O artigo abaixo foi publicado no site Winetag em 26/10/11 por Mateus V. A transcrição desse texto não significa que concorde com ele -- pelo contrário, eu o acho de uma superficialidade campeã, mas tem pelo menos o mérito de abordar um assunto que é pouco ou nada ventilado na mídia brasileira.
Devido à complexidade e
às diferentes realidades da vitivinicultura no Brasil, este artigo
limita-se à viticultura destinada para vinhos finos. Tomamos como ponto
de partida a vinda dos imigrantes europeus que chegaram ao Sul do
Brasil no final do século XIX, os grandes disseminadores da
vitivinicultura. A questão do artigo é: porque a nossa vitivinicultura
não teve uma projeção similar à da Argentina e à do Chile, se temos uma
história tão recente quanto?
A atividade começou a
ter importância econômica no início do século XX com o surgimento das
cooperativas e de algumas empresas privadas. Vários motivos fizeram com
que nossa vitivinicultura não tivesse o reconhecimento e o respaldo
internacional como a Chilena e a Argentina. A partir dos anos 70 muitos
investidores estrangeiros se instalaram nestes dois países. Ambos
possuem clima seco, muito favorável ao cultivo da videira, e uma
topografia de fácil mecanização, com possibilidade de produção de vinhos
em grande escala e, consequentemente, com um custo muito menor do que o
nosso. Assim, puderam criar uma política voltada para a exportação.
Vinhos com uma qualidade média, mas com muita regularidade, que
conquistaram os grandes mercados consumidores e influentes no mundo do
vinho.
Somente de uns anos pra
cá que o Brasil começou efetivamente a pensar no mercado externo.
Primeiro porque tínhamos um imenso mercado interno a ser explorado antes
de nos aventurarmos para fora. Segundo, devido à falta de
competitividade gerada pela alta tributação do produto brasileiro, que
supera os 40%, ao passo que a dos vinhos do Mercosul gira em torno de
20%. [Sendo enólogo, o autor tem que saber que o problema de mercado de nossos vinhos tintos, por exemplo, vai muito além do valor de tributação -- nossas condições climáticas e de terroir são muito complicadas para esse tipo de vinho. Já nossos espumantes são de alta qualidade e não fazem feio em mesa alguma, mas aí a tributação absurda os castiga nos preços. O autor deveria ter se estendido um pouco mais no assunto.]
Também podemos atribuir o
atraso brasileiro ao cultivo de uvas híbridas e americanas. Elas sempre
imperaram por aqui e criou-se um mercado para estes vinhos. Como lá
fora o uso destas uvas para vinho é proibido, nosso vinho nunca teve
muita chance de se tornar expressivo. Aliado a isso está o conceito de
“status” que o produto estrangeiro tem para muitos brasileiros.
Precisamos exportar vinho, conquistar o mercado externo para refletir
aqui e convencer o mercado interno de que temos qualidade. É isso que
está fazendo um grupo de vinícolas, que conjuntamente num programa de
exportação estão dando visibilidade e convencendo os grandes críticos.
Mais recentemente, a
partir dos anos 2000, a vitivinicultura brasileira ganhou um forte
impulso com o surgimento de novas regiões produtoras e pela busca
incessante de melhores “terroirs”. Empresários de outros ramos entraram
no mundo do vinho focados na qualidade, e trouxeram consigo
empreendorismo e ousadia. Estão criando produtos muito interessantes,
mas ao mesmo tempo, por serem muitas vezes projetos ambiciosos e
glamourosos, podem pecar no preço, já que acreditam que o consumidor
deve pagar por isso. Mas é preciso que elas pensem em maneiras eficazes
de conquistar o mercado.
Em termos gerais,
estamos vivendo um grande momento no setor. As vendas do vinho nacional
estão em crescimento tanto internamente quanto no mercado externo. A
qualidade e a confiabilidade do consumidor em nosso produto são cada vez
maiores. Temos já 4 cursos de enologia no país e institutos de
pesquisa, como a Embrapa Uva e Vinho, referência internacional em
pesquisas. Nossos profissionais estão buscando inspiração fora da Itália
(até pouco tempo existia muito apego às regiões de origem dos
descendentes de imigrantes). Há também uma grande expectativa em torno
da Copa do Mundo e das Olimpíadas para adivulgação do vinho brasileiro.
Então, temos tudo para dar certo! [Esta conclusão, com exclamação e tudo, é de doer!]
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