quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Itália em crise tem dívida pública mais barata que a do Brasil

Apesar da crise europeia, os títulos da dívida da Itália ainda são em tese mais seguros e são negociados com juros mais baixos que os do Brasil.

A aparente contradição fica explícita na rentabilidade dos papéis. Títulos brasileiros com resgate de dez anos chegam a ser negociados entre os investidores com juros anuais acima de 11%, quase o dobro dos 6,7% pagos pelos similares italianos. A taxa de juros é justamente definida pelo grau de confiança dos investidores na capacidade de pagamento do país que emite os títulos. Quanto maior o percentual de juros, menos confiáveis são os papeis.

Os títulos brasileiros também pagam mais juros que os dos Estados Unidos, outro país em crise, cujo retorno para o investidor é de 2% ao ano. Para os títulos alemães de dez anos, a taxa de juros é de 1,8%, segundo dados da agência Bloomberg.

Apesar da discrepância entre os títulos brasileiros e italianos, os juros pagos pelos papeis da dívida do Brasil estão em curva descendente, enquanto os da Itália atingiram nível recorde nesta terça-feira. Na semana passada, o Brasil conseguiu captar US$ 1 bilhão no mercado externo com o leilão de títulos com prazo de 30 anos pagando 4,7% de juros anuais, apenas 1,6 ponto percentual acima dos juros pagos por títulos americanos de prazo semelhante.

Para o economista Raphael Martello, da consultoria Tendências, o sucesso da captação brasileira da semana passada mostra que nas condições atuais os títulos brasileiros vêm atraindo a atenção cada vez maior dos investidores. No caso da Itália, o temor dos investidores, que pode custar o cargo ao primeiro-ministro Silvio Berlusconi, é a escalada do custo de manutenção da dívida. Desde o início da crise, a Itália só vê o percentual de juros que paga aos seus credores aumentar.

Caso os juros da dívida italiana passem dos 7% (patamar ainda menor que a média dos títulos brasileiros), o país ficará exposto ao risco de ser obrigado a dar um calote em sua dívida. "Os 7% são usados como balizador da dívida. Foi quanto Portugal e Grécia atingiram antes de pedir ajuda. É um patamar que o mercado entende que, uma vez ultrapassado, colocará o país sob o risco de insolvência", diz Martello.

Outra aparente contradição na comparação entre a situação fiscal dos dois países aparece na avaliação das agências de classificação de risco. Apesar de rebaixada pelas três grandes, a Moodys, a Standard & Poors e a Fitch, a Itália mantem uma dívida com variações da nota A. Já o Brasil, mesmo sendo uma das potências emergentes que podem participar de um eventual pacote de resgate à Europa, tem os títulos de sua dívida dentro das variações da nota B. "É de fato uma classificação que chega a ser incoerente. Sabemos que Itália tem uma indústria forte, produção importante. Isso acaba fazendo com que a classificação de risco seja melhor", diz Martello, da Tendências.

Já o analista Christopher Garman, diretor de América Latina do Eurasia Group, em Washington, lembra que as as agências levam em conta o fato de a Itália estar atrelada a uma moeda compartilhada (o euro). "Se esses países (europeus) entrarem em dificuldade, terão a ajuda dos outros membros da zona do euro. Por isso a nota da Itália é mais alta que a do Brasil", diz. Nos dois casos, o percentual do PIB empenhado no pagamento dos juros da dívida soberana é similar, sendo de aproximadamente 4%, segundo dados do FMI.

A diferença entre Brasil e Itália, segundo ambos analistas, está no montante de endividamento em relação ao PIB. No Brasil, a dívida soberana compromete 64,9% da economia, segundo dados acumulados de 2011 do FMI (Fundo Monetário Internacional). Na Itália, esse nível é de 121% do PIB. "O custo da Itália não é sustentável, porque a soma da dívida é muito maior. A relação dívida x PIB na Itália é quase o dobro da do Brasil", ressalta Garman, do Eurasia Group.

O alto grau de endividamento dos países também é considerado o calcanhar de Aquiles de outras economias desenvolvidas. Nos Estados Unidos, perfaz aproximadamente 100% do PIB. Na Grécia, o país mais afetado pela crise europeia, a relação dívida/PIB no acumulado de 2011 já atinge 165%, segundo o FMI.


Nenhum comentário:

Postar um comentário