O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, afirmou que a Europa precisará mudar seu tratado no futuro, de modo que as decisões possam ser impostas aos governos da zona do euro. "O tratado
deve ser mudado para impedir que um membro da zona do euro se perca e
crie problemas para todos os outros", informou ele à estação de rádio
francesa Europe 1 após uma reunião de ministros de Finanças e
representantes dos bancos centrais das 20 maiores economias do mundo
(G-20). "Para isso, é necessário, inclusive, que se possa impor
decisões". Trichet, cujo mandato de oito anos à frente do BCE terminará em 31 de
outubro, disse que o atual processo de sanções e recomendações para os
países da zona do euro não é suficiente.
O G-20 informou em um comunicado divulgado ontem, no final da reunião de
dois dias, que aguarda um plano abrangente prometido pela zona do euro
para sanar sua crise de dívida soberana que já dura dois anos, incluindo
uma solução para os problemas gregos, a recapitalização dos bancos e o
fortalecimento do fundo de resgate de 440 bilhões de euros.
Segundo o presidente do BCE, a Europa se tornou a linha de frente da
defesa contra a desaceleração do crescimento econômico. As decisões que
os governos precisarão tomar como parte do abrangente pacote são "muito
difíceis", mas Trichet espera que eles "mostrem determinação" quando a
UE apresentar seu plano à cúpula de chefes de Estado do G-20, em Cannes,
no começo de novembro. "A situação é claramente muito exigente, particularmente para os
europeus", disse ele. "O epicentro foi nos Estados Unidos depois da
crise hipotecária e do colapso do Lehman Brothers. Hoje, a crise atinge
mais países, com o epicentro na Europa", disse ele.
Embora dados recentes para os nove primeiros meses do ano mostrem que
provavelmente haverá crescimento, os europeus devem estar prontos para
qualquer coisa, alertou Trichet. "Do ponto de vista do crescimento, a
situação nos obriga a estar prontos para todos os eventos." Todos os
países da zona do euro, sem exceção, devem estar "extremamente
vigilantes e cautelosos." As informações são da Dow Jones.
[A história se repete, é preciso ocorrer uma crise de grandes proporções para que certas verdades aflorem e medidas corretivas sejam adotadas -- o problema é saber se tais medidas foram ou serão tomadas a tempo, antes que seja tarde demais. Hoje fica claro e cristalino, como o próprio presidente do Banco Central Europeu reconhece, que é preciso impor controles para impedir que a libertinagem econômico-financeira e a anarquia fiscal continuem a imperar na União Europeia (UE). Se, por si só, já é muito difícil a coexistência de economias tão díspares em dimensões e potencialidades como no caso da UE, isso fica ainda mais problemático quando essa coexistência se processa sem o mínimo controle sistemático e rígido do comportamento econômico, financeiro e fiscal dos países que compõem a UE. O que a Grécia vinha fazendo -- apenas para tomar o pior caso -- era absolutamente irresponsável, e ninguém na UE (a começar pelo seu BCE) se preocupou em policiá-la e alertá-la a tempo e a hora. Agora, a Europa e o mundo pagam por esse desleixo.]
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