terça-feira, 1 de novembro de 2011

A píton birmanesa pode tornar-se a chave da saúde cardíaca humana

Um grupo de pesquisadores americanos deposita grandes esperanças na cobra píton birmanesa. Esse réptil, que pode atingir 9 metros de comprimento e pesar 90 quilos, pode conter as chaves de novos tratamentos para combater ou prevenir as doenças cardíacas humanas.

Capaz de engolir uma corça ou um jacaré, o maior réptil do mundo segrega nesse momento ácidos graxos de propriedades benéficas para o coração. Os cientistas da universidade do Colorado, em Boulder, descobriram que as quantidades de triglicerídeos -- principal elemento formador das graxas (gorduras) e óleos naturais -- eram multiplicadas por 50 no sangue das pítons um dia após haver engulido uma presa. Apesar do forte aumento dessas graxas/gorduras no organismo das serpentes, os autores do estudo -- publicado na revista americana Science de 28 de outubro -- não constataram depósitos gordurosos no coração. Além disso, mediram o aumento de uma enzima chamada superóxido dismutase, bem conhecida por seus possantes efeitos protetores sobre o músculo cardíaco inclusive no ser humano.

Após haver determinado a composição química do plasma sanguíneo (composto líquido do sangue) de pítons em plena digestão, os pesquisadores injetaram esse líquido ou uma composição similar em pítons que tinham o estômago vazio. Após essas injeções, essas serpentes mostraram um claro aumento do coração e de sinais de uma boa saúde cardíaca.

Os pesquisadores repetiram a experiência com ratos e constataram os mesmos efeitos sobre o coração dos roedores, que aumentou de tamanho. "Descobrimos que uma certa combinação de ácidos graxos pode ter efeitos benéficos sobre o crescimento cardíaco em organismos vivos", explica Cecilia Riquelme, autora principal do estudo. "Agora, tentamos entender o mecanismo molecular por trás desse processo, e esperamos que os resultados gerem novas terapias para tratar melhor as doenças cardiovasculares humanas", acrescenta ela.

Estudos anteriores mostraram que a massa do coração de pítons birmanesas aumentava 40% nas 24 a 72 horas após uma grande refeição, e que a atividade do metabolismo delas quadruplicava imediatamente após haver engulido sua presa. As pítons, que podem jejuar durante um ano com poucos efeitos nefastos sobre a saúde, vêem seu coração quase duplicar de tamanho após uma refeição. Como esse aumento do músculo cardíaco é semelhante ao que ocorre nos atletas, os cientistas acreditam que estudar o coração das pítons pode ajudar os pesquisadores a melhorar a saúde cardíaca dos humanos.

Eles notaram que existe também um aumento "ruim" do volume do coração, principal causa da morte súbita de atletas jovens. Se doenças podem provocar um espessamento/aumento do músculo cardíaco e uma redução das câmaras do coração, como resultado do fato dele trabalhar mais para bombear o sangue, uma ampliação resultante de um exercício vigoroso é, em troca, uma coisa boa, sublinha Leslie Leinwand, professor de biologia que dirigiu esses trabalhos. "Há um grande número de pessoas que não está em condições de fazer exercício porque sofre de uma doença cardíaca", observa esse biólogo, acrescentando que seria "bom colocar em ação um tratamento capaz de induzir o crescimento de células cardíacas" nessas doenças.

[A nossa jibóia pertence ao mesmo gênero das pítons -- será que ela não apresenta as mesmas características destas, nos termos do estudo acima citado?]. 

Uma píton birmanesa (Foto: Robert Sullivan/AFP).

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