"Estima-se que 15% da população argelina foram massacrados pelos franceses a partir de 1945. Trata-se de um genocídio", acusou Erdogan durante uma conferência em Istambul, aludindo às violências quando do movimento de independência da Argélia do domínio francês entre 1945 e 1962. "Se o presidente francês, o Sr. Sarkozy, não sabe que houve um genocídio, pode perguntar a seu pai Pal Sarkozy (...) que era legionário na Argélia nos anos 1940", acrescentou. "Estou certo de que ele tem muito a contar a seu filho sobre os massacres cometidos pelos franceses na Argélia".
"Nunca fui à Argélia, nunca fui além de Marselha. E estive quatro meses na Legião", reagiu entretanto Pal Sarkozy em entrevista à cadeia de televisão francesa BFMTV. "Basta comprar meu livro "Tante de vie" [algo como "Tanta vida"] por Pal Sarkozy, ali estão todos os documentos, então é completamente ridículo", prossegiu.
Erdogan chegou mesmo a afirmar que "os argelinos foram queimados coletivamente em fornos, foram martirizados impiedosamente". - "O presidente francês Sarkozy começou a buscar ganhos eleitorais utilizando o ódio aos muçulmanos e aos turcos", declarou ainda o chefe do governo islâmico-conservador turco. "Essa votação que ocorreu na França, uma França onde vivem cerca de cinco milhões de muçulmanos, mostrou claramente a que ponto o racismo, a discriminação e a islamofobia alcançaram dimensões perigosas na França e na Europa", descarregou ele.
A Assembleia Nacional francesa votou, na quinta-feira, um projeto de lei que pune com um ano de prisão e uma multa a contestação do genocídio armênio de 1915-1917, provocando a cólera de Ancara, que contesta como sendo genocídio os massacres ocorridos nos últimos anos do império otomano. Na sequência dessa votação, a Turquia chamou de volta seu embaixador na França e anunciou o congelamento da cooperação política e militar entre os dois países, que no entanto são aliados dentro da OTAN.
Essas sanções contra a França não afetam o intercâmbio comercial ou a atividade das empresas francesas na Turquia, mas Erdogan advertiu que poderiam ocorrer aí várias outras medidas contra a França. O comércio bilateral atingiu 12 bilhões de euros em 2010, e várias empresas francesas atuam na Turquia.
Paris, por seu lado, tentou acalmar os ânimos, face à virulência da reação dos turcos, feridos em seu orgulho nacional, de acordo com os comentários da imprensa. "Respeito as convicções de nossos amigos turcos, são um grande país, uma grande civililização, eles precisam respeitar as nossas [convicções]", declarou o presidente Sarkozy em Praga, onde assistia ao funeral do ex-presidente tcheco Vaclav Ravel. "A França não dá lições a ninguém, mas não aceita lições", disse também Sarkozy.
"Penso que a iniciativa não era oportuna, mas o Parlamento a votou. (...) Tentemos agora retomar relações pacíficas. Será difícil, tenho consciência disso, mas o tempo fará seu trabalho", reagiu por seu lado o ministro do Exterior francês, Alain Juppé.
[A França tem telhado de vidro com relação à Argélia, e seus deputados deveriam ter pensado nisso antes de atacar os turcos, que também têm culpa no cartório no caso da matança de armênios. Mas, isso não dá nenhum direito aos franceses de bancarem a palmatória do mundo].
O primeiro-ministro turco Tayyip Erdogan em Ancara, no dia 22/12/11 - (Foto: Adem Altan/AFP).
O embaixador turco em Paris (à esq.) com o presidente da Comissão de Assuntos Estrangeiros da Assembleia turca no dia 20/12/11 em Paris - (Foto: Bertrand Guay/AFP).
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