Houve tempos em que os políticos dos Estados Unidos não sabiam ao certo
onde iria parar a crise financeira. Mas num ponto estão absolutamente
de acordo: os EUA não podem tomar o rumo do Japão. A economia esteve muito flexível, a resposta à crise foi dramática, e o
eleitorado muito franco para que uma estagnação ao estilo japonês
ocorresse nos EUA. Recentemente, em uma palestra, o presidente do Federal Reserve (o BC
americano), Ben Bernanke, disse que “não espera que o potencial de
crescimento no longo prazo da economia dos EUA seja concretamente
afetado pela crise”.
Mas Bernanke disse também que, para evitar este tipo de dano, é preciso
que a classe política tome uma série de decisões difíceis. A dúvida na
capacidade dos políticos em enfrentar tais desafios é o que faz muitos –
dentro e fora dos EUA – a questionar se o país está tomando o rumo
japonês. Mesmo seis meses atrás, tal pessimismo pareceria exagerado. Embora os
problemas no sistema financeiro dos EUA tenham sido o estopim da
recessão global de 2008/2009, a perda na produção nacional dos EUA tem
sido menor que a de outras economias desenvolvidas. E a recuperação dos
EUA tem sido mais rápida que na maioria da Europa e no Japão.
Ainda que a recuperação americana tenha sido mais lenta que em crises
anteriores, as autoridades sentem que fizeram a lição para evitar o rumo
japonês. O Fed (BC americano), por exemplo, cortou a taxa de juros para próximo
de zero em um período menor que o de dois anos – algo que o Banco
Central do Japão levou seis anos para fazer, em 1990. A resposta fiscal
para a crise nos EUA também tem sido mais dramática, ainda que tenha
deteriorado as relações entre os dois principais partidos políticos do
país. A revisão recente das previsões para o PIB mostram, apesar de tudo, um
declínio ainda maior da economia, com uma queda de 5,1% na produção
nacional e não 4,1%, como se pensava. No fim das contas, a renda nacional ainda não voltou ao nível pré-crise, como na Alemanha.
Em termos de crescimento econômico, o desempenho dos EUA nos cinco anos
após a crise não parece melhor que o registrado no Japão após o estouro
da bolha de ativos no fim dos anos 1980. O mercado de trabalho americano é desanimador, com o nível de desemprego
próximo a 9%, sendo que 40% dos desempregados estão parados há mais de
seis meses.
Talvez o século 21 "pertencerá à China e à Índia", como muitos sugerem.
Mas os EUA já passaram por tempos piores antes. A indústria digital teve
bom desempenho na última década, abrindo espaço para criatividade. Pelo
bem ou pelo mal, os EUA são melhores nisso que China ou Alemanha.
Diferente dos EUA, as economias da zona do euro não têm a demografia a
seu favor. Na maior parte dos países europeus a força de trabalho está
encolhendo, refletindo de maneira negativa no potencial de crescimento
econômico.
Os investidores talvez tenham razões para se preocupar com o futuro da
economia americana, mas, por ora, o mundo ainda gira em torno dos EUA. Se os acontecimentos conspiram para rebaixar definitivamente o lugar que
hoje ocupa a economia dos EUA, esta seria uma notícia mais preocupante
para o resto do mundo do que para os americanos.
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