Navegação online em breve melhor protegida? -- O sistema "Do Not Track"

E se você pudesse, de uma vez por todas, dizer ao seu navegador na Internet que você não deseja que sua navegação online seja espionada, e que isso seja aplicado automaticamente ao conjunto de sites?

Isto é o que, basicamente, propões o Projeto Do Not Track (DNT), um novo padrão da Web proposto pela Fundação Mozilla (Firefox, Thunderbird, ...). O princípio é o seguinte: quando o navegador se conecta a um site que solicita informações comportamentais (histórico de navegação, por exemplo), ele envia um sinal que informa ao site que o usuário não quer que seus dados sejam registrados.

Integrado inicialmente unicamente ao Firefox, esse sistema foi depois implementado no Internet Explorer da Microsoft e no Safari da Apple. Na semana passada, o W3C, o órgão encarregado de estabelecer padrões na Internet, publicou uma primeira minuta de recomendações técnicas para a elaboração de um padrão.

"Certamente, é um reconhecimento", se felicita Tristan Nitot, o presidente do Mozilla Europa. "Mas, resta uma segunda etapa: a adoção pelos sites da Web". O sistema repousa, de fato, na boa fé dos editores de sites, que no momento não são obrigados a respeitar a escolha de quem se decidir pelo Do Not Track. A Fundação Mozilla se mostra confiante a esse respeito. "É uma questão de pressões", avalia Nitot. "Mais e mais usuários clicam na opção DNT em seus navegadores -- três vezes mais no Firefox Mobile [para celulares] que no Firefox -- e a indústria do marketing online não crê que a política se arrisque a intervir, esse setor prefere a autorregulação".

Algumas empresas, principalmente americanas, já colocaram em prática suas próprias tentativas de autorregulação. No início de 2011, o Google anunciou sua participação em uma aliança de empresas do setor publicitário, que se engajavam em memorizar as escolhas de vida particular dos usuários. Até o momento, o Google se recusou a implementar o Do Not Track em seu navegador Chrome, enquanto a participação deste último no mercado não para de crescer.

Para o Google, assim como para o Facebook, o fato de poder seguir o comportamento online dos internautas é uma chave essencial de seu modelo econômico. É graças a essas informações que podem propor aos internautas publicidades dirigidas e personalizadas, bem mais eficazes que as campanhas de propaganda genérica. Se um grande número de usuários optar por não ser seguido, a eficácia das publicidades diminuiria e, com ela, a receita.

No entanto, o Google, assim como o Facebook e outras empresas cujo modelo repousa na exploração/utilização de dados pessoais, faz parte das companhias que participarão do grupo de trabalho do W3C sobre a definição do Do Not Track. Com um risco de enfraquecimento desse padrão/norma futuro da vida privada? O W3C defende uma abordagem multipartite, na qual os representantes dos consumidores estarão em estreito contato com as empresas ... mas também com a toda poderosa Federal Trade Commission, o regulador americano.

 Para Tristan Nitot, é baixo o risco de enfraquecimento do Do Not Track por pressão dos grandes atores da publicidade online. "Ver-se-á bem no que darão as discussões, mas no seio do W3C as discussões referem-se a recomendações técnicas que não têm força de lei. Subsequentemente, o legislador pode certamente dizer o que falta implementar. O Google está entre a cruz e a espada, entre os usuários e os governos".

Mas, mesmo que sejam essencialmente técnicas, as discussões são levadas a sério pelo Google, do qual dois empregados farão parte do grupo de quatro pessoas encarregadas de trabalhar sobre as modalidades de aplicação do Do Not Track. Adicionalmente, Heather West, lobista do Google em Washington, trabalhou antes para a ONG Centro para Democracia e Tecnologia, de onde saíram os dois outros editores do texto [do W3C]. -- [Com tanto envolvimento direto e indireto nesse GT do W3C, é muito forte o poder do Google na definição do Do Not Track!].

Dentro do W3C, as discussões devem permitir, avalia Tristan Nitot, estabelecer "uma ponte entre o lado legislativo e o lado técnico -- com a indústria da publicidade online no meio. Mas, esse é um debate que não se pode evitar, ele é essencial se quisermos uma Internet a serviço do ser humano no futuro", julga ele.

A opção "Do Not Track" -  Vie privée = Vida privada / Pistage = Rastreamento / Indiquer aux sites Web de ne pas me pister = Indicar aos sites Web para não me rastrearem - (Reprodução: Le Monde -- A reprodução está parcial, para indicar apenas a parte ligada ao texto).