terça-feira, 6 de setembro de 2011

Por que as bolsas e os bancos europeus despencam

A degringolada das bolsas europeias na segunda-feira não tem uma única explicação isolada, mas seria o resultado de inúmeros fatores: -- descontrole antecipado da dívida grega, aplicação do plano de austeridade italiano, dados negativos sobre o nível de emprego nos EUA, processos nos EUA contra 17 instituições financeiras envolvidas na crise das subprimes (créditos hipotecários de risco). Para os analistas, todos esses fatores influenciaram na queda muito forte das ações de bancos e das bolsas europeias. Os bancos mais afetados, o Societé Générale e o Deutsche Bank perderam, respectivamente, 8,64% e 8,86%.

Para o CEO do Deutsche Bank, falando na segunda-feira em um congresso de bancos em Frankfurt, "as perspectivas para os bancos europeus em geral não são realmente róseas para seus mercados nacionais". A situação atual dos mercados de ações e a situação catastrófica dos valores financeiros "lembram o outono de 2008" depois da falência do banco americano Lehman Brothers, acrescentou ele. Uma análise compartilhada em parte por Robert Halver, analista-chefe de mercados de capitais da corretora Baader Bank em Frankfurt. "A desconfiança em relação aos valores financeiros é enorme, a crise da dívida recai novamente sobre os bancos -- a situação é muito, muito ruim", diz ele.

As necessidades de recapitalização dos bancos europeus - Especialistas do Banco Central Europeu (BCE) e do FMI divergem sobre as estimativas. Graças a novos "testes de estresse", "sabe-se bem quais as recapitalizações que se fazem necessárias, eventualmente com o apoio de governos", declarou ontem o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet. Entretanto, explicou ele, existe uma "falta de acordo muito importante em relação às metodologias que são adotadas", considerando por seu lado que a estimativa do FMI, fixada em 200 bilhões de euros, tende a mudar.

Os dados de emprego dos americanos - Os mercados americanos fecharam na segunda-feira, por causa do feriado do Dia do Trabalho, o que serviu para alimentar o nervosismo dos operadores. Na sexta-feira, o índice Dow Jones havia fechado em -2,20%, depois da publicação de dados ruins sobre o nível de emprego nos EUA. Essas estatísticas mostravam que a economia americana havia cessado de criar empregos em agosto, reavivando fortemente os temores sobre sua saúde.

A incerteza sobre a dívida grega - O ministro das Finanças grego, Evangelos Venizelos, reconheceu na semana passada que o país não atingirá sua meta de déficit público para 2011 por causa do agravamento da recessão. O BCE, o FMI e a União europeia suspenderam na sexta-feira suas discussões com a Grécia em razão de um desacordo sobre a extensão do atraso usado por ela na redução de seu déficit orçamentário. Ontem, o BCE e vários dirigentes europeus apelaram à Gécia para que acelerasse a entrada em operação de seu plano de redução de déficits.

A investigação americana sobre as "subprimes" - Na sexta-feira, a agência federal imobiliário americana (FHFA, em inglês) anunciou ter apresentado queixa contra 17 estabelecimentos bancários, que ela suspeita de terem ocultado a natureza de certos empréstimos hipotecários de qualidade muito ruim (subprimes). Esses financiamentos hipotecários estavam na raiz da crise demarrada em 2008. Entre os 17 bancos estão o Deutsche Bank e o Societé Générale, os dois que sofreram a maior queda na Bolsa na segunda-feira.

O plano de austeridade italiano - Com o objetivo de por fim aos ataques dos mercados, o governo de Silvio Berlusconi havia anunciado em 5 de agosto sua intenção de alcançar o equilíbrio orçamentário em 2013, e adotou no dia 12 de agosto um novo plano draconiano de 45 bilhões de euros. Mas o governo depois deu meia-volta em várias dessas medidas emblemáticas, gerando dúvidas sobre a credibilidade desse plano impopular, que deve ser ratificado pelo Parlamento neste mês de setembro. O governo, em particular, renunciou à aplicação de um "imposto de solidariedade" sobre as grandes rendas, depois abandonou em menos de 48 horas uma medida contestada sobre as aposentadorias. Para compensar as perdas, o governo se concentrou em reforçar a luta contra a evasão fiscal.


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