quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Um panorama mundial do mercado de vinhos

O artigo abaixo é de Mateus V. e foi publicado hoje no site Winetag.

Estima-se que exista no mundo mais de 1 milhão de produtores de vinho, que produzem cerca de 2,9 bilhões de caixas (12 garrafas = 9 litros), sendo que destes são consumidos 2,6 bilhões. Este excedente é considerado normal, parte dele é estoque e outra é destinada aos subprodutos ou para destilação. Em 2004, a produção alcançou seu maior pico em 20 anos, chegando a 3,3 bilhões de caixas, e declinou em 2010 para 2,9 bilhões. 

A maior área de vinhedos ainda é da Espanha, com quase 1,1 milhões de hectares, seguida da França com 825 mil e pela Itália com 798 mil. Estes três países apresentaram uma grande redução da área plantada desde 2005, incentivados por um programa da União Europeia para acabar com o excedente de produção e destinar esta área para produção de outras culturas. Chile, Austrália, África do sul e Estados Unidos mantiveram praticamente estáticas suas áreas de produção. Argentina e Brasil tiveram um pequeno incremento da área plantada. A produção de vinho teve uma grande redução de 2009 para 2010. Itália (-6%), França (-3%), Espanha (-3%), Alemanha (-21%), Estados Unidos (-11%), Chile (-12%), África do Sul (-8%). Apenas Argentina, entre os grandes países produtores, teve um aumento significativo (+34%).


Imagem 1: Produção x consumo (Fonte: Morgan Stanley Research) - Clique na imagem para ampliá-la.

A proporção área de vinhedos x volume de vinho produzido não é direta. Isto porque a produtividade por hectare varia de país a país ou porque parte da área é destinada a outra finalidade que não o vinho, como uvas passas, uva in natura, suco, etc. A Itália lidera com um volume de produção em 2010 de 500 milhões de caixas, seguida pela França e Espanha. Vale observar a crítica situação da Espanha. Ela possui a maior área em vinhedos, porém, é a terceira em produção de vinho. O problema dos espanhóis é a baixa produtividade por hectare, o que a torna pouca competitiva. Isto se deve, sobretudo, ao clima seco, que faz com que eles tenham que plantar as videiras muito distantes umas das outras para que não haja competição entre as plantas por água. Impressiona a China, já a 5ª em área plantada e a 6ª no volume de vinho produzido, ficando na frente de Austrália, Chile e África do Sul.

Consumo e mercado:

 Globalmente, houve um decréscimo na produção entre 2007 a 2009 e uma pequena retomada em 2010. Estados Unidos, China e Inglaterra apresentaram um crescimento contínuo de 2000 para 2010, enquanto que os Países tradicionais Europeus e a Argentina apresentaram uma queda considerável. O Brasil aparece timidamente nas estatísticas, mas acredita-se que em alguns anos estará entre os grandes países consumidores em termos de volume. O consumo per capita ainda é maior nos Países Europeus, sendo liderado pela França com 48 litros, seguido de Portugal e Itália com 40 litros cada.

Oferta e demanda de vinhos se encontram em equilíbrio. De um modo geral, o declínio do consumo e da produção dos países tradicionais continua, mas é compensado pelo ligeiro aumento de consumo de países como a Rússia, a China e a Inglaterra. No longo prazo, a área de vinhedos que foi arrancada na Europa nos últimos anos será compensada pelo plantio de novos vinhedos nos países vinícolas emergentes.

Desde a década de 80 até 2010 o volume de vinhos importados consumidos tem crescido consideravelmente em todos os países. Isto se deve ao forte processo de globalização deste período, que ampliou as trocas comerciais entre os países e favoreceu a exportação dos vinhos. Em 1981, 15% de todo volume produzido era exportado. Em 2010, 35% do volume total é enviado ao mercado externo. A Itália lidera o ranking de exportadores, seguida de Espanha, França, Austrália e Chile. Já no lado da importação, a Alemanha segue em primeiro no índice, com Inglaterra, Estados Unidos, Rússia e França logo atrás. 

 Imagem 2 - Exportação x Principais Exportadores (Fonte: Morgan Stanley Research) - Clique na imagem para ampliá-la.

O estudo deixa claro como, nos últimos 30 anos, a participação no comércio global de exportação mudou muito e continua mudando. No início da década de 80, 80% do volume exportado pertencia a estes cinco países líderes. Hoje estes países correspondem a menos de 60% e cedem espaço aos países do hemisfério sul e países em ascensão. É um panorama em mutação. Está havendo uma inversão de produção e de consumo do continente europeu para os países do “novo mundo vitícola”. 

Os dados são extremamente interessantes e completos, e nos permitem olhar para o mercado de vinhos mundial de forma mais precisa e atual. Seria impossível resumir tudo num único texto, então esta foi uma primeira oportunidade de apresentar os pontos mais relevantes. Nos próximos artigos, analisaremos o que tais informações significam de verdade, qual é o papel de cada país e continente neste moderno mundo do vinho e, acima de tudo, o que tudo isso significa para você, consumidor. 

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