Volta e meia a gente ouve e lê reclamações da indústria automobilística contra o que chamam de "invasão" de carros importados, principalmente da Ásia (Japão, Coreia do Sul e agora também da China). Nesse choro há muita hipocrisia e muita chantagem, e o artigo abaixo do Estado de S. Paulo confirma isto. Os carros importados estão estão entrando aos borbotões no Brasil por uma série de motivos, todos perfeitamente compreensíveis: dólar barato, real forte, carros de design mais atraente que o dos aqui fabricados, e carros com itens de segurança via de regra mais completos que os dos carros nacionais. Sem falar que há montadoras e fabricantes "nacionais" importando carros de suas matrizes, ou de outras fábricas suas no exterior. Os carros chineses são um caso à parte, preocupante, porque a China é essencialmente um competidor voraz e desleal.
O governo deve desistir de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os carros conforme previsto na nova política industrial, Brasil Maior. O problema é a resistência das montadoras a
se comprometerem com contrapartidas efetivas de inovação, agregação de
conteúdo local e eficiência energética. [Eis aqui a demonstração de que os fabricantes instalados no Brasil querem mesmo é mamar na teta do governo, usufruindo de favores fiscais, e estão se lixando para a segurança e o benefício do país e de seus consumidores]. A proposta agora é elevar o IPI para carros que não se enquadrarem nas
regras do novo regime automotivo, que está sendo desenhado por governo e
setor privado. A medida funcionaria como uma proteção e atingiria em
cheio os modelos importados.
Em medida provisória publicada pela Receita Federal sobre o Brasil
Maior, o governo previa reduzir o IPI para as montadoras até julho de
2016, desde que fossem obedecidas contrapartidas. O setor já havia sido
beneficiado com redução de IPI para estimular a demanda na crise de
2008. A alíquota de IPI hoje varia conforme a potência dos carros: 7% para
modelos populares, 13% a 15% para potência 1.0 a 2.0, e 25% para
veículos acima de 2.0. Ainda não está definida de quanto seria a
elevação do imposto.
Segundo uma alta fonte do governo federal, a administração Dilma está
desistindo de reduzir o IPI, porque as montadoras se recusam a assumir
contrapartidas. Estão em discussão: estabelecer um porcentual do
faturamento a ser investido em pesquisa e tecnologia; definir um índice
de peças nacionais para os modelos de carros; fixar uma meta de
eficiência energética. [Essas exigências são inteiramente corretas e justas, e a reação dos fabricantes em adotá-las e aplicá-las é um deboche, comprovando sua política de nos manter como subindustrializados e como consumidores de terceira categoria].
Há um racha dentro do setor automotivo. Fiat, General Motors, Volkswagen
e Ford preferem um regime restritivo, porque estão há bastante tempo no
País e já utilizam mais de 90% de peças locais nos modelos mais
vendidos. Já montadoras como Toyota, Citroën, Renault ou Nissan importam
mais peças e querem um regime mais brando. [Vejam só!]
Outro ponto que incomoda o governo é que as montadoras se recusam a
repassar uma eventual redução de IPI para o consumidor, como ocorreu na
crise. "Se não repassarem, servirá apenas para elevar a margem de
lucro", diz a fonte. As montadoras argumentam que a desoneração visa a
melhorar a competitividade e não aumentar o consumo. [Má-fé maior é impossível!]
Segundo um executivo do setor automotivo, as montadoras ainda lutam para
convencer o governo a reduzir o IPI, em vez de elevar o imposto para
quem ficar de fora. As empresas argumentam que mais imposto eleva a
proteção, mas não aumenta a competitividade para fabricar no Brasil.
Procurada, a Anfavea (que reúne as montadoras) não se manifestou.
Montadoras e governo só estão de acordo sobre o principal alvo da
medida: os carros chineses. Mesmo que construam fábricas no País, como
anunciaram, as marcas chinesas dificilmente vão agregar peças locais
suficientes para se enquadrar no novo regime automotivo. Uma fonte do setor de autopeças diz que o governo precisa arbitrar as
diferenças e estabelecer uma exigência alta de conteúdo local. O pior
cenário para as autopeças é a instalação de fábricas chinesas que
disputem o mercado local e reduzam a utilização de peças brasileiras na
frota.
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