O texto abaixo é de Tatiana de Mello Dias, publicado hoje no blog "Link" do jornal Estado de S. Paulo.
“Isso aqui está parecendo mais o Penha-Lapa”, disse o ministro da 
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Aloízio Mercadante, ao buscar um 
lugar para se sentar. A sala estava tomada por programadores, hackers, 
ativistas e jornalistas na Casa de Cultura Digital, espaço que abriga 
várias empresas de tecnologia em São Paulo. O ministro esteve lá na tarde desta segunda-feira, 5, para apresentar 
aos hackers o Projeto Aquarius, uma plataforma de dados abertos do 
ministério. A ideia do projeto é criar um espaço para abrigar desde 
dados administrativos – como gastos das instituições – até detalhes 
sobre a concessão de bolsas.
O plano do MCTI é criar uma pataforma em software livre que possa ser 
readapatada e utilizada em outras instâncias do governo, e até mesmo por
 governos de outros países. 
Há poucas definições sobre como exatamente será o projeto. Foi por isso 
que o ministro, cumprindo a promessa de”ouvir os hackers”, organizou um 
encontro com os ativistas que trabalham criando software e aplicativos 
sobre os dados do governo. “Nós queremos contornar a visão 
preconceituosa que tenta criminalizar quem tem essa visão libertária”, 
disse ele sobre os hackers. “O Brasil precisa reconhecer que parte do 
conhecimento não está nas empresas, e nem sempre nas universidades. Está
 numa comunidade que se relaciona na rede”. E completou afirmando que “o
 movimento hacker foi o que deu a alma para a internet”.
Passada meia hora de reunião, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) apareceu
 para assistir a apresentação. Ele se acomodou em uma almofada no chão 
até que lhe fosse cedida uma cadeira. 
O projeto Aquarius terá integração com outros sistemas, como o IBGE e o 
Finep, e possibilitará uma “melhor fiscalização das despesas”. Os 
hackers colaborarão não só com a utilização dos dados para criação de 
apps, mas também com a própria plataforma. “Haverá abertura total para a colaboração de vocês”, afirmou Paulo 
Henrique Santana, responsável por criar a plataforma Lattes em 1998 e 
hoje responsável pelo projeto. O Ministério ainda não sabe qual será o 
padrão de abertura, mas “haverá abertura total para a colaboração de 
vocês”.
A plataforma, porém, não é 100% livre – há alguns pontos em que foi 
preciso utilizar softwares proprietários, o que provocou preocupação 
entre os presentes. Pedro Markun, criador da comunidade Transparência 
Hacker, sugeriu que o governo disponibilizasse o código-fonte para que a
 comunidade encontre o que é proprietário e trabalhe com alternativas. O
 sociólogo e ativista Sérgio Amadeu sugeriu a abertura de editais para a
 conversão desses softwares. 
Os programadores também sugeriram que o governo adotasse a linguagem de 
programação Python, mais aberta, em lugar da Java. O Ministério, porém, 
disse que isso não é mais possível. “Sempre que se começa com software 
proprietário, é difícil conseguir migrar depois”, disse o programador 
Diego Rabatone, criticando a restrição.
Mercadante garantiu que o governo se esforçará para adotar o software 
livre na plataforma. Segundo ele, os primeiros dados serão 
disponibilizados no final deste ano. E a conversa, prometeu, deve 
continuar na lista que reúne os hackers. “Vamos ter que modernizar as instituições, a administração pública se 
sente insegura com isso, há um risco no processo político, mas esse é 
um caminho sem volta”, disse o ministro. 
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