terça-feira, 6 de setembro de 2011

Governo deve mudar incentivo a carro

Volta e meia a gente ouve e lê reclamações da indústria automobilística contra o que chamam de "invasão" de carros importados, principalmente da Ásia (Japão, Coreia do Sul e agora também da China). Nesse choro há muita hipocrisia e muita chantagem, e o artigo abaixo do Estado de S. Paulo confirma isto. Os carros importados estão estão entrando aos borbotões no Brasil por uma série de motivos, todos perfeitamente compreensíveis: dólar barato, real forte, carros de design mais atraente que o dos aqui fabricados, e carros com itens de segurança via de regra mais completos que os dos carros nacionais. Sem falar que há montadoras e fabricantes "nacionais" importando carros de suas matrizes, ou de outras fábricas suas no exterior. Os carros chineses são um caso à parte, preocupante, porque a China é essencialmente um competidor voraz e desleal.

O governo deve desistir de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os carros conforme previsto na nova política industrial, Brasil Maior. O problema é a resistência das montadoras a se comprometerem com contrapartidas efetivas de inovação, agregação de conteúdo local e eficiência energética. [Eis aqui a demonstração de que os fabricantes instalados no Brasil querem mesmo é mamar na teta do governo, usufruindo de favores fiscais, e estão se lixando para a segurança e o benefício do país e de seus consumidores].  A proposta agora é elevar o IPI para carros que não se enquadrarem nas regras do novo regime automotivo, que está sendo desenhado por governo e setor privado. A medida funcionaria como uma proteção e atingiria em cheio os modelos importados.

Em medida provisória publicada pela Receita Federal sobre o Brasil Maior, o governo previa reduzir o IPI para as montadoras até julho de 2016, desde que fossem obedecidas contrapartidas. O setor já havia sido beneficiado com redução de IPI para estimular a demanda na crise de 2008. A alíquota de IPI hoje varia conforme a potência dos carros: 7% para modelos populares, 13% a 15% para potência 1.0 a 2.0, e 25% para veículos acima de 2.0. Ainda não está definida de quanto seria a elevação do imposto.

Segundo uma alta fonte do governo federal, a administração Dilma está desistindo de reduzir o IPI, porque as montadoras se recusam a assumir contrapartidas. Estão em discussão: estabelecer um porcentual do faturamento a ser investido em pesquisa e tecnologia; definir um índice de peças nacionais para os modelos de carros; fixar uma meta de eficiência energética. [Essas exigências são inteiramente corretas e justas, e a reação dos fabricantes em adotá-las e aplicá-las é um deboche, comprovando sua política de nos manter como subindustrializados e como consumidores de terceira categoria].

Há um racha dentro do setor automotivo. Fiat, General Motors, Volkswagen e Ford preferem um regime restritivo, porque estão há bastante tempo no País e já utilizam mais de 90% de peças locais nos modelos mais vendidos. Já montadoras como Toyota, Citroën, Renault ou Nissan importam mais peças e querem um regime mais brando. [Vejam só!]

Outro ponto que incomoda o governo é que as montadoras se recusam a repassar uma eventual redução de IPI para o consumidor, como ocorreu na crise. "Se não repassarem, servirá apenas para elevar a margem de lucro", diz a fonte. As montadoras argumentam que a desoneração visa a melhorar a competitividade e não aumentar o consumo. [Má-fé maior é impossível!]

Segundo um executivo do setor automotivo, as montadoras ainda lutam para convencer o governo a reduzir o IPI, em vez de elevar o imposto para quem ficar de fora. As empresas argumentam que mais imposto eleva a proteção, mas não aumenta a competitividade para fabricar no Brasil. Procurada, a Anfavea (que reúne as montadoras) não se manifestou.

Montadoras e governo só estão de acordo sobre o principal alvo da medida: os carros chineses. Mesmo que construam fábricas no País, como anunciaram, as marcas chinesas dificilmente vão agregar peças locais suficientes para se enquadrar no novo regime automotivo. Uma fonte do setor de autopeças diz que o governo precisa arbitrar as diferenças e estabelecer uma exigência alta de conteúdo local. O pior cenário para as autopeças é a instalação de fábricas chinesas que disputem o mercado local e reduzam a utilização de peças brasileiras na frota.
 

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