quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O mercado de vinhos brasileiro vs os mercados chileno e argentino

O artigo abaixo foi publicado no site Winetag em 26/10/11 por Mateus V.  A transcrição desse texto não significa que concorde com ele -- pelo contrário, eu o acho de uma superficialidade campeã, mas tem pelo menos o mérito de abordar um assunto que é pouco ou nada ventilado na mídia brasileira.

Devido à complexidade e às diferentes realidades da vitivinicultura no Brasil, este artigo limita-se à viticultura destinada para vinhos finos. Tomamos como ponto de partida a vinda  dos imigrantes europeus que chegaram ao Sul do Brasil no final do século XIX, os grandes disseminadores da vitivinicultura. A questão do artigo é: porque a nossa vitivinicultura não teve uma projeção similar à da Argentina e à do Chile, se temos uma história tão recente quanto?

A atividade começou a ter importância econômica no início do século XX com o surgimento das cooperativas e de algumas empresas privadas. Vários motivos fizeram com que nossa vitivinicultura não tivesse o reconhecimento e o respaldo internacional como a Chilena e a Argentina. A partir dos anos 70 muitos investidores estrangeiros se instalaram nestes dois países. Ambos possuem clima seco, muito favorável ao cultivo da videira, e uma topografia de fácil mecanização, com possibilidade de produção de vinhos em grande escala e, consequentemente, com um custo muito menor do que o nosso. Assim, puderam criar uma política voltada para a exportação. Vinhos com uma qualidade média, mas com muita regularidade, que conquistaram os grandes mercados consumidores e influentes no mundo do vinho.


Somente de uns anos pra cá que o Brasil começou efetivamente a pensar no mercado externo. Primeiro porque tínhamos um imenso mercado interno a ser explorado antes de nos aventurarmos para fora. Segundo, devido à falta de competitividade gerada pela alta tributação do produto brasileiro, que supera os 40%, ao passo que a dos vinhos do Mercosul gira em torno de 20%. [Sendo enólogo, o autor tem que saber que o problema de mercado de nossos vinhos tintos, por exemplo, vai muito além do valor de tributação -- nossas condições climáticas e de terroir são muito complicadas para esse tipo de vinho. Já nossos espumantes são de alta qualidade e não fazem feio em mesa alguma, mas aí a tributação absurda os castiga nos preços. O autor deveria ter se estendido um pouco mais no assunto.]

Também podemos atribuir o atraso brasileiro ao cultivo de uvas híbridas e americanas. Elas sempre imperaram por aqui e criou-se um mercado para estes vinhos. Como lá fora o uso destas uvas para vinho é proibido, nosso vinho nunca teve muita chance de se tornar expressivo. Aliado a isso está o conceito de “status” que o produto estrangeiro tem para muitos brasileiros. Precisamos exportar vinho, conquistar o mercado externo para refletir aqui e convencer o mercado interno de que temos qualidade. É isso que está fazendo um grupo de vinícolas, que conjuntamente num programa de exportação estão dando visibilidade e convencendo os grandes críticos.


Mais recentemente, a partir dos anos 2000, a vitivinicultura brasileira ganhou um forte impulso com o surgimento de novas regiões produtoras e pela busca incessante de melhores “terroirs”. Empresários de outros ramos entraram no mundo do vinho focados na qualidade, e trouxeram consigo empreendorismo e ousadia. Estão criando produtos muito interessantes, mas ao mesmo tempo, por serem muitas vezes projetos ambiciosos e glamourosos, podem pecar no preço, já que acreditam que o consumidor deve pagar por isso.  Mas é preciso que elas pensem em maneiras eficazes de conquistar o mercado.

Em termos gerais, estamos vivendo um grande momento no setor. As vendas do vinho nacional estão em crescimento tanto internamente quanto no mercado externo. A qualidade e a confiabilidade do consumidor em nosso produto são cada vez maiores. Temos já 4 cursos de enologia no país e institutos de pesquisa, como a Embrapa Uva e Vinho, referência internacional em pesquisas. Nossos profissionais estão buscando inspiração fora da Itália (até pouco tempo existia muito apego às regiões de origem dos descendentes de imigrantes). Há também uma grande expectativa em torno da Copa do Mundo e das Olimpíadas para adivulgação do vinho brasileiro. Então, temos tudo para dar certo! [Esta conclusão, com exclamação e tudo, é de doer!]

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