Um crescente abismo entre as comunidades judaica e árabe de Israel é ressaltado em um documento crítico da União Europeia (UE), que apresenta uma abordagem nova ao opinar que a comunidade internacional tem um papel em assegurar que haja um "tratamento genuinamente igualitário" para a minoria árabe daquele país.
A minuta confidencial de 27 páginas, preparada por diplomatas europeus e acessada pelo jornal The Independent, apresenta uma ampla lista de indicadores que mostram que os árabes israelenses sofrem "disparidades econômicas ... acesso desigual à terra e à habitação ... legislação de recrutamento discriminatória e um clima político em que são impunes o discurso e a prática discriminatórios".
O documento faz também críticas a alguns líderes árabes israelenses, acusando os mais extremados de incitar acusações de deslealdade dentro da comunidade majoritária judia. E é cuidadosamente atento ao elogiar medidas estatais positivas que afetam a comunidade árabe, incluindo as que se referem a policiamento. Mas, denuncia que Israel atendeu a "poucas" das recomendações sobre "as causas sócio-econômicas da frustração dos árabes israelenses" feitas pela Comissão Or, constituída depois que 12 árabes israelenses foram mortos pela polícia durante demonstrações há 11 anos atrás.
A circulação do documento irritou o ministro do Exterior de Israel, que acusou ontem os diplomatas europeus de o prepararem "por trás de nossas costas" e de não procurarem saber a visão do governo. "Não fomos informados, consultados, ou abordados sobre esse documento supostamente escrito por diplomatas da UE", disse o porta-voz do ministro.
Ainda que os líderes da UE critiquem regularmente Israel por suas atividades em território ocupado -- incluindo o aumento na construção de assentamentos --, a minuta [do documento] é inusitada por abordar um assunto altamente sensível [que ocorre] dentro das fronteiras israelenses. Ela alerta que a erosão do éthos que norteou a fundação de Israel -- como uma terra natal para os judeus mas comprometida em tratar igualmente todos os cidadãos -- "fortalecerá aqueles que querem "deslegitimizar" Israel e prejudicar sua posição no cenário internacional".
Uma lista detalhada de recomendações para a própria UE -- incluindo as de um lobby ativo contra leis discriminatórias, o fornecimento de mais bolsas de ensino europeias para estudantes árabes, o encorajamento de companhias europeias de alta tecnologia para que invistam em áreas árabes, e o estímulo ao ensino do árabe e a projetos de coexistência em escolas -- foi retirada do texto por, admite-se, objeções principalmente da Holanda. A minuta afirma que o tratamento dado por Israel a suas minorias dentro de suas fronteiras deve ser visto pela comunidade internacional como "um tema central, não um tema secundário no conflito iraelense-palestino".
Os diplomatas [europeus] destacam também uma avalanche recente de leis do Knesset [o parlamento israelense] que "teriam negado a alguns israelenses sua cidadania, legalizado a discriminação no acesso à habitação, e limitado a liberdade de expressão". Enquanto reconhece que os aspectos "mais discriminatórios" dessa legislação foram suavizados ou eliminados, o documento aponta que "tais leis têm um efeito atemorizante sobre as relações israelense-árabes".
O documento registra também que, apesar das "leis robustas contra o incitamento" e do fato de o primeiro-ministro israelense ter "finalmente" emitido uma condenação, nenhuma ação foi tomada contra 47 rabinos empregados públicos municipais que requereram aos judeus que não aluguem propriedades a árabes. O texto assinala ainda que, apesar de serem 20% da população, os árabes israelenses possuem apenas 3% das terras do país. O documento afirma que o ganho médio dos árabes valem apenas 61% do que os cidadãos da comunidade judaica ganham, com 50% dos árabes vivendo na pobreza, segundo a OCDE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário