Em sua edição de 27 de julho de 2011 a revista Newsweek publica um longo e interessante artigo sobre o resgate das relíquias culturais da Itália, que reproduzo parcialmente a seguir. Em seu subtítulo, o texto diz que "com sua economia em frangalhos, o país não tinha condições de preservar seu patrimônio cultural -- então os magnatas entraram em cena".
Como a própria economia do país, embora menos notados pelos que estão de fora do país, os monumentos antigos e o patrimônio cultural da Itália estão desmoronando. Veneza está afundando, o famoso Domo de Florença está rachado e descascando, e igrejas da época normanda na Sicília foram encobertas com tapumes. Não há como surpreender-se com a degradação de estruturas antigas ao longo do tempo. Mas, os infortúnios culturais da Itália não estão restritos ao desmoronamento de travertino [certa qualidade de pedra da cidade de Tibure, cidade próxima a Roma]. Desde 2008, houve 15 macroemergências arqueológicas apenas em Pompeia e várias outras através do país, causadas por negligência e cortes orçamentásrios.
O teto do Palácio Dourado de Nero em Roma cedeu no ano passado, esmagando uma galeria e destruindo um teto dourado. No Coliseu, três pedaços grandes de alvenaria despencaram poucas horas antes que o monumento fosse aberto ao público. O que o vulcão não conseguiu com a velha cidade pode ser feito pela falta de dinheiro: em novembro, a Casa dos Gladiadores em Pompeia, com 2.000 anos de construída, transformou-se num monte de escombros.
A Itália possui mais locais classificados pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade do que qualquer outro país do mundo, ainda assim seu orçamento na cultura foi cortado quase pela metade nos últimos três anos, de US$ 603 milhões para US$ 340 milhões, e agora mal dá para cobrir manutenção ou preservação.
No início de julho, a associação para o patrimônio nacional italiano, a Italia Nostra, emitiu um aviso de emergência, apelando para que a UNESCO coloque Veneza em sua lista de perigo para tentar sustar a destruição galopante da cidade. "Se querem Veneza destruída, continuem cortando nossas verbas", diz Lidia Fersuoch, presidente da seção veneziana da Italia Nostra.
O que está em risco não é apenas o apego sentimental a monumentos nacionais. Com suas riquezas milenares, a Itália atrai mais de 45 milhões de visitantes a cada ano, fazendo do turismo a primeira indústria do país, responsável por 8,6% do PIB. A Itália, como uma marca, não apenas representa qualidade e beleza, mas se traduz em euros.
Poucas pessoas entendem do poder de uma marca como Diego Della Valle, presidente da companhia de artigos de couro de luxo Tod's, e seu amigo, o presidente da Ferrari, Luca Cordero di Montezemolo. Della Valle está bancando a restauração do La Scala, de Milão, e doou mais de US$ 36 milhões para salvar o Coliseu, depois que o ministro da Cultura italiano declarou que simplesmente não tinha como arcar com os custos de manutenção do monumento.
Em julho, Montezemolo lançou uma iniciativa chamada Italia Futura, com o objetivo de patrocinar projetos pelo país afora. A Italia Futura é um misto de usina de ideias (think tank) e uma comunidade ligada em rede, visando mesclar política, filantropia, economia, e cultura. Ela está sendo usada para gerar fundos para alguns dos projetos mais urgentes do país, como a revitalização do arruinado porto de Gênova.
O que diferencia a situação na Itália é que a lista de tesouros nacionais em perigo é muito longa, e a situação atual, muito calamitosa. Em acréscimo a todos os infortúnios, o ministério da Cultura enfrentou recentemente acusações de impropriedade e má gestão. O antecessor do atual ministro da Cultura, Giancarlo Garlan, o Sr. Sandro Bondi, renunciou no ano passado em seguida a acusações de mau manejo do sítio arqueológico de Pompeia.
À esquerda, Diego Della Valle, no teatro de ópera La Scala, de Milão que está ajudando financeiramente a reformar. À direita, vista parcial do Coliseu, cuja manutenção recebeu também auxílio financeiro de Della Valle - (Fotos: Newsweek).
Veneza, com futuro sob risco por causa dos cortes orçamentários para sua manutenção e preservação - (Foto: Google).
Vista parcial das ruínas de Pompeia, também ameaçadas pela falta de verbas para sua manutenção - (Foto: Google).
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