No Chile não se verificam essas condições: os imigrantes não pesam demasiado sobre os sistemas de bem-estar [social] que, além disso, não oferecem tampouco grandes serviços.

Especificamente com respeito aos imigrantes peruanos e bolivianos, 39% opinam que "nunca serão completamente chilenos", e 57% consideram que [eles] limitam as possibilidades dos chilenos em achar emprego. Segundo o sociólogo, "pesa demais a hostilidade geopolítica nessas respostas".

Fronteiras do Chile, Peru e Bolívia antes e depois da Guerra do Pacífico - (Mapa: Wikipedia).

Nenhum comentário:

Postar um comentário