A americana Donna Roberts, de 48 anos, que veio do sul da Flórida para o Brasil em fevereiro, relata contraste semelhante. "Lá, víamos muitos restaurantes e negócios fechando, nossos amigos perdendo suas casas", diz a documentarista e educadora ambiental. "Aqui, parece que nada está reduzindo o ritmo (da economia)".
Como maior economia do mundo, os Estados Unidos ainda têm um PIB quase sete vezes maior do que o do Brasil, e PIB per capita de US$ 47,2 mil – quatro vezes superior ao brasileiro. Mesmo no pós-11 de Setembro, a economia americana manteve taxas de crescimento entre 2% e 3,5% até 2007, e o país continua sendo um dos mais procurados por estrangeiros em busca de oportunidades e refúgio. Mas, em contrapartida, os Estados Unidos mergulharam em duas custosas guerras na última década, sofreram com o estouro de uma bolha imobiliária e chegaram a um endividamento limite de US$ 14,3 trilhões (cerca de R$ 23 trilhões), teto que foi elevado após uma desgastante votação no Congresso. Um mercado interno deprimido e o desemprego ao redor dos 9% desafiam os esforços do governo do presidente Barack Obama.
Já o Brasil veio de anos de baixo crescimento econômico, mas domou a inflação e o desemprego, estabilizou sua dívida e criou um mercado de consumo interno forte nos últimos dez anos, decorrente da entrada de milhões de pessoas na classe C. Em 2008, a Standard & Poor's, mesma agência que neste ano rebaixou a nota da dívida americana, deu ao Brasil o título de grau de investimento, o que fez com que o país fosse considerado de baixo risco para aplicações estrangeiras. O cenário se tornou mais atraente para estrangeiros: no primeiro semestre de 2011, 4.312 americanos receberam vistos do Ministério do Trabalho brasileiro, em comparação com 3.622 no mesmo período em 2010.
O professor de macroeconomia da FGV-SP Rogério Mori afirma que, enquanto os Estados Unidos tiveram um grande crescimento amparado pela expansão do crédito até 2007, no Brasil a lógica foi outra: um crescimento mais moderado, derivado do fortalecimento do mercado interno e dos altos preços das commodities. "A diferença é que, de 2008 para cá, o motor do crescimento americano se esgotou. No caso brasileiro, as bases foram preservadas", diz.
Para Rubens Barbosa, embaixador brasileiro em Washington entre 1999 e 2004, a maior relevância geopolítica e econômica já provoca mudanças de percepção sobre o Brasil nos Estados Unidos. "Antes, o Departamento de Estado (a Chancelaria americana) via a América Latina através de México ou Cuba. Hoje, me surpreende que o encarregado de negócios tenha vivido em São Paulo e que todos (na embaixada americana) falem português. Vemos que mudou o interesse". Barbosa rejeita a ideia de que a década passada tenha sido economicamente "perdida" para os Estados Unidos, mas aponta as mudanças de rumo iniciadas pelo 11 de Setembro. "Os gastos públicos aumentaram e as receitas caíram por mudanças de (George W.) Bush na legislação tributária. Os ataques tiveram também um grande efeito econômico e psicológico nos americanos. Estavam em situação excelente, com alto consumo. De repente, (se viram diante de) crises habitacional e de derivativos".
Jovino Caldeira Coutinho, trabalhador da construção civil que voltou ao Brasil após 11 anos nos EUA (Foto: BBC Brasil).
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