Reproduzo a seguir um editorial do The Washington Post, publicado no dia 24 de dezembro.
Interrompemos o atual clima de desânimo e melancolia em relação à economia mundial para trazer uma palavra sobre progresso. Na América Latina e no Caribe, a parcela da população vivendo na pobreza caiu substancialmente de 1990 a 2010, de 48,4% para 31,4% de acordo com um recente relatório da ONU. E isso aconteceu enquanto a população crescia de 440,7 milhões para 582 milhões [cerca de 32%].
As notícias sobre pobreza extrema são ainda melhores: ela caiu de 22,6% em 1990 para 12,3% no ano passado. Isto significa que a América Latina quase atingiu a meta estabelecida pela ONU em 2000, de reduzir a pobreza extrema em 2015 à metade da cifra de 1990. E ainda há mais: a notória distribuição de renda desigual da América Latina está ficando menos injusta. O relatório da ONU, elaborado pela sua Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) em Santiago, Chile, sinaliza que o coeficiente Gini, uma medição de desigualdade amplamente utilizada, diminuiu de modo firme em 10 países latinos na última década [o coeficiente de Gini, criado pelo estatístico italiano Corrado Gini em 1912, é comumente utilizado para calcular a desigualdade de distribuição de renda, mas pode ser usado para qualquer distribuição. É um número entre 0 e 1, onde "0" corresponde à completa igualdade de renda (todos têm a mesma renda) e 1 corresponde à completa desigualdade (onde uma pessoa tem toda a renda, e as outras nada têm)].
O que deu certo? A América Latina viveu uma "década perdida" de baixo crescimento durante os anos 1980s, do que resultaram tanto pobreza quanto desigualdade. Esse longo fracasso resultou de uma onda de crescimento anterior artificial, gerado por aumento de deficit. Mas as reformas estruturais que os países implementaram quando houve um alívio no custo da dívida foram bem sucedidas, resultando numa prosperidade mais durável e de base mais ampla. Isso foi ajudado também por um comércio mais livre entre países latino-americanos, e entre a América Latina e os EUA.
Os governos da região aumentaram os gastos em saúde, educação e benefícios sociais -- e direcionaram esses recursos mais eficientemente para os mais necessitados. Nessa região, educação e assistência à saúde melhores para as mulheres, conjugadas com mais liberdade e democracia (exceto para Cuba, Venezuela e seus clientes) contribuiram para um declínio nas taxas de fertilidade. Isso possibilitou que as mulheres ganhassem mais, e as famílias dedicassem mais tempo e recursos para cada uma de suas crianças. [Essa redução da taxa de natalidade, associada a uma maior expectativa de vida por melhoria das condições de saúde e outras, está gerando um envelhecimento da população brasileira, com sérios riscos econômicos para o país e as futuras gerações, conforme exposto em postagem anterior].
Os resultados têm sido mais dramáticos no maior país latino-americano, o Brasil, que agora está tão próspero que está sendo cogitado para ajudar a salvar a Europa. Entre 2003 e 2009, a parcela da população brasileira que vivia com 2 dólares por dia ou menos caiu de 22% para 7%, segundo o Banco Mundial, cujos empréstimos deram apoio aos programas antipobreza do Brasil. Mas, o segundo maior país da região, o México, também se recuperou de uma forte recessão em 2009 -- o Grupo Econômico Wells Fargo de Valores Mobiliários prevê que a economia mexicana crescerá 4,3% em 2012, o dobro do previsto para os EUA. A desigualdade também cedeu na região. De maneira notável, o México, assim como outro amigo dos EUA [o velho estilo artificialmente paternalista e amistoso dos americanos se referirem a seus vizinhos do rio Grande para baixo ...], a Colômbia, mantiveram suas economias em movimento apesar de lutar contra a violência associada ao tráfico de drogas.
Obviamente, nem tudo está perfeito na América Latina. Cuba ainda está estagnada [por culpa de quem?...], e a Venezuela de Hugo Chávez está sob o peso do crime e da inflação. Milhões de latino-americanos envolvidos com agricultura e emprego urbano informal têm ainda que se beneficiar com o crescimento econômico. Alguns países latino-americanos permanecem dependentes dos preços de commodities -- a farra comprista de matéria prima da China os têm mantido à tona, mas provavelmente não pode durar para sempre.
Mas, as tendências básicas são positivas -- muito mais do que muitos teriam previsto com base nos apertos da região no fim dos anos 1980s. A América Latina está colhendo os frutos da reforma, da abertura, e do trabalho duro. Há nisso uma lição para o mundo todo.
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