Esse cumprimento, embora um galanteio, não poderia ter sido objetivamente verdadeiro. Na primeira vez em que John e Ann fizeram sexo, ele tinha 54 anos e ela 47. Ela poderia estar bem para a sua idade, mas muito certamente não tinha o corpo de uma garota. E o assunto crianças, não muito usado como tema em qualquer tipo de grupo, poderia ter atingido outra mulher tão de meia-idade de maneira tão profunda quanto assustadora. Mas Ann Maloney não tinha filhos na época, e ela os queria -- e muito. Quando se lembra dessa velha intimidade, tomando uns martinis em um restaurante no Upper East Side [em Nova Iorque], sua voz vibra com a lembrança do prazer. Seu marido a olha com admiração e carinho quando ela descreve o momento em que, quando ela se aproximou dos 50 anos, sua fantasia virou realidade. Ann havia adiado a maternidade por razões típicas: um primeiro casamento infeliz e uma mudança tardia de profissão -- no seu caso, de desenhista de interiores para psiquiatra -- que exigiu anos de escola e de treinamento, e uma mudança de endreço radical do Texas suburbano para a cidade de Nova Iorque. Quando encontrou seu futuro marido, ela estava se estabelecendo profissionalmente e construindo sua reputação no país. Ela estava, finalmente, pronta.
John tinha suas próprias urgências de procriação. Também um psiquiatra, e também divorciado, ele sentia que ele e sua primeira mulher não haviam criado seu filho, agora com 35 anos, "como acho que deveria ter sido. Eu queria criar uma família de um modo melhor". Como frequentemente acontece com casais maduros que sabem o que querem, as coisas progrediram rapidamente. Os dois casaram-se um ano e meio depois do primeiro encontro. Com suas experiências médicas, estavam cientes deste fato biológico: as chances normais de uma mulher engravidar depois dos 45 anos, sem auxílio técnico nenhum, são desencorajadoramente baixas. Então, pulando os anos agonizantes de "tentativas", começaram o processo de conseguir uma doadora de óvulos. Com o esperma de John, o útero de Ann, e os gametas de uma mulher muito mais jovem, eles construiriam a família que tanto desejavam.
Óvulos doados resultam em 60% de nascimentos vivos, não importa a idade da futura mãe. Mas, clínicas estabelecem vários limites de idade, e quando John e Ann buscavam conceber ela estava com 48 anos, o que representava o limite superior. Mesmo qundo a Universidade de Nova Iorque mostrou preocupação com a sua idade, Ann diz que nunca imaginou que estivesse muito velha para ter uma criança. Finalmente, a Universidade de Columbia "adotou" o casal e, depois de todo o ritual de praxe, Ann deu à luz Isabella, em fevereiro de 2001, um evento abençoado seguido de uma severa depressão pós-parto e de todas as fúrias hormonais que acompanham o início da menopausa.
A idade da primeira maternidade está crescendo em todo o mundo ocidental. Na Itália, na Alemanha e na Grã-Bretanha é de 30 anos. Nos EUA, foi de 21 para 25 anos desde 1970, e em Nova Iorque é ainda mais alta, 27. Mas, entre as mulheres de extrema meia-idade isso não está crescendo aos poucos, está simplesmente explodindo. Em 2008, o ano mais recente para o qual há dados detalhados, cerca de 8.000 bebês nasceram de mulheres com 45 anos ou mais, mais do que o dobro do número em 1997, de acordo com a instituição Centros para Controle de Doença (EUA). 541 desses bebês nasceram de mulheres com 50 anos ou mais -- um aumento de 375%. Na área de adoção, o quadro é o mesmo -- quase 25% das crianças adotadas nos EUA têm pais [adotivos] que são acima de 45 anos mais velhos que elas.
O movimento de "ter criança" nesse contexto é tão forte, que é à prova de recessão. Desde 2008, a taxa de nascimentos entre as mulheres em geral decaiu 4%, com as famílias colocando um freio na criação de filhos em tempos difíceis. Mas, entre as mulheres acima de 40 anos as taxas de nascimentos aumentaram -- entre as mulheres de 45 a 49 anos cresceram 17%.
A tecnologia da reprodução está na origem dessas cifras impressionantes. Mulheres acima de 45 que querem ter seus próprios filhos na maioria das vezes usam doadoras de óvulos, embora o congelamento de óvulos, um método mais inovador, ofereça para quem foi inicialmente pai adotivo uma outra opção que contorna os inflexíveis e muitas vezes inconvenientes limites da Mãe Natureza.
Veja mais informação no longuíssimo artigo da New York Magazine.
É ela simplesmente muito velha para isso? (Foto: New York Magazine).
John Ross, 66, e Ann Maloney, 60, com as filhas Lily. de 7 anos, e Isabella, de 10 (Foto: Wayne Laurence/Institute for Artist Management).
Kate Garros, de 61, com os gêmeos John e Alexandra, de 7 (Foto: Wayne Lawrence/Institute for Artist Management).
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