A zona do euro está à busca de investidores externos, mas há quem receie que Bruxelas possa oferecer concessões políticas à China em troca de dinheiro. O presidente da poderosa federação de indústrias da Alemanha fez um alerta com relação a essa orientação mas, ao fim e ao cabo, pode ser que a Europa tenha pouca escolha.
Nos preparativos para a reunião de cúpula da União Europeia (UE) da semana passada, o consenso era claro. O fundo de resgate europeu, o European Financial Stability Facility (EFSF), era simplesmente muito pequeno. A capacidade de empréstimo do fundo -- 440 bilhões de euros -- nunca seria suficiente, foi dito, para evitar o contágio de economias maiores da zona do euro, como Espanha e Itália.
Agora que os líderes da eurozona, tendo à frente a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy, concordaram em alavancar o EFSF, eles perceberam entretanto que pode não ser tão linear quanto inicialmente pensaram encontrar investidores que dêem respaldo a um aumento para 1 trilhão de euros na capacidade de empréstimo do fundo. De fato, a obtenção de fundos para a Europa deverá ter papel de destaque na reunião de cúpula do G-20 deste fim de semana em Cannes, França. O mesmo, porém, deve ocorrer com os alertas de que a eurozona deve evitar de ceder a possíveis exigências da China para investir no EFSF.
"Se nós, na Europa, organizarmos a estabilização do euro de um modo que signifique permitirmos que países externos [da eurozona] tenham influência [sobre nós], então estaremos cometendo um enorme erro", disse em uma entrevista na segunda-feira à Spiegel Online Hans-Peter Keitel, presidente da Federação da Indústria Alemã.
Keitel referia-se a insinuações de Li Daokui -- um membro do comitê de política monetária do banco central chinês -- de que a China poderia pedir à Europa que, em troca de dinheiro chinês no EFSF, deixe de criticar a política do governo chinês de manter sua moeda, o renminbi, artificialmente subvalorizada. "A última coisa que a China quer é jogar fora a riqueza do país, e ser vista simplesmente como uma fonte de dinheiro "burro" (dumb money) [em oposição a "smart money"]', Li disse ao Financial Times na semana passada.
Outros especulavam que a China poderia demandar melhor acesso aos mercados europeus, ou que cessassem as críticas em relação aos abusos do país no campo dos direitos humanos. "Haverá algum quiproquó sobre isso", disse Mohsin Khan à Bloomberg -- Khan é um ex-alto funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI), agora com o Instituto Peterson para Economia Internacional.
Em um editorial na segunda-feira, o Financial Times escreveu ainda mais sucintamente: "Beijing cobrará um preço proporcional ao desespero revelado pelos europeus".
A zona do euro começou a cortejar a China tão logo a tinta secou no comunicado final da cúpula na quinta-feira de manhã. Sarkozy falou ao telefone com o presidente chinês Hu Jintao para discutir investimento chinês no fundo, e o chefe do EFSF, Klaus Regling, voou para Beijing na última quinta-feira também para avaliar o interesse chinês. Em Viena, na segunda-feira, a caminho do G-20, Hu disse que a China daria assistência à Europa. Seu país, ele disse, está convencido de que "a Europa possui a sabedoria e a capacidade de superar a situação atual".
Até agora, no entanto, há poucos detalhes sobre qual exatamente o perfil que possa ter um EFSF recentemente reformulado. Uma opção de objetivos especiais, para atrair dinheiro de investidores externos, foi apresentada como um dos dois planos possíveis para alavancar o fundo. Os líderes da zona do euro disseram que os detalhes finais não serão acertados até o final do mês. Além disso, com o anúncio do referendo feito pelo primeiro-ministro grego Giorgios Papandreou na segunda-feira, sobre o plano de resgate da UE para seu país, a estratégia da eurozona para sustentar a moeda comum parece estar em questionamento. "A menos que os líderes europeus possam informar alguns desses detalhes muito rapidamente, é difícil ver o resto do G-20 chegar à mesa de reunião com um entusiasmo muito grande", disse à Bloomberg um membro sênior na Brookings Institution em Washington, Eswar Prasad.
Ainda assim, outros países além da China podem estar também interessados em investir no EFSF. Um consultor econômico de destaque do Kremlin disse que a Rússia poderia colocar 10 bilhões de dólares à disposição através do FMI. O Japão disse apenas que continuará comprando bônus europeus. O Brasil, por seu lado, disse que esperará por mais informações antes de tomar uma decisão. "No momento não temos isso em consideração, porque não temos informação suficiente", disse uma fonte brasileira, segundo a agência Reuters.
A União Europeia estará à busca de investidores externos na reunião de cúpula do G-20 neste fim de semana em Cannes, França (Foto: Reuters).
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