A expansão da classe média nas economias emergentes está sendo acompanhada do aumento de reivindicações sociais e provoca novas tensões que os governos deverão enfrentar, alerta a Organização para a
Cooperação Econômica (OCDE) em um relatório divulgado nesta
segunda-feira.
Segundo o estudo Perspectivas do Desenvolvimento Mundial 2012: A Coesão Social em um Mundo em Mutação,
as populações de economias com rápido crescimento estão se tornando
mais exigentes e têm expectativas cada vez mais elevadas em relação ao
seu nível de vida.
"A classe média dos países emergentes deseja que os frutos do
crescimento econômico dos últimos anos sejam compartilhados", afirma a
OCDE.
Do total de 2 bilhões de pessoas no mundo que vivem com uma renda entre
US$ 10 e US$ 100 por dia - classificados pela OCDE como pertencendo à
classe média -, quase 1 bilhão estão nos países em desenvolvimento e
emergentes. Esse número deverá triplicar nos próximos 20 anos, nas estimativas da
organização, atingindo 3 bilhões de pessoas em 2030 nesses países.
A organização alerta que os governos não devem subestimar a capacidade
de mobilização da classe média dessas economias para exigir políticas
mais transparentes e serviços públicos de melhor qualidade. "À medida que a classe média dos países emergentes se compara cada vez
mais à das economias avançadas, podemos esperar mudanças em seus hábitos
de consumo e demandas por serviços de qualidade", diz a organização,
que cita a educação, a saúde e maior proteção social.
"Um Estado que não levar em conta questões ligadas à coesão social corre
o risco de enfrentar protestos sociais e aplicar políticas ineficazes",
diz o estudo. "Os eventos recentes - como o movimento em favor da democracia na
Tailândia, em 2010, e as revoltas da primavera árabe - mostram que é
preciso levar em conta as reivindicações dos cidadãos que pedem
processos políticos inclusivos".
Nos anos 2000 e pela primeira vez em inúmeras décadas, 83 países em
desenvolvimento atingiram taxas de crescimento per capita equivalentes
ao dobro das registradas nas economias ricas da OCDE. Em cerca de 50 economias em desenvolvimento ou emergentes, as taxas
médias de crescimento per capita foram superiores a 3,5% por ano nos
anos 2000. "O crescimento desencadeia novas tensões: aumento das desigualdades de
renda, transformações estruturais e expectativas crescentes dos cidadãos
em relação ao seu nível de vida e acesso às oportunidades", diz o
relatório.
A OCDE afirma também que a classe média nos países emergentes permanece vulnerável, apesar do aumento da renda. "Na América Latina, a média de estudo é de 8,3 anos e poucos têm nível
universitário. Também há mais trabalhadores sem carteira assinada do que
no setor formal em todos os países da região, com exceção do Chile",
afirma o estudo. "Essa classe média é diferente da que conduziu ao crescimento econômico
em vários países da OCDE", se referindo ao maior nível de estudos e
proteções trabalhistas mais fortes nas economias ricas. O documento ressalta ainda a necessidade de elaboração de políticas em
várias áreas, como orçamentária, fiscal, emprego, proteção social e
imigração, para permitir a coesão social nas economias emergentes.
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